As mudanças climáticas vêm provocando, na América do Norte, uma escassez de neve. Com temperaturas elevadas, lugares que costumavam ficar brancos no inverno agora estão vendo mais chuva – e essa novidade é um desafio para a vegetação, para os animais e até mesmo para as pessoas.
Na última semana, de acordo com um levantamento feito pelo New York Times, pelo menos 72 pessoas morreram nos Estados Unidos por decorrência de clima severo de inverno.
Por quase todo o país, os termômetros despencaram graças a uma massa de ar ártico vinda do Canadá. Em Nova York, o frio e a umidade trouxeram neve, a primeira queda mensurável na cidade em 701 dias – quase dois anos -, finalizando assim o período menos nevado de sua história. Mas o problema não é só o frio.
Das depois, os termômetros voltaram a subir e a neve virou chuva. Essa é a realidade em Nova York e em grande parte do país. De acordo com Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), o inverno é a estação do ano que vem se aquecendo de forma mais rápida nos Estados Unidos.
No nordeste do país, onde está Nova York, as temperaturas médias do inverno estão 3ºC mais quentes, um fenômeno que afeta os termômetros mas também a queda de neve, e aqueles que dependem dela.
Jennifer Jacobs, professora da Universidade de New Hampshire e especialista em neve, conversou com o Brasil de Fato: “uma das coisas que a gente está vendo em nível global é que áreas que costumavam ter neve persistente, onde nevava, ficava, e ia embora no fim da estação, estão vendo mais nevar, depois a neve derreter e depois nevar de novo”.
Jabos explica que essas regiões “estão mudando para o que seria mais [um padrão de] uma região ao sul”. Segundo a pesquisadora esse não é um fenômeno exclusivo do nordeste dos Estados Unidos, mas sim um fenômeno global que deve continuar no futuro.
As mudanças climáticas
Essa mudança no padrão da neve está diretamente ligada às mudanças climáticas. Para entender, é preciso compreender a neve em si.
Para que tenhamos neve, é preciso uma combinação de temperaturas baixas e precipitação atmosférica (chuva). Uma diferença de 3 graus pode ser o que determina se a precipitação virá em forma de chuva ou de neve. Em Nova York, por exemplo, que possui uma temperatura média de -2ºC a 4ºC em janeiro, 3 graus a mais podem ser decisivos.
Em lugares mais frios, porém, um aumento de 3 graus pode aumentar as chances de precipitação, mas ainda assim estar abaixo da temperatura necessária para a neve, provocando nevascas maiores.
Jennifer Jacobs explicou: “eu estava conversando com colegas na Coréia. E eles, na verdade, estão tendo mais neve do que tinham no passado. […] No caso deles, o que eles têm são ventos que sopram desde um corpo de água, um oceano, e pega mais umidade. E quando sobe pra terra e pelas montanhas, ele consegue depositar mais neve”.
O problema da falta de neve
Nos Estados Unidos, onde a neve já não cai como caia há poucas décadas atrás, o problema é maior do que apenas a perda de um charme.
A mudança no padrão afeta diversos seres vivos. As plantas, por exemplo, recebem sinais que muitas vezes as enganam. Quando a neve derrete no meio do inverno e uma onda de calor atinge uma região, algumas árvores respondem como se a primavera tivesse chegado. Tudo isso para, semanas depois, ser novamente cobertas de neve, o que as prejudicam.
“Muitos povos, suas culturas e seus meios de subsistência estão ligados à neve”, afirma Jabos, “a região nordeste tem muitas áreas de esqui. E agora, se estão olhando pro lado de fora, pro topo da montanha, provavelmente a única coisa branca que estão vendo é das áreas onde estão fazendo neve.”
“E isso também afeta os animais”, adicionou Jacobs, “muitos têm padrões migratórios ligados às temperaturas. Durante o inverno, animais que se movimentam pela neve, se acabarem se deparando com uma camada de gelo no topo daquela neve, eles podem ter sérios problemas para acessar comida ou para se movimentar de um ponto ao outro.”
Para além da dificuldade econômica que a falta de neve pode produzir, a menor previsibilidade e constância traz outro problema para as pessoas: um menor nível de preparo para quando grandes nevascas chegarem, mesmo onde a neve era comum no passado.
“Ainda que estejamos vendo muito menos neve, haverá ano nos quais o Central Park ficará totalmente coberto. E vai ser grande, e forte… E isso torna difícil para as pessoas que têm que lidar com a neve. Porque investir em equipamentos de neve quando se tem menos neve não é importante, mas nos anos em que você precisa deles, você realmente precisa”, disse a pesquisadora.
Fonte: Brasil de Fato