Cães viram “heróis” ao doarem sangue para cachorrinhos que passam por algum tratamento de saúde, demanda que aumentou no RS após as enchentes de maio.
O Banco de Sangue Canino, mantido pelo Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (LACVet – UFRGS), “condecora” os animais que são doadores.
Cada bolsa de sangue pode salvar até três cães pequenos, de acordo com a médica veterinária Aline Moura, residente do laboratório.
“O amor da sua vida pode salvar o amor da vida de alguém”, relata a profissional.
As bolsas de sangue coletadas são processadas e utilizadas para auxiliar no tratamento de animais internados no Hospital de Clínicas Veterinária da universidade.
Um dos filhotes, apelidado de Intercap, resgatado das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no mês de maio, foi um dos beneficiados. O cãozinho, de aproximadamente cinco meses, do tutor Rafael Tonin, recebeu uma transfusão de sangue quando foi diagnosticado com uma infecção por anaplasma, uma bactéria transmitida por carrapatos que destrói as células vermelhas.
“Ele estava muito anêmico. Se a gente não fizesse uma transfusão de sangue, ele teria morrido, provavelmente. Essa bactéria continuava destruindo o pouco (de células vermelhas) que ainda tinha. Ele ia começar a ficar com a pressão baixa, porque não ia ter sangue circulando e poderia ter vindo a óbito”, conta o tutor.
Tonin, também residente no Hospital de Clínicas Veterinária, estava de plantão na emergência quando o Intercap e outros animais chegaram ao local durante as fortes chuvas que assolaram o RS.
Ao todo, mais de 12 mil animais foram resgatados até o início do mês de junho, de acordo com a Defesa Civil do estado.
Segundo o médico veterinário, o filhote apresentava uma condição debilitada e anemia severa logo que chegou. Além disso, também tinha fraturas no fêmur e na pélvis. O tempo de recuperação do cão permitiu que Rafael e Intercap criassem um vínculo de afeto.
“Todo mundo sempre falava que eu era muito parecido com ele, e eu me apeguei”, conta Rafael, que decidiu adotar o filhote depois do pós-operatório. “Ele foi meu paciente e hoje é membro da minha família”, diz.
Demanda após enchente
Inicialmente, o foco era atender apenas os pacientes do hospital veterinário. “A gente chamava algum doador para suprir uma necessidade mais interna”, explica Aline.
No entanto, este modelo se manteve até que o desastre natural alterou o cenário, levando a necessidade de uma grande demanda por bolsas de sangue canino para os animais resgatados. Muitos deles, ao serem retirados das águas, precisavam de transfusões para sobreviver.
“A gente começou a chamar bastante doador. No início da enchente a gente conseguiu muitos e, à medida que as coisas foram se ajeitando, captamos menos doadores. Na verdade, sempre foi um desafio essa captação de doadores, assim como também é na medicina humana”, comenta a médica veterinária.