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DESINFORMAÇÃO

Militares brasileiros eram donos de páginas no Facebook para desacreditar desmatamento na Amazônia

Controladoria de redes sociais, descobrem perfis falsos sobre desinformação ambiental

14 de abril de 2022
Marlen Couto e André de Souza
4 min. de leitura
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Uma das postagem da conta NaturAmazon destaca o papel da os militares no combate ao desmatamento e os perigos da desinformação online Foto: Reprodução / Graphika

RIO e BRASÍLIA — A Meta, empresa controladora das redes sociais Facebook e Instagram, anunciou nesta quinta-feira que derrubou uma rede de perfis falsos com a participação de militares brasileiros para desacreditar as notícias sobre desmatamento na Amazônia e atacar organizações ambientalistas que atuam na região. A empresa informou em um relatório de transparência sobre ameaças nas plataformas ter removido no mês passado 14 perfis e nove páginas no Facebook, além de 39 contas no Instagram.

Dados sobre a rede foram compartilhados com a consultoria em redes sociais Graphika para uma análise independente e mais detalhada. O caso brasileiro é apontado pela Meta como exemplo de “comportamento inautêntico coordenado”, quando há objetivo de ocultar a identidade da organização por trás das publicações. O relatório também traz informações sobre redes derrubadas no Azerbaijão, Rússia, Ucrânia, Irã, Costa Rica e nas Filipinas.

“Nós descobrimos essa rede como um resultado da nossa investigação sobre comportamento inautêntico coordenado suspeito. Embora as pessoas por trás disso tenham tentado esconder suas identidades e coordenação, nossa investigação descobriu laços com indivíduos ligados às Forças Armadas brasileiras”, diz trecho do relatório.

A investigação apontou dois militares responsáveis pelas páginas. Suas identidades não foram reveladas. Ambos estavam na ativa em dezembro de 2021, segundo dados do Portal da Transparência, e iniciaram suas carreiras em 2012 e 2014. Foi possível identificar quatro perfis pessoais desses militares, o que permitiu apontar sua ligação com o Exército. Os dois homens postaram fotos no Facebook em que aparecem com uniforme militar, e parentes parabenizaram em postagens conquistas em cursos de treinamento do Exército. A Graphika afirma que não conseguiu determinar suas funções específicas no Exército, mas diz acreditar que ambos têm postos ligados à cavalaria.

Segundo o documento, a rede de perfis falsos se originou no Brasil e mirava o público brasileiro. Ela começou a funcionar em 2020, abordando questões políticas, como reforma agrária e a pandemia de Covid-19. A atividade, porém, foi deixada de lado por alguns meses, tendo alcançado pouco engajamento. Em 2021, foram criadas páginas de organizações não-governamentais (ONGs) falsas focadas em questões ambientais na Amazônia. Segundo o documento, a rede somava 1.170 seguidores de uma ou mais páginas no Facebook, e 23.600 no Instagram. Para tentar ganhar credibilidade, os perfis compartilhavam conteúdo da grande mídia e da ONG Greenpeace.

“Eles faziam publicações sobre desmatamento, inclusive alegando que nem tudo é nocivo, e criticando ONGs ambientais legítimas que se pronunciavam contra o desmatamento na Amazônia”, indica o relatório.

Uma dessas páginas de ONGs inexistentes era a NaturAmazon, apontada como a conta mais elaborada da rede. Trata-se de um perfil com 6.650 seguidores no Instagram e atuação entre maio e setembro de 2021. A contava alegava ser de um grupo independente que busca aumentar a conscientização sobre a importância de preservação. A maioria das postagens mostrava fotos de animais selvagens, paisagens, fotos da floresta Amazônica e infográficos com temas ambientais. A página promovia uma narrativa central sobre a necessidade de proteger a floresta tropical e sua biodiversidade, regularmente elogiando os esforços do governo para combater o desmatamento. As postagens afirmavam, por exemplo que o Brasil é líder global na proteção ambiental e incluiu alegações contestadas de que o governo e o Exército brasileiros foram bem sucedidos no combate ao desmatamento.

Uma postagem do perfil O Fiscal das ONGs alega que altos executivos de ONGs ambientais estão embolsando dinheiro arrecadado para proteger populações indígenas Foto: Reprodução / Graphika

Outro caso relevante é o do perfil Fiscal das ONG’s, que se apresentava como um “serviço ambiental” que compartilharia “a verdade que ninguém fala sobre ONGs no Brasil”. A conta tinha 7 mil seguidores e parou de fazer postagens em setembro de 2021. Segundo a investigação, a conta mirava grupos locais e organizações internacionais e acusava altos executivos da ONGs de desvio de dinheiro arrecadado para ajudar povos indígenas na Amazônia, e de manipular dados sobre tendências de desmatamento para servir a interesses estrangeiros e “promover a desinformação no país”.

Duas postagens reproduziam falas do senador Plínio Valério (PSDB-AM) sobre supostamente ter evidências de que ONGs querem comprar terras na Amazônia para atender a interesses estrangeiros. Várias postagens na conta do Instagram incluíam ainda trechos do filme “Cortina de Fumaca”, da produtora conservadora Brasil Paralelo, classificado como “conspiratório” pela Graphika.

Fonte: Globo

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