EnglishEspañolPortuguês

ESTUDO

Mesmo os incêndios florestais controlados podem ameaçar animais selvagens como os lagartos

26 de dezembro de 2025
2 min. de leitura
A-
A+
Foto: Max Tibby / Wikimedia Commons

Com o agravamento das alterações climáticas, os incêndios, de origem natural ou humana, tornam-se cada vez frequentes e intensos, representando uma das maiores ameaças à conservação da biodiversidade.

Os fogos controlados são uma prática ancestral de muitos povos pelo mundo fora para atenuar os riscos de incêndios descontrolados, de maiores dimensões e mais devastadores. No entanto, também eles podem ter impactos negativos na vida selvagem.

Uma equipa, liderada por investigadores da Universidade da Austrália do Sul, lançou-se no estudo dos efeitos dos fogos controlados na cordilheira australiana de Monte Lofty para perceber de que forma podem ou não afetar a sobrevivência de Escincídeos, uma família de lagartos de corpo em forma de cilindro e com patas curtas. A atenção dos investigadores focou-se em três espécies em particular, as mais comuns na área de estudo: Hemiergis decresiensisLampropholis guichenoti e Lerista bougainvillii.

O objetivo era saber se as temperaturas geradas pelos fogos controlados podem exceder os máximos que esses répteis de sangue-frio (ou ectotérmicos, na gíria científica) conseguem tolerar sem pôr em causa a sua sobrevivência.

Entre setembro de 2023 e abril de 2024, os cientistas analisaram as temperaturas de superfície e de abrigos, normalmente preferidos por esses lagartos, durante queimadas controladas nessa região montanhosa australiana, um foco de biodiversidade e bastante suscetível a incêndios.

Os resultados mostram que as temperaturas debaixo de abrigos habituais, como troncos e pedras, durante fogos controlados variava entre os 53 e os 108 graus Celsius, valores que os cientistas dizem exceder largamente a tolerância térmica de cada uma das três espécies, que varia entre os 37,5 e os 43 graus Celsius.

Embora o estudo se tenha focado apenas em répteis, os investigadores acreditam que outras espécies de animais nativos da região podem estar a ser impactados pelas altas temperaturas geradas pelos fogos controlados.

“Estas condições excedem dramaticamente o limiar de 60 graus Celsius da maioria das espécies terrestres”, diz, em comunicado, Shawn Scott, da Universidade do Sul da Austrália e primeiro autor do artigo publicado na revista ‘International Journal of Wildland Fire’.

“Troncos e pedras foram os abrigos mais eficazes para atenuar as temperaturas extremas durante os fogos controlados no nosso estudo”, explica, mas acrescenta que “as temperaturas máximas e a duração dessas condições podem, ainda assim, ser letal para pequenos vertebrados se as queimadas controladas acontecerem em condições que exacerbam a severidade do fogo”.

Mesmo abrigados, os lagartos, e outros animais, podem estar sujeitos a calor extremo e ver a sua sobrevivência em risco.

A equipa diz que à medida que as alterações climáticas aumentam o risco de incêndios, devem aumentar também os fogos controlados para tentar evitar incêndios de grandes dimensões. Contudo, com isso, aumentam também as ameaças à sobrevivência de animais que não têm como lidar com temperaturas demasiado altas.

Fonte: Greensavers

    Você viu?

    Ir para o topo