Uma segunda chance. Essa foi a mensagem, carregada de esperança, que resumiu a ação de soltura de quatro micos-leões-dourados – dois casais –, vítimas do tráfico e de maus-tratos, de volta à natureza nesta sexta-feira (08/08) no estado do Rio de Janeiro. Os micos-leões são macacos ameaçados de extinção que sofrem historicamente com o tráfico de animais silvestres. Os quatro soltos nesta sexta vieram de apreensões feitas no Suriname e no Togo, em 2023 e 2024, respectivamente. A soltura foi liderada pela Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) em conjunto com a Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF).
O mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) é uma espécie que vive apenas na Mata Atlântica do interior do estado do Rio de Janeiro. A soltura dos indivíduos recuperados do tráfico foi realizada no município de Macaé, mas o local exato não foi divulgado por questões de segurança.
A coordenadora do manejo e monitoramento da AMLD, Andreia Martins, bióloga que trabalha com a espécie há mais de 40 anos, foi uma das que celebrou o triunfo sobre o tráfico. “Essa é uma história incrível sobre a resistência desses pequenos macacos e de um esforço verdadeiramente global para garantir sua sobrevivência. Hoje, devolvemos dois casais de micos à sua Mata Atlântica nativa e demos uma segunda chance para que eles possam ajudar a garantir o futuro da sua espécie”, destaca a coordenadora.
Uma equipe de campo da AMLD acompanhará os primatas em sua readaptação à floresta. Os micos-leões se organizam em grupos baseados em um casal alfa e seus filhotes, portanto a expectativa é que cada um dos casais possa estabelecer seu território para prosperar.
Dois dos micos devolvidos à natureza vieram de uma apreensão realizada no Togo, país da costa leste do continente africano, em fevereiro de 2024. Os animais estavam num veleiro à deriva com 20 micos-leões-dourados, três já mortos, e 12 araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari), ambas espécies ameaçadas de extinção que só existem no Brasil. Os animais, todos debilitados, foram repatriados pelo governo brasileiro e os micos-leões foram destinados ao Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), onde receberam os cuidados de saúde necessários.
Já os outros dois vieram de uma apreensão no Suriname – país que pode estar no centro da rota do tráfico internacional de animais sul-americanos – dessa vez de um total de sete micos-leões-dourados e 29 araras-azuis-de-lear. Os animais foram repatriados pelo governo brasileiro em agosto de 2023. E os macacos seguiram para o Zoológico Municipal de Guarulhos, em São Paulo, onde receberam cuidados adequados.
Uma das fêmeas soltas já tem nome de guerra, literalmente, conta a veterinária do CPRJ, Silvia Bahadian. “Quando ela chegou no CPRJ, uma das fêmeas que foi solta hoje era uma das mais debilitadas. Ela ficou à beira da morte por dias. Demos a ela o apelido de guerreira, torcendo para que ela pudesse ser a primeira a reconquistar a liberdade”, conta a veterinária.
O secretário executivo da AMLD, Luís Paulo Ferraz, destaca o trabalho do governo brasileiro na repatriação dos animais, que estavam em solo estrangeiro, coordenando esforços com as embaixadas e enviando aviões para recuperar tanto os micos quanto as araras. “Esse gesto do Brasil foi muito significativo e simbólico. Mostra uma preocupação do país com sua fauna e deve ser profundamente valorizado, pois é uma ação concreta para repatriar animais da nossa fauna que estavam nas mãos do tráfico”, reforça.
Ele lembra ainda que o tráfico é uma ameaça histórica à conservação do mico-leão-dourado e que, depois de desacelerar com o início das ações de proteção à espécie, na década de 80, parece ter voltado com força nos últimos anos, vide as apreensões recentes. “E hoje ver esses animais retornando à floresta é o início de um processo que nos enche de orgulho e emoção”, completa.
Para selecionar os quatro micos aptos à voltarem para a natureza, dentre todos os apreendidos nos últimos anos, foram seguidos os critérios estabelecidos por especialistas do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação dos Primatas e Preguiças da Mata Atlântica, coordenado pelo ICMBio.
De acordo com o último censo realizado pela AMLD em 2023, há cerca de 4.800 micos-leões-dourados na natureza.
Fonte: O Eco