O renomado meteorologista e pesquisador Carlos Nobre, de 74 anos, voltou a alertar sobre o ritmo notável do aquecimento global e os efeitos devastadores que ele pode causar nas próximas décadas. Em entrevista ao programa Roda Viva, exibido na noite de segunda-feira, 13, o cientista afirmou que, se a temperatura média do planeta ultrapassar 2 °C até 2050, o mundo enfrentará impactos irreversíveis, incluindo o colapso de ecossistemas fundamentais e a liberação maciça de gases do efeito estufa.
“A ciência mostra com clareza que, se a gente não rapidamente reduzir [as emissões] e deixar em 1,5 °C, chegamos em 2050 passando de 2 °C”, disse Nobre. “Alguns estudos apontam que pode chegar até 2,5 °C e a gente perde, até 2100, 70% da Amazônia”.
A projeção de Nobre vai além do limite estabelecido pelo Acordo de Paris, que busca conter o aquecimento global em 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Segundo o pesquisador, ultrapassar esse valor significa entrar em um ponto de não retorno climático, com consequências que se estenderão por séculos.
Preocupações
Um dos pontos mais preocupantes destacados por Nobre é o degelo acelerado do permafrost, o solo permanentemente congelado encontrado em regiões como a Sibéria, o norte do Canadá e o Alasca.
Com o aumento da temperatura global, esse solo começa a descongelar, liberando metano, um gás que é 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO₂) na retenção de calor. Esse processo, segundo o cientista, já está em curso — e tende a se intensificar.
“Os estudos mostram que, se a temperatura chegar a dois graus até 2100, vamos liberar mais de 200 bilhões de toneladas de gases do solo congelado”, alertou Nobre.
Esse efeito cria um ciclo vicioso: quanto mais o planeta aquece, mais permafrost descongela e mais gases são liberados, acelerando ainda mais o aquecimento global.
Além do permafrost, Nobre chamou atenção para os impactos sobre a Amazônia, que corre o risco de perder até 70% de sua cobertura florestal até o final do século. O colapso da floresta tropical, considerada o maior sumidouro de carbono terrestre do planeta, resultaria na liberação de grandes quantidades de CO₂ e na transformação da região em uma savana seca e degradada.
Segundo a CNN, o cientista também destacou o impacto sobre os ecossistemas marinhos, que já sofrem com o aumento da temperatura dos oceanos e a acidificação das águas.
“Isso também causará a extinção dos recifes de corais. E já há espécies sendo extintas em todo o mundo”, afirmou.
Os recifes de corais, fundamentais para a biodiversidade marinha, são altamente sensíveis às mudanças de temperatura. A perda desses ecossistemas afeta não apenas a vida aquática, mas também comunidades humanas que dependem da pesca e do turismo.
Futuro
O cenário traçado por Carlos Nobre é alarmante. Se as emissões continuarem crescendo no ritmo atual, o planeta pode registrar um aquecimento de até 3 ou 4 °C até 2100. Nesse caso, regiões equatoriais ao nível do mar poderiam atingir temperaturas que o corpo humano não suportaria durante todo o ano.
“É totalmente possível, se não reduzirmos rapidamente as emissões, chegarmos a 3 ou 4 °C em 2100. As regiões equatoriais ao nível do mar terão uma temperatura que o corpo humano não resiste, o ano todo. O planeta vai ficar inabitável para nós humanos em 2100”, alertou o meteorologista.
O alerta de Nobre reforça o consenso científico de que as próximas décadas serão decisivas para evitar um colapso climático global. A manutenção do aquecimento abaixo de 1,5 °C exige reduções imediatas e profundas nas emissões de gases de efeito estufa, além da transição para fontes de energia renovável e da preservação de biomas como a Amazônia.
Caso contrário, como adverte o cientista, a humanidade poderá enfrentar um século de extremos — de incêndios florestais e secas severas a enchentes, escassez de alimentos e ondas de calor letais.
“Estamos muito perto de cruzar limites que não poderão mais ser revertidos. A ciência está dizendo isso com todas as letras — agora, o que falta é ação”, concluiu Carlos Nobre.
Fonte: Aventuras na História