Um relatório oficial do Ministério para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico espanhol trouxe à tona uma realidade alarmante que continua a ecoar com força no atual ano de 2025. A Espanha registrou o número mais alto de animais assassinados em atividades de caça maior desde que as estatísticas existem. O número, 781 mil animais mortos, mostra a eficiência industrial na matança que gera preocupação e mostra uma crise ecológica de fundo.
Este recorde assustador foi alcançado com o menor número de licenças de caça da história. Ou seja, há menos caçadores, mas eles estão matando muito mais.
O ápice de 1,4 milhão de licenças, registrado em 1985, caiu para 610 mil. A contradição fica ainda mais evidente ao se comparar com 1999, quando o dobro de permissões resultou na morte de apenas 150 mil animais, um quinto do número de 2023.
A explicação para este fenômeno reside na grande evolução do armamento. Os rifles de caça maior, instrumentos projetados para matar animais de grande porte, multiplicaram-se em 150% desde o ano 2000.
De 154 mil armas com licença na virada do milênio, a Espanha superou a marca de 390 mil em 2023. Enquanto a comunidade caçadora encolhia, o poder de fogo disponível crescia exponencialmente, transformando cada licença em uma permissão para um potencial de morte muito maior.
Entre as espécie mortas, o javali lidera o ranking, com 443 mil indivíduos mortos, seguido pelo veado (165 mil) e pelo corço (91 mil), este último com recorde histórico de mortes.
A justificativa utilizada para a matança de javalis, o controle populacional, mostra-se, no entanto, como uma solução falha. Sem o retorno do lobo ibérico, seu predador natural, a natureza segue desequilibrada, e o ciclo de caça se perpetua. Apesar dos números recordes de caça, o ano de 2025 já registra alertas especiais por superpopulação de javalis em comunidades como Andaluzia, Madrid, Valência e Catalunha.
Esta abordagem, que trata os animais com mais violência, ignora a causa raiz, a destruição de ecossistemas e a eliminação dos reais reguladores naturais. A caça, longe de ser a solução, é parte de um ciclo de intervenção humana que perpetua o problema que alega resolver.
Enquanto a caça maior prospera, a caça menor, que inclui aves, coelhos e lebres, mostrou um retrocesso, caindo de 18 milhões para 14 milhões de animais mortos. A mudança no perfil da atividade não é um alívio, mas um reposicionamento do foco do extermínio.