Cães, gatos e outros animais domésticos vêm ocupando espaços afetivos cada vez mais centrais. Eles participam de celebrações, passeiam no shopping, viajam com seus tutores, têm plano de saúde, roupinhas temáticas e até perfil nas redes sociais. Essa relação, marcada por vínculos profundos, transformou não só a configuração das famílias modernas, mas também impulsionou o mercado de produtos para animais, que deve movimentar cerca de R$ 86 bilhões em 2025, segundo a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação).
“Hoje, o tutor quer entender tudo: do tipo de ração ideal ao enriquecimento ambiental, passando por vacinas, exames preventivos e até comportamento emocional do animal. Ser mãe ou pai de animais exige preparo, e nós, profissionais da saúde animal, também precisamos estar atualizados para orientar e acolher esse público da forma correta”, afirma a médica-veterinária Fernanda Martins, coordenadora pedagógica da Faculdade de Medicina Veterinária Qualittas.
A tendência de humanização dos animais gerou impactos diretos no setor, que se profissionalizou e se diversificou para atender às novas demandas dessa maternidade afetiva:
- Animais como filhos: é comum ver animais sendo tratados com o mesmo cuidado dedicado a uma criança. Em muitos lares, eles são considerados membros da família — e alguns até aparecem como herdeiros em testamentos.
- Clínicas com atendimento humanizado: Veterinários recebem treinamento específico para lidar com o lado emocional dos tutores e explicar diagnósticos com empatia e clareza.
- Serviços personalizados: Spas, creches, acupuntura, fisioterapia, psicologia comportamental e planos de saúde exclusivos fazem parte do novo cardápio de cuidados.
- Educação continuada: Cresce a oferta de cursos, mentorias e workshops para quem quer entender melhor a saúde, o bem-estar e o comportamento do animal.
- Design adaptado e consumo consciente: Ambientes pet friendly, móveis integrados para humanos e animais, e produtos premium, orgânicos ou sustentáveis ganham cada vez mais espaço.
A maternidade animais vai além dos mimos e das fotos fofas. Ela envolve responsabilidade, rotina, atenção médica, planejamento e, principalmente, amor. O mesmo amor que motiva mães humanas a dar o melhor de si todos os dias.
“Ser mãe de animais doméstico é, sim, uma forma legítima de maternidade — e o mercado, felizmente, está cada vez mais preparado para acolher essa realidade”, conclui Fernanda.
Neste Dia das Mães, o carinho também é delas: das que trocam fraldas por tapetinhos higiênicos, mamadeiras por potinhos de ração e conversas por miados e latidos. Amor é amor — e ele não tem espécie.
“O Dedeus chegou para curar minha ansiedade — e completou a minha vida”
Para a servidora pública Caroline Alves, o amor de mãe chegou em quatro patas, com um olhar doce e personalidade forte. Foi em meio a uma crise de ansiedade que ela conheceu o Dedeus, hoje com um ano e meio, e desde então, nada mais foi como antes.
“O Dedeus chegou, na verdade, num processo que eu tinha de ansiedade. Ele veio pra acalmar a minha vida, mas trouxe muito mais do que isso: trouxe alegria, esperança. Como eu não sou mãe de filhos humanos, agora eu sou mãe de um animal. Ele veio exatamente pra completar a minha vida”, conta Caroline.
Segundo ela, o impacto do Dedeus em sua saúde emocional foi imediato e profundo. “Na segunda semana da crise, minha pressão chegava a 20, os batimentos muito acelerados… e foi aí que ele começou a me tranquilizar. Ele vinha perto, fazia carinho, e eu percebia que aquilo me acalmava. Foi muito real. Ele virou meu remédio.”
Com o tempo, a rotina dos dois se transformou em uma relação de cumplicidade e afeto diário. “Ah, é a melhor relação do mundo. Todo dia é uma alegria quando eu chego em casa. Ele me ensina paciência, me ensina amor. O Dedeus veio como uma criança vem pra uma mãe, sabe? Mas sempre com muito carinho. Às vezes eu tô num momento mais agitado, e ele vem perto, faz um carinho, como quem diz: ‘Calma, tô aqui’.”
O jeitinho do Dedeus é único — e bem marcante. Caroline se diverte ao descrevê-lo: “Ele é um ser humaninho! É fofoqueiro, carinhoso, agitado, e tem uma personalidade fortíssima. A gente não decide nada por ele, é ele quem decide o que quer fazer. É autêntico demais, cheio de alegria. Ele escolhe o que quer comer, enjoa das comidas… o Dedeus é humano. É mimado também, lógico!”
A rotina do Dedeus é digna de um pequeno príncipe: ele vai à creche, interage com outros cães, aprende a nadar, vai à praia, surfa na prancha e, claro, termina tudo com um bom banho. “Todo sábado ele tá lá, já conhece todo mundo. As pessoas já sabem quem é o Dedeus. É quase um evento.”
Para Caroline, não há dúvidas: ser mãe de animal é, sim, ser mãe. “O Dedeus depende de mim, me dá amor, me ensina e me transforma todos os dias. Ele veio pra curar minha ansiedade, mas na verdade ele me deu uma vida nova.”
Advogada encontra novo propósito de vida no amor pelos animais
Foi por causa da filha única que a advogada Ana Emília abriu espaço em casa — e no coração — para os animais. Sem nunca ter tido animais domésticos na infância, por conta da bronquite do irmão, ela conta que passou boa parte da vida sem contato próximo eles.
Mas isso mudou há cerca de dez anos, quando a menina pediu para ter um animal doméstico. A resposta foi a adoção de um gatinho, o primeiro de muitos.
“Adotei meu primeiro gato por causa da minha filha, que queria muito um animal. Achei importante naquele momento da vida dela. Mas confesso que fiquei assustada quando aquele serzinho chegou em casa”, relembra Ana. “Era tudo novo. Tinha medo de tudo, como quando me tornei mãe.”
O gatinho, chamado John, conquistou a família — e, principalmente, Ana. Bastava um espirro para que ela corresse à clínica veterinária, preocupada. “Eu ficava desesperada com qualquer sinal diferente. Ele virou meu bebê.”
O carinho se multiplicou rápido. Pouco tempo depois, veio um segundo gato, para fazer companhia ao primeiro. E logo a casa estava cheia. “Quando me dei conta, já tinha quatro gatos. Mergulhei nessa história de amor e nunca mais fui a mesma pessoa.”
Junto com a vivência como tutora, Ana se envolveu também com a causa da proteção animal. Ela sempre optou pela adoção e passou a ajudar outros animaizinhos em situação de vulnerabilidade. “Entrei nesse mundo e descobri duas coisas mágicas: o amor pelos animais e a responsabilidade que vem com isso. É uma transformação que muda por dentro.”
Segundo Ana, os animais despertaram nela um sentimento profundo de empatia. “Costumo dizer que eles abriram uma janela na minha alma que estava adormecida. Passei a perceber a natureza, os bichos, a bondade que existe no mundo.”
Hoje, Ana Emília se define como mãe de muitos. “Meus gatos são meus filhos. O amor que sinto por eles é como o amor que sinto pela minha filha. Não consigo me imaginar sem eles.”
Ela também se emociona ao pensar no tempo de vida dos seus companheiros de quatro patas. “Me dói no coração saber que eles vão viver menos que eu. Mas também sei que sou mãe de dezenas, centenas, milhares de animais espalhados pelo mundo, que precisam do meu amor materno.”
Para Ana, esse é agora seu maior propósito: cuidar, proteger e inspirar outras pessoas a fazer o mesmo. “Se permita abrir também essa janela na alma. Descubra que dentro do seu coração tem muito mais amor a ser explorado e doado. Os animais mudam a gente para melhor.” E se alguém duvida que é possível ser mãe de humano e de animal ao mesmo tempo, Ana Emília responde com convicção: “É o mesmo amor, a mesma entrega. Não existe diferença no afeto quando ele é verdadeiro.”