A gente aqui, defensores dos animais, sempre fala muito dos visíveis e palpáveis.
Os gorilas, os cachorros, os gatos, até (por defesa própria) dos fedidos gambás. Mas não só os irmãos maiores e peludinhos que nos podem ensinar um caminho de vida, uma trilha filosófica e biológica para reforçar nossa convicção de que estamos todos juntos nesta luta, inglória, sofrida e gratificante, por todos os seres vivos e pelo mais vivo organismo de nossa galáxia, a menosprezada Terra.
Vamos, então, ao microscópio mais próximo para aprender.
Olhemos, bem ampliado, afinal ele só tem 0.1 milímetro, o Demodex Brevis.
Esse pequeníssimo ácaro, mora onde?
Aí não precisa de microscópio, só de espelho.
Nas suas, nas minhas, sobrancelhas e cílios.
A noite ele sai e passeia por nosso rosto, porque não gosta de luz do sol
O Demodex não tem cúzinho, pasmem.
Ele aproveita integralmente tudo que come (nossas células mortas, nossos sebos), é um lixeiro reciclador em tempo integral.
Tem oito pés e é meio viadinho e meio lésbica, dependendo da necessidade ele muda de sexo e bota ovos.
Como puro e límpido fruto das evoluções e caprichos da mãe natureza, só tem uma coisa que ele nunca faz nem fará: destruir seu meio-ambiente.
Ao contrário, ele cuida e preserva de nossas pestanas e demais detalhes pilosos como se fossem sua casa e universo.
Putz, fiquei pensando, se até um artrópode parasita, ridiculamente pequeno, consegue compreender que sua vidinha depende do meio-ambiente, como nós, bem mais grandões e pensantes, não conseguimos?
Nós humanos, é só ver os telejornais, vamos explodir nossas sobrancelhas (planeta) e cílios (ar, terra e mar) em nome de deuses ou dinheiro.
Se pudéssemos perguntar ao Demodex acho que ele só teria uma resposta: vocês são ignorantes demais.
Ulisses Tavares é igual um demodex brevis em ponto maior e piorado. Coisas de poeta.