Estudo feito sobre a vida marinha conclui que o Mediterrâneo é o mar mais ameaçado do mundo. A pesquisa teve início há dez anos, e apontou a ação humana como a principal causa da destruição da vida no local.
Pesca, destruição do habitat, contaminação das águas, aquecimento global e pressão demográfica estão entre as principais causas que afetam o Mediterrâneo e as 17 mil espécies que lá vivem. E isto tudo está à vista: “Tenho colegas que vão fazer observação nos barcos de pesca e vêm de lá impressionados. Não vêem um mamífero na água, sejam golfinhos ou tartarugas”, conta Alexandra Cunha, presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN).
Este Censo da Vida Marinha foi feito em todo o mundo. O objetivo era identificar as diversas espécies existentes em cada mar, saber a área ocupada e volume de água, assim como descortinar aquilo que mais afeta os oceanos.
Além da perda de biodiversidade, o Mediterrâneo foi invadido por mais de 600 espécies alóctones (de fora). A maioria delas entraram pelo canal do Suez, vindas do mar Vermelho. Outras espécies (22%) chegaram por barco, vindas de todo o mundo. Há ainda 10% associados a fugas de explorações aquícolas: “Houve uma alga, natural do Índico, que fugiu do aquário do Mônaco. Este tipo de alga cresce e forma uma rede que cresce em cima de tudo”, contra Alexandra Cunha.
Para os autores do estudo, o cenário futuro será pior: “As ameaças vão aumentar no futuro, em especial as associadas às alterações climáticas e à degradação do habitat”, explicou ao jornal espanhol Público, Marta Coll, do Instituto de Ciências do Mar de Barcelona.
O estudo foi publicado na revista científica PLoS ONE, e as autores relembram a invasão de medusas ocorrida no Mediterrâneo em 2006. Estas chegaram do Atlântico em barcos e expandiram-se desde Israel até à costa espanhola. Duas décadas antes já tinham provocado o colapso da população de anchovas no mar Negro.
Um fator que atrai estas espécies exóticas é o aumento da temperatura das águas do mar, que permitem que sobrevivam no Mediterrâneo. Na década de 1980, a temperatura da superfície marinha na costa mediterrânea variava entre os 16,25 graus, na zona ocidental, e os 22,75, na zona oriental. Os investigadores fizeram contas e prevêem que em 2050 a temperatura irá ultrapassar os 24 graus em algumas zonas.
O problema do Mediterrâneo também pode vir de outras épocas: “Não podemos esquecer-nos de que este é um mar fechado que sempre foi muito utilizado pelas populações à sua volta há milhares de anos”, relembra a presidente da LPN. A pressão demográfica das margens leva a que haja mais poluição no mar.
Fonte: DN