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Meu velhinho, meu filho, meu amor

30 de dezembro de 2011
2 min. de leitura
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Meu cachorrinho predileto está ficando bem velhinho.
Tive de tirar os pés da cama, pois estava alta demais para ele ir em seu lugar predileto: a cama de meus pés.
Na sala, foi mais fácil: coloquei almofadas para permitir sua subida nas poltronas.
Embora, volta e meia, ele lata e pede que o ajude a subir. Dá uma força aqui, pai!
A carinha dele continua de criança, mas cheia de pelos brancos.
Continuamos com o hábito de sermos vira-latas andarilhos. Só que agora meu personal dog vai devagarinho e de vez em quando tromba com um poste no caminho.
Algumas idiossincrasias se acentuaram: nunca foi sociável com outros cachorros, só com pessoas. Piorou.
Minha casa, que sempre foi de portas abertas para abrigar cachorros a espera de um lar, hoje vive trancada para peludinhos alheios. Deixo os sem teto peludinhos em casas de amigos cachorreiros.
Ele tem um ritual bem típico de idoso: no começo da noite, pede seus remédios. E dá-lhe colírio nos olhos para minorar a catarata, limpeza dos ouvidos, massagens na coluna com osteoporose. Adora, geme de satisfação.
Felizmente conto com minha namorada para fazer isso comigo. Namorada escolhida por ele, claro, porque não há mulher que agüente um escritor apaixonado por cães sem gostar de poesia e cachorros.
O fim se aproxima, é evidente, ele sabe, eu sei.
Quantos já se foram aos céus dos cachorrinhos? Perdi a conta, mas não as lembranças. Cada um é um pedacinho de mim, com seu nome, aventuras, malandragens e cheiros.
Daí a gente, eu e ele, fingimos que cada dia é um novo dia.
E abanamos os rabinhos de satisfação.
Ele me ensina, eu aprendo os truques de viver.
Ulisses Tavares cuida, direta ou indiretamente, de centenas de cães abandonados em abrigos. Mas tem um Ferinha Mel especial ainda a seu lado. Coisas de poeta.

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