Navio que transporta animais faz uma parada de emergência na Cidade do Cabo, capital da África do Sul, e assusta pelo cheiro forte que vinha dele. A embarcação que saiu do Brasil com destino ao Iraque está transportando 19 mil animais. Ativistas pelos direitos animais protestaram nessa segunda-feira (19/02).

O navio atracou no porto da Cidade do Cabo para abastecimento, além de receber água, comida e medicamentos para a tripulação e animais. No entanto, era possível sentir um cheiro forte que vinha da embarcação na região do porto, preocupando os defensores dos direitos animais.

Nesse contexto, manifestantes se juntaram na Ponte Taliep Petersen para protestar contra a exportação de animais vivos. “Se o cheiro no centro de Cape Town foi tão forte hoje, pode-se imaginar o que os animais têm que cheirar dentro do navio?”, questionou Carli Costa, uma ativista local.

Fotos vazadas para o Daily Maverick mostram os animais em sofrimento, alguns estavam deitados em sua urina e fezes nos últimos oito dias, tempo que o navio está no mar. De acordo com a Transnet, a embarcação deveria sair da Cidade do Cabo hoje (20/02), mas o Conselho Nacional da Sociedade para a Prevenção da Crueldade Animal (NSPCA) disse que ela só sairá na quarta-feira.

A embarcação ficará no mar por mais 24 dias antes de chegar ao Porto de Basra no Iraque, e há pouco ou nenhum espaço no navio para os animais se moverem livremente.

Grace de Lange, funcionária da NSPCA, inspecionou o navio com a equipe da Cape of Good Hope SPCA, incluindo Dr. Bryce Marock, consultor veterinário da organização. “Há uma acumulo de fezes e quando isso acontece, você obtém amônia”, disse ela ao Daily Maverick na segunda-feira. Altos níveis de amônia podem afetar adversamente os sistemas respiratórios e os olhos dos animais.

“Segundo o capitão com quem falamos, eles limpam a embarcação quando estão nas águas”, disse De Lange. Ela disse que isso não faz sentido, já que o navio pode ficar preso no porto por alguns dias se a entrega de alimentos para os animais for lenta. “Os animais vão defecar todos os dias. Tivemos que sacrificar alguns animais sob a recomendação do veterinário devido à condição em que estavam, e também encontramos alguns animais mortos.”

De Lange disse que a tripulação do navio não tinha medicação adequada para dar aos animais, que têm que suportar semanas de viagem. “Algumas das medicações que estão dando não estão 100% corretas. Por exemplo, para os problemas oculares que alguns dos bois estão tendo eles não têm nenhum remédio.”

De Lange disse que a NSPCA esteve no tribunal várias vezes em casos contra a empresa que é dona do Al Kuwait. Em 2022, a instituição conseguiu impedir o embarque proposto de entre 55 mil a 85 mil ovelhas vivas para o Kuwait, alegando que 24 dias no mar sob calor intenso constituíam crueldade aos animais.

Os bois que estão sendo transportados para o Iraque não podem ser abatidos e congelados antes do transporte, já que alguns serão abatidos de acordo com práticas religiosas. “Somos contra a exportação de animais vivos e acreditamos que a crueldade desnecessária deveria parar”, disse a manifestante Costa. “Eles são forçados a lidar com temperaturas extremamente altas, falta de espaço e altos níveis de amônia.”

Deidré Daniels, da Four Paws, uma organização contra a exportação de animais vivos, disse que a prática de exportar animais vivos da África do Sul está crescendo. Ovelhas, bois e cabras são enviados ao redor do mundo, às vezes por semanas, para outros países, onde são abatidos. Ela observou que vários países, incluindo Nova Zelândia e Reino Unido, proibiram ou estavam planejando proibir a prática.