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ESTUDO

Mesmo os mestres da sobrevivência nos desertos podem ter dificuldade em enfrentar as mudanças climáticas

27 de outubro de 2025
Filipe Pimentel Rações
2 min. de leitura
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O órix-da-arábia (Oryx leucoryx) é uma das espécies de mamíferos altamente adaptados à vida nos desertos da Península Arábica. Foto: Simon Tonge / Wikimedia Commons

Embora muito menos ricos em diversidade biológica dos que as icónicas florestas tropicais, os desertos são a casa de muitas espécies que, ao longo de milhares ou milhões de anos, se conseguiram adaptar para sobreviver naqueles que são dos habitats mais inóspitos e inclementes do planeta.

A vida em condições extremas levou ao surgimento de características singulares que fazem com que os animais que aí vivem estejam aptos a prosperar por entre as dunas e sob o calor tórrido que seria fatal para tantas outras espécies. Ainda assim, mesmo estes mestres da sobrevivência têm os seus limites, que podem ser perigosamente testados com a intensificação das alterações climáticas.

Num estudo publicado na revista ‘Global Ecology and Biogeography’, investigadores da Sapienza Università em Roma (Itália) estudaram a capacidade que os mamíferos das paisagens desérticas na Península Arábica, como o órix-da-arábia (Oryx leucoryx) e a gazela da espécie Gazella marica, têm para fazer face a um planeta em transformação. Ambas as espécies estão classificadas como vulneráveis ao risco de extinção na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza.

A conclusão aponta para algo preocupante. Mesmo a excecional tolerância que têm a altas temperaturas e as adaptações que lhes permitem viver em ambientes altamente áridos poderão revelar-se “ineficazes” à medida que a Terra se torna cada vez mais quente.

Os cientistas dizem que os animais que vivem na Península Arábica, onde está localizado o maior deserto arenoso do mundo, o Rub’ al-Khali, estão já a viver muito perto do limite máximo das suas tolerâncias térmicas. Isso significa que temperaturas mais elevadas podem empurrar muitas das espécies desérticas para o limiar da extinção.

Com base nos dados recolhidos, a equipa sugere que até 93% dos mamíferos dessa região podem perder partes substanciais das suas áreas de distribuição históricas nas próximas décadas.

“É essencial perceber que perder estas espécies significa perder uma componente única da biodiversidade e, com ela, os segredos de possíveis adaptações a altas temperaturas, sobre as quais sabemos ainda tão pouco”, afirma, em comunicado, Luigi Maiorano, coautor do artigo.

“Alguns séculos de rápido aumento da temperatura podem ser suficientes para eliminar adaptações à aridez que se desenvolveram ao longo de milénios de evolução.”

Fonte: Greensavers

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