O medicamento originalmente destinado a diabetes, Ozempic, se tornou um sucesso global ao ser descoberto como um mecanismo pra tratar sobrepeso e obesidade, gerando bilhões de dólares em vendas anuais.
Seu princípio ativo é inspirado em um hormônio que regula açúcar no sangue encontrado no veneno do monstro-de-gila, um lagarto nativo dos desertos da América do Norte. Pesquisas sobre a substância exendina-4, presente no veneno do lagarto, resultaram no desenvolvimento da semaglutida, princípio ativo do Ozempic.
Agora, um cientista quer retribuir o favor da natureza: ele está tentando salvar um monstro-de-gila chamado Pebbles, infectado por um parasita letal.
Residente do Creature Conservancy, uma organização de educação ambiental em Michigan, Pebbles foi diagnosticado com uma infecção pelo protozoário Cryptosporidium, conhecido por colonizar o trato digestivo e ser fatal para répteis. Um veterinário recomendou a morte induzida, mas a instituição buscou alternativas.
O químico farmacêutico Tim Cernak, da Universidade de Michigan, aceitou o desafio. Ex-pesquisador da gigante farmacêutica Merck, ele desenvolveu medicamentos para câncer, HIV e diabetes antes de fundar um novo campo de estudo: a “química da conservação”, que busca criar fármacos para tratar animais e plantas ameaçadas.
No laboratório, sua equipe analisou amostras do parasita retiradas de Pebbles e descobriu que ele possuía uma camada protetora inesperada, dificultando a ação de medicamentos convencionais. Enquanto isso, o grupo também testava tratamentos para a quitridiomicose, uma doença fúngica que dizima populações de anfíbios.
Sem financiamento específico para o caso de Pebbles, Cernak utilizou inteligência artificial para revisar estudos sobre Cryptosporidium e identificar um medicamento utilizado em animais de fazenda como possível solução. Administrado ao lagarto em doses disfarçadas em ratos e codornas mortos, o fármaco não causou efeitos colaterais até o momento, mas levará meses para se saber se ele foi eficaz.
O caso de Pebbles destaca um dilema crescente na ciência: enquanto substâncias naturais inspiram medicamentos humanos, seu retorno para a conservação de espécies ainda enfrenta desafios regulatórios e financeiros. Mesmo assim, Cernak está determinado a continuar sua missão. “Se não der certo, tentaremos novamente”, afirmou ao New York Times.
Fonte: Um Só Planeta