(da Redação)
Esta semana traz uma novidade positiva em Washington (EUA), com o início da construção de uma importante passarela para travessia de animais. As informações são do site Ecorazzi.
Será na Interstate 90 (I-90), que fica no noroeste e corta florestas e montanhas da região e, desde a sua criação, tem se provado perigosa e fatal para a vida selvagem. Agora, o Departamento de Transportes irá começar a erguer uma estrutura de 45 metros de altura, designada especificamente para suportar a passagem segura de todos os animais, com previsão de inauguração em 2019.
“Este é realmente um empreendimento notável”, disse Patricia Garvey-Darda, bióloga do Okanogan-Wenatchee National Forest. “O objetivo é conectar todas as espécies e todo o habitat”.
Segundo a reportagem, trata-se apenas do começo da tentativa de criação de uma grande faixa “animal-friendly” na área de alto tráfego. Um trecho de 24 quilômetros da rodovia interestadual é parte de um projeto que contará com mais de 20 passagens subterrâneas e elevadas para facilitar o movimento da vida selvagem local.
Apesar dessa ser a primeira passarela, quatro passagens subterrâneas já existem na rodovia, e as câmeras documentam o trânsito de veados, coiotes e lontras, entre outros. Presume-se que todas as espécies de animais irão procurar pelo novo viaduto, incluindo ursos negros, pumas e alces – “embora talvez não ao mesmo tempo”. Mais dois viadutos estão nos planos, e talvez mais outros se houver recursos suficientes.
Tais estruturas já se provaram bem sucedidas em outros locais, com mais de 20.000 travessias por ano, de mais de 30 espécies, tendo sido documentadas em Montana (EUA). No Parque Nacional Banff, no Canadá, também há um intenso esforço na implementação de meios de travessia para animais.
Por outro lado, essas salvaguardas animais vêm em conjunção com um plano de ampliação da I-90, de quatro faixas para seis. A rodovia tem sido acusada de limitar o habitat dos animais, isolando espécies e impedindo a recuperação.
“A I-90 tem um tremendo impacto na vida selvagem na Cordilheira das Cascatas”, disse Jen Watkins, que atua na Conservation Northwest e na I-90 Wildlife Bridges Coalition. “Os animais fundamentalmente precisam da liberdade de se mover no cenário, e se nós impedirmos-lhes de fazer isso, podemos estar bloqueando a sua habilidade de encontrar comida e novos habitats quando as condições se alteram”.
Renovações em uma ponte de Gold Creek mostraram-se triunfantes, com cervos tendo sido vistos uma passagem subterrânea agora mais ampla. O projeto permitiu que uma corrente de água fluísse livremente, por onde trutas e outros peixes podem nadar. Esta, como as outras vias, são preenchidas com vegetação natural, na esperança de uma transição suave.
Problema mundial, atraso do Brasil
Apesar da grave questão das mortes de animais por atropelamento – sobretudo silvestres, mas não somente – estar presente no mundo todo, uma vez que a urbanização e a “motorização” das sociedades transformaram o habitat dos animais em escassas áreas cortadas por pistas, estradas, rodovias cada vez mais largas, as passarelas para travessia de animais silvestres ainda não passam de um projeto no Brasil.
Os “ecodutos”, como são chamadas as passagens construídas para a travessia da vida silvestre, já existem em diversos países do mundo há alguns anos, como por exemplo na Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Canadá, Holanda e Reino Unido. Até mesmo na Argentina foi inaugurado um deles em 2012. No Brasil, começou-se a discutir o tema na esfera pública somente no ano passado.
Recentemente, uma pesquisa sobre o assunto ocupou os noticiários no Brasil, fazendo parte de uma discussão levantada por membros corajosos da sociedade que se sentiram incomodados com o problema e deram início a uma iniciativa no sentido de proteger a fauna dos atropelamentos.
A proposta nasceu após Angela Kuczach, diretora-executiva da Rede Pró Unidades de Conservação, Aldem Bourscheit, do WWF-Brasil e Alex Bager, do CBEE (Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas) debaterem sobre as consequências do atropelamento da fauna e montarem um projeto. A ideia foi aceita pelo deputado Ricardo Izar, presidente da Frente Parlamentar de Defesa dos Animais, que apresentou o Projeto de Lei 466/2015 no final de fevereiro, e que segue em tramitação.
O que despertou esse movimento foram os números estarrecedores: “cerca de 17 animas silvestres vertebrados são mortos por atropelamento nos 1,7 milhões de quilômetros de estradas brasileiras a cada segundo. Em uma estimativa subestimada, a fauna brasileira perde 475 milhões de indivíduos mortos por carros, caminhões e ônibus por ano”, conforme publicado pela ANDA
Empatia, mais eficaz que ecodutos
É importante ressaltar que os ecodutos não representam a solução para o problema; talvez, no máximo, uma tentativa de amenização em determinados locais. Em rodovias que se apresentam em dezenas, às vezes centenas de quilômetros de extensão, um ecoduto ou mais que as cortem não impedirá que animais continuem sendo mortos atropelados mesmo a uma pequena distância dessas passagens. Se os seres humanos são educados culturalmente a atravessar em passarelas e incontáveis vezes não o fazem, os animais não humanos, apesar de sua reconhecida inteligência, não são capazes de tal aprendizado da mesma forma. Pois esse condicionamento não faz e, diga-se de passagem, não precisa fazer parte de sua natureza.
A única solução efetiva para o fim, ou pelo menos para a diminuição (uma vez que o total fim desses acidentes é um sonho longínquo), é a educação dos motoristas, a preocupação com a vida do próximo, independente da sua espécie, e enfim, o respeito aos direitos dos animais não humanos.
Pois se acidentes não são cem por cento inevitáveis, o socorro sempre deveria ser realizado, se houvesse o reconhecimento básico do direito à vida, por parte dos infratores. Menos velocidade, mais atenção, e socorro quando necessário: essa fórmula não precisa de nada complexo para a sua implementação, bastam a compaixão e a empatia.
Nota da Redação: As informações acima não tratam dos atropelamentos de animais domésticos em vias urbanas, outra questão muito séria e para a qual não há sequer estatísticas.