Hoje, os restos de Ming são estudados para compreender as mudanças climáticas desde o século XVI, e o molusco que viveu mais do que qualquer humano conhecido foi silenciado justamente por quem deveria aprender com sua resistência.
Ming, um molusco bivalve islandês da espécie Arctica islandica, viveu silenciosamente por mais de meio milênio nas águas frias do Atlântico Norte. Sobreviveu a guerras, pandemias e à própria transformação do planeta. Mas não resistiu à curiosidade humana, foi morto por cientistas durante uma pesquisa que buscava entender justamente o segredo de sua longevidade.
O molusco, apelidado de Ming por ter nascido na época da dinastia chinesa homônima, tinha 507 anos quando foi aberto em laboratório. A morte ocorreu durante o processo de medição de sua idade, os pesquisadores decidiram abrir sua concha para contar os anéis de crescimento, procedimento fatal para o animal.
Em nome da ciência e do avanço do conhecimento, a vida de um animal que carregava em si uma história de meio milênio foi tirada. O valor simbólico e ético da existência de Ming parece ter sido ignorado diante da busca por precisão científica.
A justificativa para o ato foi a de abrir a sua concha, com o objetivo declarado de estudar detalhadamente a espécie e precisar a sua idade, que era inicialmente calculada em 405 anos. A confirmação posterior dos 507 anos, obtida através da reanálise de dados e datação por carbono-14, veio, portanto, às custas da vida que pretendiam mensurar.
A ciência, que tanto poderia aprender observando Ming em seu estado natural, optou pela via mais destrutiva e irreversível.