Um despejo de esgoto devastador pode ter contribuído para uma proliferação mortal de algas, dizem residentes.
Centenas de toneladas de vida marinha morta chegaram e espalharam um fedor pútrido ao longo das praias da Flórida nas semanas recentes entre uma onda tóxica de maré vermelha espalhando em suas águas.
Thomas Patarek vive apenas a meia milha de distância da hidrovia.
“ Quando eu passeio com o meu cachorro de manhã, eu posso sentir o cheiro de peixe morto”, ele disse ao The Guardian. “ Eu posso sentir a maré vermelha na minha garganta”.
Enquanto as marés vermelhas ocorrem naturalmente no Golfo do México, especialistas têm medo que um grande florescimento seja iminente depois de uma violação tóxica na planta de fosfato no Point Piney no final de maio. Com o objetivo de evitar um colapso devastador no reservatório local- que guarda alguns 480 milhões de galões de águas residuais – oficiais do estado bombearam águas residuais fora do reservatório e em contêineres de armazenamento e um porto marítimo local, de acordo com the Tampa Bay Times. Na terça, a agência de meio ambiente do estado entrou com uma ação contra o proprietário de uma antiga indústria de mineração sobre a violação. “ Hoje, o departamento deu um passo fundamental para assegurar que esse seja o capítulo final para o site Piney Point”, de acordo com um comunicado da secretaria da agência.
O derramamento massivo ameaçou residentes próximos com uma parede de 20 pés de água e resultou na evacuação dos residentes próximos e comércios. Especialistas agora acreditam que a água residual que era despejada no Port Manatee, que deságua na Tampa Bay, poderia estar fornecendo uma buffet de nutrientes para se banquetear, o que poderia ter causado um surgimento de algas. Águas quentes relacionadas com a mudança climática também estão fazendo as marés vermelhas piores, de acordo com especialistas.
Paterek é o presidente do Suncoast Surfrider – uma instituição sem fins lucrativos que trabalha para proteger os oceanos e praias do estado. No começo desse mês, ele recebeu uma ligação frenética de um amigo e dono de um negócio de stand up paddle que estava em lágrimas ao ver os peixes mortos na praia.
Uma comunidade se reuniu ao redor desse choro, mas uma resposta coordenada de estado tem sido lenta. Até aqui, o estado deu $1m para esforços de limpeza para os peixes mortos pela maré vermelha. Patarek e o seu grupo organizaram um protesto pedindo ao governador do estado, o republicano Ron DeSantis, para declarar um estado de emergência que poderia liberar mais recursos para limpar a baía entupida de peixes. O conselho municipal de São Petersburgo, uma das áreas mais afetadas pelo flagelo, também pressionou por uma declaração de estado de emergência para coordenar uma resposta estadual e federal.
DeSantis não tem sido receptivo às apelações deles. Enquanto o governador discute se declarar estado de emergência atrapalharia o turismo pelo estado, residentes foram deixados para lidar com o dano, e alegam que o surgimento de algas é uma crise ecológica massiva que poderia ter sido evitada.
“Nós precisamos de uma resposta mais forte, para que possamos funcionar. É um problema de qualidade de vida”, Patarek disse. “ Nós temos um pescador comercial, donos de negócios e pessoas que vivem perto da água que dizem que nunca viram qualquer coisa como essa”.
Curt Hemmel fundou a Companhia Bay Shellfish, o maior incubatório de bivalves, em 1996. “ Baseado nos nossos 25 anos de experiência na área, e conhecendo com as marés vermelhas agem em Tampa Bay. Estou completamente confiante de que a atual floração da maré vermelha é mais excessiva graças ao Piney Point.”, Hemmel disse, acrescentou que o florescimento da maré vermelha quase nunca acontece tão cedo no verão.
Em junho, cientistas e autoridades ambientais estatais minimizaram a severidade da maré vermelha e o seu link ao derramamento. “ Eu não acho que a maré vermelha é originada como consequência do Piney Point”, Tom Frazer, ex-diretor de ciências da Flórida, disse em uma mesa redonda realizada pelo governador. O comunicado da imprensa recapitulando a discussão não fez qualquer menção ao derramamento de Piney Point.
Mas alguns residentes discutem que o estado falhou em prevenir o desastre em Piney Point que causou ou que no mínimo intensificou a proliferação de algas nocivas e não está fazendo nada para prevenir o próximo.
“ Para as pessoas que viveram nessa área por 30, 40, 50 anos, todos eles disseram que essa é a pior maré vermelha que eles já experimentaram. “ Nós sabíamos o que esse derramamento teria feito se não fosse propriamente limpo e gerenciado”, disse Patarek. “Nós sabemos que [ águas residuais] alimentam a proliferação de águas prejudiciais. O que estamos mais frustrados é o aspecto de prevenção e nós estamos esperando por alguém no nível estadual que intensifique, e responsabilize esses poluidores corporativos.
“ Se nós continuarmos surtos de maré vermelha, isso certamente gerará um impacto maior na economia da Flórida e do bem-estar das comunidades costeiras”, disse Glenn Compton de Mana-Sota 88, um vigilante ambiental crítico da indústria de fosfato.
As mortes dos peixes estão ocorrendo em um dos habitats marinhos mais sensíveis e produtivos do estado, que é casa para várias espécies ameaçadas de extinção e em perigo: Bishop Harbor, que é parte da Terra Ceia Aquatic Buffer Preserve. Enquanto os peixes mortos foram em grande parte limpos graças aos esforços da comunidade local, Compton disse que “a resposta [do governo] é bem decepcionante”.
No começo desse mês, grupos conservacionistas processaram o governador e outros reguladores da Flórida, na esperança de responsabilizar o estado. O processo defende que Piney Point é uma ameaça em processo para a saúde pública assim como uma ameaça para ecossistemas marinhos e espécies protegidas. Os grupos pediram um juiz federal para supervisionar a limpeza, fechamento e investigação da planta. “O desastre de Piney Point é a prova A em uma longa lista de falhas da Flórida em proteger a nossa água e vida selvagem dos danos do fosfogesso”, Jaclyn Lopez do Centro para Diversidade Biológica disse ao comunicado de imprensa.
Algas produzem toxinas que matam peixes e outras vidas marinhas, deixando pescadores sem trabalho e lojas de pesca sem clientes. Em meados de julho, com hordas de peixes mortos amontoando-se nas margens, o estado impôs restrições à pesca de cantarilho, truta e robalo. As novas diretrizes vieram alguns meses depois de o estado ter suspendido os limites de pesca estabelecidos em 2018, durante o último grande florescimento de algas.
Essas restrições – que instruem pescadores recreativos e pescadores de linha de anzol a capturar e soltar essas espécies icônicas de peixes – destinam-se a limitar o impacto dos surtos e manter a pesca em funcionamento durante os eventos de maré vermelha.
Mas Hemmer diz que essas medidas não são o suficiente para manter a indústria de pesca, que já está machucando, à tona. Ao invés, ele diz, “O governador poderia declarar essa maré vermelha como uma emergência ambiental e liberar fundos para pessoas prejudicadas por esse evento. Certamente, a comunidade agrícola e pesqueira gostaria de ver isso”.
Hemmel disse que o seu negócio de mariscos ainda pode produzir produtos através de seu incubatório, mas outros animais, como vieiras, que morreram rapidamente graças a maré vermelha Frankestein. “ Todas as espécies de moluscos que são cultivadas, [nós] não somos capazes de colher”, ele disse ao the Guardian, adicionando que ele acredita que a maré vermelha “ criou um impacto negativo para as nossas outras produções de moluscos, como pequenos moluscos são extremamente sensíveis para o status ambiental”.
Os donos de negócios locais têm medo que o florescimento desse ano seja similar ao de 2018, quando uma massiva maré vermelha se espalhou ao longo do sudoeste da Flórida, matando a vida marinha e custando às empresas milhões de dólares em dólares de turismo perdidos. “ Foi a pior maré. Nós ficamos fechados praticamente o ano inteiro por causa dela”, Hemmel disse.
A planta de fosfato Piney Point continua sendo uma ameaça ecológica. Há ainda centenas de milhões de galões de águas residuais de mineração de fosfato contidas no local que podem escoar para as águas da Flórida, de acordo com Justin Bloom dos Suncoast Waterkeepers, uma organização sem fins lucrativos dedicado a proteger os cursos de água da Flórida.
Por enquanto, a maré vermelha persiste; o dado de amostragem mais recente do estado mostra altos níveis da bactéria que causa o florescimento. “ Estamos prestes a ter um verão difícil. Eu acho que isso ficará muito pior antes de melhorar”, disse Compton.