Pesquisadores descobriram resíduos de microplástico no estômago de macacos em uma das regiões mais bem preservadas da Amazônia brasileira. É a primeira vez que este tipo de registro é feito em um primata arborícola, ou seja, que passa sua vida na copa das árvores. A descoberta soou o alarme – mais um – sobre a necessidade urgente de conter a poluição plástica no planeta.
As vítimas do plástico foram dois guaribas-vermelhos (Aloautta juara), também chamados de bugio, nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá e Amanã, ambas no Amazonas. O achado foi feito ao acaso durante uma pesquisa liderada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá que buscava estudar a dieta dos macacos e a presença de parasitas.
O alerta foi feito em uma nota científica publicada no periódico EcoHealth no dia 22 de setembro, assinado por sete pesquisadores.
A pesquisa foi feita em parceria com caçadores locais – atividade permitida para a subsistência das comunidades que vivem nas duas RDS – que, entre 2002 e 2017, doaram ao Instituto as vísceras dos animais abatidos e que seriam normalmente descartadas. Os estômagos foram então analisados em laboratório. Ao todo foram examinados os conteúdos estomacais de 47 guaribas.
Em dois deles, caçados durante a cheia nas florestas alagadas, foram encontrados microplásticos – resíduos menores, de 1 a 5 milímetros. A ingestão de plástico por um animal que passou sua vida inteira em cima das árvores, comendo folhas e frutos, causou surpresa nos pesquisadores.
“Termos encontrado essas partículas plásticas no estômago de guaribas é preocupante. Nós já sabemos que a poluição plástica é algo muito difícil de controlar e encontrá-la na fauna silvestre, em um ambiente conservado, como o das reservas, acaba sendo mais um alerta. Especialmente quando a gente encontra essas partículas num animal arborícola, que não vai ter tantas oportunidades de contato com qualquer resíduo que possa ficar no solo da floresta”, comenta a pesquisadora do Instituto Mamirauá, Anamélia Jesus, que liderou o estudo.
Historicamente, os animais aquáticos – como peixes, aves marinhas e tartarugas – são as vítimas mais comuns da ingestão de plástico. Os pesquisadores acreditam que o regime de cheia e vazante dos rios amazônicos, que variam em média 10,6 metros na região, pode ter sido o caminho pelo qual o plástico chegou aos macacos.
“Toda essa dinâmica da água pode movimentar esses resíduos que podem ter sido jogados na própria água ou se acumulado na beira de rios, e com o nível da água subindo, isso pode chegar em animais que nem imaginávamos que poderiam ser afetados pelo plástico”, aponta Anamélia.
Os polímeros plásticos contém químicos que podem ter efeitos negativos na saúde de animais e causar problemas na reprodução, má nutrição e até levar à morte. Mais estudos são necessários para entender a extensão do impacto da contaminação nos primatas.
No caso dos guaribas, que fazem parte da alimentação local, a preocupação se estende às pessoas que se alimentam deles, assim como peixes e outros animais que também podem estar contaminados por plástico.
“Esses fragmentos plásticos podem ser ingeridos direta ou indiretamente por animais silvestres, pela cadeia alimentar, e representam riscos a toda saúde do ecossistema – e aos seres humanos”, alertam os pesquisadores na nota científica.
Fonte: O Eco