Reciclar é regra num planeta onde a perspectiva do “jogar fora” não existe, já que todos os resíduos continuam a nos circundar. No entanto, os esforços de reciclagem estão falhando. E o modelo de desenvolvimento econômico baseado no estímulo ao consumo tem tudo a ver com esse fracasso.
Dos 106 bilhões de toneladas de materiais usados anualmente pela economia global, apenas 6,9% vêm de fontes recicladas, uma queda de 2,2 pontos percentuais desde 2015. É o que mostra o relatório “The Circularity Gap Report (CGR) 2025”, feito pelo think tank Circle Economy em colaboração com a Deloitte Global, informaram Um Só planeta, Folha, Guardian e edie.
Embora o uso de reciclados tenha aumentado em 200 milhões de toneladas entre 2018 e 2021, o consumo geral de materiais aumentou bem mais rápido. A análise constatou que isso está superando o crescimento populacional e gerando mais resíduos do que os sistemas de reciclagem conseguem processar.
O relatório indica que a extração global de matérias-primas mais do que triplicou nos últimos 50 anos, atingindo 100 bilhões de toneladas por ano, enquanto a população global não cresceu na mesma taxa. O consumo per capita aumentou de 8,4 toneladas anuais em 1970 para 12,2 toneladas em 2020, impulsionado pela urbanização e pelo crescimento do PIB.
O problema, portanto, é sistêmico: o aumento do consumo é ainda mais rápido do que o crescimento populacional e, embora algumas empresas estejam aumentando a quantidade de material reciclado que utilizam, a maioria ignora a questão sem consequências aparentes. Isso significa que as sociedades geram mais resíduos do que os sistemas de reciclagem conseguem processar.
Mesmo que todos os produtos recicláveis fossem reciclados – algo improvável, já que muitos produtos são simplesmente muito difíceis ou caros para serem reciclados –, as taxas globais de reciclagem atingiriam apenas 25%. Ou seja, é preciso reduzir o consumo para se enfrentar a crescente crise global de resíduos. Se nada for feito, a extração de matérias-primas deve aumentar mais 60% até 2060.
“Nossa análise é clara: mesmo no mundo ideal, não podemos resolver a tripla crise planetária (biodiversidade, clima e poluição) apenas com a reciclagem. A transformação sistêmica tão necessária demanda uma mudança profunda. Todos precisamos fazer escolhas diferentes, sermos ousados e investirmos para implementar soluções circulares”, afirma Ivonne Bojoh, CEO da Circle Economy.
Fonte: ClimaInfo