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Memes ecológicos: entenda como o TikTok poderia salvar o planeta

6 de setembro de 2020
6 min. de leitura
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Divulgação

Philip Aiken recebeu mais de 1,4 m de curtidas no aplicativo de compartilhamento de vídeos TikTok. Mas em seus vídeos não aparecem animais fofos e nem celebridades. Os posts de Aiken são sobre restauração do solo.

O jovem de 27 anos é um dos exemplos do crescente número de usuários do TikTok que discutem os benefícios de se aumentar a biodiversidade em espaços verdes e jardins, o que destoa dos demais assuntos virais. “Eu vejo isso como plantar sementes, e espero que germine e as pessoas queiram aprender mais”, diz Aiken, conhecido como Phil, the Fixer no TikTok.

Os Millennials e a Geração Z estão cada vez mais envolvidos com questões ambientais, criando e compartilhando memes nas mídias sociais. As hashtags “moss” (musgo), ” biodiversity” (biodiversidade) e “native biodiversity” (biodiversidade nativa) têm 84,3 milhões, 12,6 milhões e quase 800 mil visualizações, respectivamente, no TikTok.

Os TikToks de biodiversidade mais vistos fazem piada sobre gramados da monocultura, elogiam as qualidades do musgo, fornecem explicações, apoiam práticas indígenas e alertam para a extinção em massa. O TikTok tem cerca de 800 milhões de usuários ativos em todo o mundo e é particularmente popular entre a Geração Z: estima-se que 60% dos usuários nasceram após meados dos anos 90. As imagens e clipes chegam a novos públicos quando repostados no Twitter e no Facebook.

Uma tribo conhecida como “grass TikTok” (TikTok grama) – que já alcançou quase 380 milhões de visualizações – também surgiu no aplicativo. Sua comunidade interage com conteúdo sobre espécies vegetais. O principal criador, Evan Phillips, que tem mais de meio milhão de seguidores, classifica diferentes tipos de grama e posta fotos dos jardins dos fãs; ele até apresenta mercadorias com tema de grama.

Aiken baixou o aplicativo em outubro de 2019 depois de entrevistar um grupo de jovens ativistas do clima – que estavam todos falando sobre o TikTok – para seu podcast “just to save the world” (apenas para salvar o mundo”.

Criadores do TikTok @Phil the Fixer, @caseyc0w and @….gillian. Foto: TikTok

Ele recebe frequentemente mensagens perguntando sobre jardinagem, sustentabilidade e possíveis escolhas para cursos superiores, enquanto outras pessoas trocam recomendações de úteis em sua seção de comentários.

Aiken, que vive nos EUA, mas estudou para um mestrado em energia renovável na Nova Zelândia, espera se tornar um professor. “Tem sido legal poder influenciar a geração mais jovem dessa forma”, diz ele.

Durante o confinamento, Aiken também co-fundou a EcoTok, um coletivo de jovens criadores com o objetivo de se tornar a “Hype House” ambiental (um grupo das maiores estrelas do aplicativo vivendo e filmando em uma mansão de Los Angeles), além da conta “Intersectional Environmentalist” (Ambientalista Interseccional) no Instagram, que inicialmente foi criada depois que se tornou viral um post da ativista ambiental Leah Thomas em resposta ao assassinato de George Floyd. O Ambientalista Interseccional, que faz campanhas por uma versão inclusiva do ambientalismo, destacando injustiças vividas por comunidades marginalizadas, já ganhou 121 mil seguidores, com um público composto principalmente por Millennials.

Young-Woong Kee, um estudante havaiano de 16 anos, é um grande seguidor de TikToks sobre biodiversidade: “Assistir os TikToks e falar sobre eles com meus amigos definitivamente nos impactou e nos fez querer olhar mais profundamente para este assunto.”

Ele adquiriu uma coleção de ‘suculentas’ e espera que outros espectadores olhem mais profundamente para questões ambientais mais amplas. Kee, que também começou a assistir aos vídeos da National Geographic no YouTube e à série documental da Netflix Our Planet, citou o branqueamento de corais, o desmatamento e a caça desenfreada como questões-chave.

Uma pesquisa recente da Geração Z e dos Millennials feira pela consultoria Deloitte descobriu que as mudanças climáticas e a proteção do meio ambiente são uma das principais preocupações, antes e durante a pandemia do coronavírus. Isso se segue à ascensão de Greta Thunberg e ao crescimento dos movimentos Fridays for Future, Zero Hour e Extinction Rebellion nos últimos anos.

Outro criador da EcoTok, Casey Shultis, 18, acredita que o isolamento social aumentou ainda mais o engajamento.”As pessoas estão sentadas em casa e agora têm tempo para aprender mais sobre biodiversidade e a crise ambiental”, diz ela. “Eu encorajo as pessoas a entender a importância do plantio da biodiversidade nativa e, ao mesmo tempo, estimulo que vejam a beleza que vem junto com ela.”

Shultis, que está prestes a iniciar uma graduação em estudos ambientais nos EUA, antigamente chamava seus 62.300 seguidores do TikTok de Gangue da Greta e espera um dia ter tanto impacto quanto Thunberg.

An Xiao Mina, autora do livro Memes to Movements (livro sem tradução para o Português), diz que toda a extensão da influência dessas plataformas só se tornará aparente quando o conteúdo digital for rastreado ao longo do tempo. Ela destacou a influência, por exemplo, do #BlackLivesMatter e do Umbrella Movement (Movimento Guarda-chuva, pelo direito universal ao voto) em Hong Kong. “Muitas vezes, a coisa mais visível é o meme”, diz Mina.

“O que pode não ser aparente são as redes que estão sendo construídas, as narrativas sendo moldadas e as estruturas organizacionais que, em última análise, podem nos ajudar a produzir mudanças efetivas.”

Educadores também têm usado memes da biodiversidade para levar suas mensagens em sala de aula e auditórios, enquanto organizações ambientais têm tentado inspirar o público mais jovem nas mídias sociais, o que pode garantir a precisão das informações compartilhadas. Os seguidores do Instagram da Royal Horticultural Society (RHS – Sociedade Real Horticultural) cresceram de 99.500 para 125.000 entre abril e junho. O prof. Alistair Griffiths, diretor de Ciências e Coleções da RHS, diz: “Seria maravilhoso se houvesse uma maneira de o conteúdo científico da RHS ser criado em parceria com os principais influenciadores ambientais do TikTok.”

No entanto, a possível proibição do TikTok nos EUA sob as alegações de segurança nacional preocupa os criadores e pode resultar em uma perda de engajamento on-line no tema da biodiversidade.

“Seria realmente lamentável, porque o TikTok é uma plataforma tão única”, diz Aiken. “As pessoas estão genuinamente aprendendo coisas que nunca aprenderam na escola ou em suas comunidades.” Mas ele continua otimista. “Há algo diferente na Geração Z. Eu não acredito que isso necessariamente vá acabar com o TikTok.”


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