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INDONÉSIA

Megaprojeto de plantação de cana-de-açúcar vai deixar milhões de animais silvestres sem lar

6 de setembro de 2024
Redação ANDA
2 min. de leitura
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Foto: Adobe Stock

Um megaprojeto de plantação de cana-de-açúcar, planejado para ocupar cinco milhões de acres na província de Papua, Indonésia, está colocando em risco uma das florestas tropicais mais ricas em biodiversidade do planeta, além de ameaçar as comunidades indígenas que dependem desse ecossistema para sua sobrevivência.

O governo indonésio, com o objetivo de reduzir a dependência da importação de açúcar e desenvolver uma indústria local sustentável, pretende transformar a região de Merauke, no sul de Papua, em um polo de produção de açúcar, bioetanol e energia de biomassa. Em 2022 e 2023, o país foi o maior importador de açúcar bruto do mundo, adquirindo cerca de cinco milhões de toneladas métricas no último ano. Para atingir a autossuficiência no setor até 2027, o governo busca expandir rapidamente a produção nacional.

O projeto prevê a ocupação de uma vasta área florestal para o cultivo de cana-de-açúcar, instalação de usinas e uma fábrica de bioetanol. O ministro do Investimento, Bahlil Lahadalia, assegurou que nenhuma floresta “natural” será desmatada. Contudo, uma das primeiras etapas do projeto envolve o “rezoneamento” de mais de um milhão de acres de floresta, incluindo o desmatamento legal de aproximadamente 63.392 acres, em uma das áreas ecologicamente mais sensíveis da Indonésia.

As florestas tropicais de Papua abrigam mais de 20.000 espécies de plantas, além de centenas de espécies de aves, mamíferos e répteis. Esse ecossistema, além de sustentar as comunidades indígenas que dependem da caça, pesca e coleta para sua subsistência, desempenha um papel crucial na regulação climática global, ao armazenar carbono e produzir oxigênio.

O megaprojeto já está sendo comparado ao polêmico Merauke Integrated Food and Energy Estate (MIFEE), que, apesar de prometer desenvolvimento agrícola sustentável, resultou em desmatamento em larga escala, destruição de áreas protegidas e deslocamento violento de comunidades indígenas.

Primus Peuki, diretor do Fórum Indonésio para o Meio Ambiente em Papua, criticou duramente o novo projeto. “A política de cana-de-açúcar do governo é extremamente prejudicial à comunidade local”, afirmou, em entrevista ao jornal regional Jubi. Ele destacou que as tribos Marind, Mandobo e Awyu, que habitam a região, não consomem cana-de-açúcar. “Eles vivem da natureza, caçam e pescam nos rios. O governo está causando sofrimento duradouro à terra dos Marind, enquanto beneficia outros, sem considerar os danos ao meio ambiente, à cultura e ao espaço de vida dos povos indígenas.”

Este projeto evidencia os riscos de desenvolvimento desenfreado, que ignora tanto a preservação ambiental quanto os direitos das comunidades tradicionais, ameaçando o equilíbrio ecológico e cultural de uma das regiões mais ricas em biodiversidade do mundo.

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