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Mesmo com pandemia, Brasil deve aumentar emissão de gases de efeito estufa

25 de maio de 2020
6 min. de leitura
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Imagem registra desmatamento na Amazônia (Foto: Raphael Alves/AFP/Arquivo)

Na contramão do mundo, o Brasil deve registrar em 2020 um aumento na emissão de gases de efeito estufa, substâncias gasosas determinantes para tornar as mudanças climáticas ainda piores. Essa é a conclusão de um estudo divulgado na última quinta-feira (21) pelo Observatório do Clima.

Os pesquisadores concluíram que, em 2020, o mundo – com exceção do Brasil – deve reduzir em 6% a emissão de gases que agravam o processo de destruição do planeta. Isso porque a quarentena de combate ao coronavírus reduziu a produção industrial, a circulação de veículos e outras atividades que queimam combustíveis fósseis.

Mas no Brasil o cenário é outro, e catastrófico. A razão é o desmatamento e a agropecuária, atividades intimamente ligadas, já que grandes extensões de terra são desmatadas para dar lugar a pasto para criar bois explorados para consumo.

Quase dois terços dos gases poluentes de origem brasileira advêm do desmatamento e da agropecuária. E nem mesmo durante a pandemia as florestas deixaram de ser destruídas. Em abril, em meio ao aumento dos casos de coronavírus, a Amazônia registrou, sob o governo Bolsonaro, o maior desmatamento dos últimos 10 anos.

As consequências disso, segundo o estudo do Observatório do Clima, é um aumento na emissão de gases de efeito estufa de 10% a 20% em 2020.

“Aumentar de dez a 20% as emissões em um único ano é muito expressivo. Isso acontece porque o desmatamento está descontrolado, especialmente na Amazônia”, explicou ao G1 Tasso Azevedo, coordenador do estudo.

E apesar do Brasil ter registrado queda no consumo de combustíveis no setor de transportes, especialmente no que se refere ao querosene de aviação, houve aumento na compra do diesel, usando principalmente em caminhões de carga e de entrega, e variação na atividade industrial, na energia e no gás de cozinha.

O país aparentemente registra ainda problemas com relação ao descarte irregular de lixo durante a pandemia, o que também prejudica o meio ambiente. Em outras nações, foi registrado aumento no descarte de materiais de saúde, como máscaras e luvas, que têm sido usados com mais frequência por conta do combate ao vírus. No entanto, no Brasil houve queda de 17% no volume de lixo hospitalar – segundo o estudo, os dados indicam um provável descarte irregular de lixo no país. A coleta seletiva, no entanto, aumentou.

“Os outros setores têm até cumprindo as suas responsabilidades de redução, mas o desmatamento faz com que o Brasil fique feio na foto”, disse Tasso Azevedo.

Bois dispersos pela floresta amazônica durante queimadas após desmatamento (Foto: Daniel Beltra/Greenpeace)

O Ministério do Meio Ambiente, ao ser questionado sobre o estudo, mais uma vez descredibilizou a ciência e atacou iniciativas idôneas realizadas por instituições que têm o único intuito de proteger o planeta. Na opinião da pasta, os responsáveis pelo estudo não têm postura construtiva e sobrevivem do alarmismo.

Os dados, porém, não foram manipulados para se tornarem alarmantes. Eles são alarmantes por si só. E não por responsabilidade dos pesquisadores, mas da postura do governo Bolsonaro frente à questão ambiental.

Desmonte ambiental promovido por Bolsonaro

O desmonte da política ambiental, promovido pelo governo Bolsonaro, colabora para o aumento do desmatamento. Dentre os tantos retrocessos promovidos pelo presidente, a criação de um órgão para perdoar multas ambientais é uma das medidas que deu força à impunidade. O discurso desenvolvimentista do governo, que defende a expansão de atividades que geram lucro a qualquer custo, também prejudica o meio ambiente, dando força aos desmatadores, que se sentem livres para agir, respaldados pelo Palácio do Planalto.

Várias atitudes e declarações do presidente deixam claro seu interesse em destruir a natureza em prol dos interesses de proprietários de terra. Em novembro de 2019, em discurso feito durante a 1º Feira de Sustentabilidade do Polo Industrial de Manaus, no Amazonas, Bolsonaro afirmou que as políticas ambientais prejudicaram o crescimento do país. Dias antes, ao ser questionado sobre o aumento de 29,5% do desmatamento na Amazônia, registrado entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho de 2019, o presidente deixou claro que não têm intenção de agir contra essa questão, mostrando seu descaso no que se refere a crimes ambientais. “Você não vai acabar com o desmatamento nem com as queimadas. É cultural”, afirmou. 

DIEGO BRESANI/DIVULGAÇÃO

No ano passado, Bolsonaro disse ainda que a Amazônia deve ser explorada e que ele não abre mão disso. Ele também revogou um decreto que estabelecia o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar e impedia que o cultivo fosse expandido em áreas como a Amazônia e o Pantanal.

Recentemente, entre as tantas ações contrárias à preservação ambiental, Bolsonaro determinou, através de decreto, que as ações de combate ao desmatamento e às queimadas na Amazônia Legal sejam comandadas pelas Forças Armadas até 11 de junho. Na prática, a determinação retira a autonomia do Ibama e do ICMBio e deixa os órgãos ambientais nas mãos daqueles que, desde à época da Ditadura Militar, são conhecidos por colocar a questão desenvolvimentista acima da preservação da natureza – posicionamento totalmente alinhado aos interesses de Bolsonaro.

O governo, através do Ministério de Meio Ambiente, também exonerou o coordenador de operações de fiscalização do Ibama, Hugo Loss, e o coordenador-geral de fiscalização ambiental, Renê Luiz de Oliveira. Ambos capacitados e elogiados por seus superiores por conta do sério trabalho que promoviam em prol do meio ambiente. Eles foram exonerados após comandarem uma megaoperação contra o garimpo em terras indígenas. Recentemente, foram exonerados também chefes de Unidades de Conservação responsáveis por proteger o mico-leão-dourado, o que deixou a espécie, que está ameaçada de extinção, ainda mais vulnerável ao risco de desaparecer da natureza.

Bolsonaro também é apoiador de um projeto de lei que pretende, através da grilagem de terras, autorizar o desmatamento da Amazônia. A medida causou tanta indignação dentro e fora do Brasil que um grupo de 40 supermercados britânicos publicou uma carta aberta por meio da qual ameaça boicotar produtos brasileiros caso o projeto se torne lei.

Diante desse cenário, especialistas alertam sobre o risco que a natureza corre nas mãos de Bolsonaro. Recentemente, a Human Rights Watch, organização internacional de direitos humanos, denunciou que o governo de Jair Bolsonaro está adotando medidas que, na prática, suspenderam as multas aplicadas por desmatamento ilegal na Amazônia.

Os desmontes da agenda ambiental promovidos pelo presidente podem fazer com que a destruição da Amazônia atinja um limite irreversível “em dois governos Bolsonaro”, segundo o cientista Paulo Artaxo, doutor em física atmosférica pela Universidade de São Paulo (USP) e estudioso da Amazônia desde 1984, época em que viajou para a floresta pela primeira vez para realizar uma pesquisa para seu doutorado.


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