RIO e BRASÍLIA — A Meta, empresa controladora das redes sociais Facebook e Instagram, anunciou nesta quinta-feira que derrubou uma rede de perfis falsos com a participação de militares brasileiros para desacreditar as notícias sobre desmatamento na Amazônia e atacar organizações ambientalistas que atuam na região. A empresa informou em um relatório de transparência sobre ameaças nas plataformas ter removido no mês passado 14 perfis e nove páginas no Facebook, além de 39 contas no Instagram.
Dados sobre a rede foram compartilhados com a consultoria em redes sociais Graphika para uma análise independente e mais detalhada. O caso brasileiro é apontado pela Meta como exemplo de “comportamento inautêntico coordenado”, quando há objetivo de ocultar a identidade da organização por trás das publicações. O relatório também traz informações sobre redes derrubadas no Azerbaijão, Rússia, Ucrânia, Irã, Costa Rica e nas Filipinas.
“Nós descobrimos essa rede como um resultado da nossa investigação sobre comportamento inautêntico coordenado suspeito. Embora as pessoas por trás disso tenham tentado esconder suas identidades e coordenação, nossa investigação descobriu laços com indivíduos ligados às Forças Armadas brasileiras”, diz trecho do relatório.
A investigação apontou dois militares responsáveis pelas páginas. Suas identidades não foram reveladas. Ambos estavam na ativa em dezembro de 2021, segundo dados do Portal da Transparência, e iniciaram suas carreiras em 2012 e 2014. Foi possível identificar quatro perfis pessoais desses militares, o que permitiu apontar sua ligação com o Exército. Os dois homens postaram fotos no Facebook em que aparecem com uniforme militar, e parentes parabenizaram em postagens conquistas em cursos de treinamento do Exército. A Graphika afirma que não conseguiu determinar suas funções específicas no Exército, mas diz acreditar que ambos têm postos ligados à cavalaria.
Segundo o documento, a rede de perfis falsos se originou no Brasil e mirava o público brasileiro. Ela começou a funcionar em 2020, abordando questões políticas, como reforma agrária e a pandemia de Covid-19. A atividade, porém, foi deixada de lado por alguns meses, tendo alcançado pouco engajamento. Em 2021, foram criadas páginas de organizações não-governamentais (ONGs) falsas focadas em questões ambientais na Amazônia. Segundo o documento, a rede somava 1.170 seguidores de uma ou mais páginas no Facebook, e 23.600 no Instagram. Para tentar ganhar credibilidade, os perfis compartilhavam conteúdo da grande mídia e da ONG Greenpeace.
“Eles faziam publicações sobre desmatamento, inclusive alegando que nem tudo é nocivo, e criticando ONGs ambientais legítimas que se pronunciavam contra o desmatamento na Amazônia”, indica o relatório.
Uma dessas páginas de ONGs inexistentes era a NaturAmazon, apontada como a conta mais elaborada da rede. Trata-se de um perfil com 6.650 seguidores no Instagram e atuação entre maio e setembro de 2021. A contava alegava ser de um grupo independente que busca aumentar a conscientização sobre a importância de preservação. A maioria das postagens mostrava fotos de animais selvagens, paisagens, fotos da floresta Amazônica e infográficos com temas ambientais. A página promovia uma narrativa central sobre a necessidade de proteger a floresta tropical e sua biodiversidade, regularmente elogiando os esforços do governo para combater o desmatamento. As postagens afirmavam, por exemplo que o Brasil é líder global na proteção ambiental e incluiu alegações contestadas de que o governo e o Exército brasileiros foram bem sucedidos no combate ao desmatamento.
Outro caso relevante é o do perfil Fiscal das ONG’s, que se apresentava como um “serviço ambiental” que compartilharia “a verdade que ninguém fala sobre ONGs no Brasil”. A conta tinha 7 mil seguidores e parou de fazer postagens em setembro de 2021. Segundo a investigação, a conta mirava grupos locais e organizações internacionais e acusava altos executivos da ONGs de desvio de dinheiro arrecadado para ajudar povos indígenas na Amazônia, e de manipular dados sobre tendências de desmatamento para servir a interesses estrangeiros e “promover a desinformação no país”.
Duas postagens reproduziam falas do senador Plínio Valério (PSDB-AM) sobre supostamente ter evidências de que ONGs querem comprar terras na Amazônia para atender a interesses estrangeiros. Várias postagens na conta do Instagram incluíam ainda trechos do filme “Cortina de Fumaca”, da produtora conservadora Brasil Paralelo, classificado como “conspiratório” pela Graphika.
Fonte: Globo