Cientistas alertam que o aumento das temperaturas e as rápidas mudanças no uso da terra podem remodelar os habitats da vida selvagem mais rapidamente do que o previsto. Uma análise liderada pela Universidade de Oxford adverte que até 7.895 espécies de vertebrados terrestres podem perder todo o habitat adequado até 2100.
O projeto analisou o calor extremo e as mudanças no uso da terra, convertendo áreas naturais em fazendas e cidades, para verificar quando os habitats deixam de funcionar.
Como o calor molda a vida selvagem
O trabalho foi liderado pela Dra. Reut Vardi, da Universidade de Oxford, que estuda o estresse climático na vida selvagem. Os pesquisadores mapearam onde vivem 29.657 espécies de anfíbios, aves, mamíferos e répteis e, em seguida, verificaram se as condições futuras permanecem dentro de seus limites.
Eles utilizaram cenários socioeconômicos, narrativas sobre decisões relativas à população, energia e terra, para comparar futuros com proteção contra outros com pressões mais severas.
“Isso reforça ainda mais a urgência de ações de conservação e mitigação em nível global para evitar imensas perdas à biodiversidade”, disse o Dr. Vardi.
Picos de calor e vida selvagem
A equipe considerou os eventos de calor extremo, períodos de calor intenso com duração superior a cinco dias, como momentos em que os animais enfrentam o maior estresse.
Para cada espécie, eles estimaram um máximo térmico, a temperatura máxima diária mais alta observada em sua área de distribuição, usando registros de 1950 a 2005.
Mesmo que as temperaturas médias subam lentamente, uma onda de calor pode causar desidratação, falha na reprodução e mortes repentinas em espécies sensíveis.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) constatou que o aquecimento causado pelo homem aumentou muitos extremos de temperatura desde os tempos pré-industriais.
Quando as ameaças se combinam
Os resultados apontam para efeitos sinérgicos, danos combinados maiores do que cada ameaça isoladamente, quando o calor atinge locais alterados para as pessoas.
No cenário mais otimista, as espécies ainda enfrentariam ambas as pressões em uma média de 10% de suas áreas de distribuição.
No cenário futuro mais adverso que eles modelaram, a espécie média apresentou condições inadequadas em 52% de sua área de distribuição.
O estudo contabilizou áreas adequadas, locais que atendiam às necessidades de habitat e clima, e demarcou células inadequadas assim que qualquer um dos fatores ultrapassasse um limite.
Regiões onde o risco se acumula
As condições mais quentes e com maior urbanização se sobrepuseram mais claramente no Sahel, em partes do Oriente Médio e no Brasil.
O rápido crescimento das fazendas e das cidades pode fragmentar o habitat em pedaços menores, e o calor pode tornar os pedaços restantes mais difíceis de usar.
A análise foi feita em quadrados de cerca de 24 km de largura, portanto mostra padrões gerais, mas não detecta abrigos em pequena escala.
Como a vida selvagem muitas vezes depende de sombra, água e tocas, o manejo local pode, por vezes, reduzir o estresse térmico mesmo em regiões de risco.