Na contramão do que grande parte do mercado alimentício, de vestuário e de higiene e beleza (entre outros setores) oferece aos consumidores, cresce no Brasil e no mundo o número de pessoas que demandam produtos livres de insumos de animais. Entendida como cruel por esse grupo, a exploração da carne, da lã, do couro e do leite, entre outros produtos, está longe de ser extinta, mas há quem clame pela liberdade dos bichos a ponto de mudar radicalmente seu estilo de vida. Atentos a essa oportunidade de negócio, empreendedores de diversos setores do País estarão reunidos, de 25 a 29 de setembro, em Curitiba, para discutir o assunto, durante o IV Congresso Vegetariano Brasileiro (Vegfest). A ideia principal é incentivar a criação de novos negócios no ramo.
Na área de alimentação, há uma gama de possibilidades que nascem para atender a cerca de 8% da população no Brasil que se declara vegetariana (segundo o Ibope). O nicho tem atraído cada vez mais investidores, até porque esse volume tende a aumentar. Segundo dados da Ipsos Brasil Pesquisa de Mercado, 28% dos brasileiros desejam reduzir o consumo de carne em sua dieta. Boa parte dos vegetarianos ainda adota a filosofia vegana, que aborta o consumo de qualquer produto de origem animal na alimentação, como laticínios e ovos, por exemplo. “Esse é um mercado em ampla expansão. Hoje temos leite condensado, creme de leite, diversos tipos de enlatados, embutidos e congelados, além de queijos e tantos outros produtos sem nenhum tipo de componente de origem animal”, comenta a conselheira da Sociedade Vegetariana Brasileira, Mônica Buava. Ela observa que o mercado de produtos vegetarianos, integrais e orgânicos movimentou R$ 40 bilhões em 2011 e destaca que, na última década, os negócios com o conceito vegano cresceram muito, facilitando a vida de quem quer manter uma dieta estritamente elaborada por produtos veggies, como são chamados.
Prova disso é o número de restaurantes voltados à alimentação vegetariana, ou que pelo menos incluem essa possibilidade no cardápio. Em Porto Alegre, há dezenas de empreendimentos do gênero, inclusive com versão para culinárias temáticas, como a japonesa e a chinesa. “Mais do que um cuidado com o corpo, o vegetarianismo é uma questão social, um apelo ao bem-estar dos animais”, opina o sócio-proprietário da Home Sushi, Lucas de Oliveira. “Mas o lado físico também é importante: o homem mais forte do mundo é vegano”, emenda, afirmando que, ao contrário do que muitos pregam por aí, a proteína animal pode ser substituída pela vegetal, sem danos à saúde.
Oliveira conta que, depois de ouvir uma palestra proferida por um dos principais ícones em veganismo no País, desmistificou muitas dúvidas que tinha sobre o assunto. “Comecei a ver as coisas de um jeito diferente e percebi que há um fundo de interesse (comercial) muito grande em se propagar à população a teoria de que o consumo de proteína animal é importante”, diz o empresário. Apesar de também oferecer peixe cru no cardápio, Oliveira criou alternativas no menu do restaurante que contemplam os 20% de clientes vegetarianos. “Adaptamos os sushis com legumes, vegetais, e proteína de soja; usamos tofu (queijo de soja) ou leite de coco no lugar do cream cheese”, exemplifica.
Vegano de carteirinha, o jornalista gaúcho Fernando Antunes faz questão de divulgar o conceito entre os empresários para os quais presta consultoria. “Levei a ideia para um proprietário de pizzaria, que está desenvolvendo um cardápio vegetariano”, comenta. “O público que não consome carnes, ovos e leite tem aumentado muito na Capital. Esse fator gera também uma preocupação crescente em atender adequadamente a essas pessoas.”
Potencial de negócios atrai diferentes setores
Além da dieta alimentar, a vestimenta e o tipo de cosméticos ou produtos de higiene e beleza – entre outros – utilizados por veganos devem ser livres de qualquer exploração animal. Esse grupo de pessoas, além de ser vegetariano, não utilizam roupas que utilizem de lã ou couro, rejeita objetos de decoração feitos de pele ou chifre e não usa quaisquer produtos que resultem de testes com animais em laboratório.
“Oferecer produtos e serviços de qualidade é um grande trabalho para o movimento vegano. Mas profissionalismo e ética são fundamentais para alcançar esse objetivo”, argumenta a coordenadora da Maratona de Empreendedorismo Veg, Mônica Buava. Com esse pensamento, o empresário Amauri Manhaes Caliman fundou a grife paulista King 55, há 12 anos. “Trabalhamos com o perfil de não crueldade aos animais”, resume Caliman. O desafio é diário, admite o empresário, lembrando que já superou diversos empecilhos. “Em geral, a indústria brasileira ainda não está preparada para produzir nada com essas características, então é preciso adequar matérias-primas, buscar equipamentos que garantam um bom acabamento dos produtos e encontrar fornecedores aptos a isso”, resume.
Fonte: Jornal do Comércio