Cientistas investigaram como a monogamia (união exclusiva de um macho com uma fêmea) evoluiu em algumas espécies de mamíferos, e as causas encontradas não são nada românticas. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que a ameaça aos filhotes foi o principal motivo para seres humanos e outros primatas adotarem a prática.
“O romance obviamente veio depois da monogamia”, disse o principal autor da pesquisa, Christopher “Kit” Opie, do University College de Londres (UCL). Para ele, o achado põe fim a um longo debate sobre a origem da monogamia entre os primatas.
O estudo – feito pelo UCL, pela Universidade de Manchester e pela Universidade de Oxford, no Reino Unido; e pela Universidade de Auckland, na Austrália – é o primeiro a revelar o caminho evolutivo de como muitos pares na natureza vivem atualmente. A descoberta foi publicada na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS) de segunda-feira (29).
Segundo os cientistas, que coletaram dados genealógicos e comportamentais de 230 espécies de primatas, a ameaça aos bebês por outros machos fez com que muitos casais aderissem à monogamia.
A equipe também descobriu que, após o surgimento desse vínculo de fidelidade, os machos ficaram mais propensos a ajudar nos cuidados com a prole – o que encurtou o período de dependência infantil e permitiu que as fêmeas se reproduzissem de novo mais rapidamente, gerando um maior número de filhotes.
Além disso, as exigências cognitivas de viver em sociedades complexas resultaram em cérebros maiores e mais “caros”, que amadurecem lentamente. Esses filhotes inteligentes então se tornaram extremamente “preciosos”, e não poderiam ser desperdiçados por qualquer perigo em volta.
Os seres humanos são os únicos animais que têm uma infância longa e uma mãe que pode se reproduzir rapidamente após dar à luz, em comparação com outros grandes primatas, como gorilas e orangotangos.
Outra explicação
Um segundo estudo sobre monogamia, publicado no site da revista “Science” de segunda-feira, concluiu que o maior benefício da prática está em manter a fidelidade dos parceiros.
Os zoólogos Dieter Lukas e Tim Clutton-Brock, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, examinaram a estrutura social de 2.545 espécies de mamíferos, das quais menos de 9% são socialmente monogâmicas. Entre os primatas, essa porcentagem sobe para 25%. Alguns animais, como os gibões, são altamente fiéis, enquanto outros, como os chimpanzés, são extremamente promíscuos.
Ao contrário da primeira pesquisa, esses cientistas concluíram que impedir o infanticídio era algo com pouca ou nenhuma influência para o surgimento da monogamia entre mamíferos como micos, saguis, castores, lobos, chacais, antílopes e suricatos.
Esse comportamento, na verdade, teria surgido quando as fêmeas começaram a se espalhar por grandes territórios e apresentar tolerância zero frente a invasões de fêmeas concorrentes. Isso deixava os machos quase sem opção a não ser manter a mesma parceira, abrindo mão das outras, porque as fêmeas também estariam expostas aos galanteios dos rivais.
“A monogamia surgia quando proteger uma só fêmea era a melhor estratégia reprodutiva de um macho”, disse Clutton-Brock.
Fonte: G1