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Matéria em jornal brasileiro faz apologia à crueldade contra animais

23 de março de 2010
12 min. de leitura
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(da Redação)

Foi com muito espanto que lemos uma matéria sobre animais em circos, publicada domingo (21) no jornal Folha de S. Paulo, que nada falou sobre a realidade,  apenas mostrou uma visão distorcida, preconceituosa e falaciosa sobre a condição exploratória dos animais de picadeiro.

Em primeiro lugar, é importante relembrar que não é descabida a proibição em sete estados e em mais de 50 municípios brasileiros da apresentação de animais em circo. Essas leis foram promulgadas, inclusive, para atender ao clamor da sociedade, que não concorda com o abuso de animais em espetáculos circenses. Uma pesquisa, a que tivemos acesso, realizada a pedido do Ibama e jamais divulgada, comprova que mais de 90% da população do Brasil é contra animais em circos. Isto já demonstra que o público tem ideia de qual é o preço da existência de animais domésticos e selvagens embaixo da lona.

Para quem não sabe, a rotina diária desses animais inclui: treinamentos contínuos e forçosos por meio de espancamentos, mutilações e aplicação de choques elétricos, privação de alimento, confinamento com correntes e em jaulas minúsculas, entre outras crueldades escondidas sob as luzes e cores dos espetáculos.

Os elefantes, que na natureza caminham cerca de 40 km por dia, nos circos vivem permanentemente acorrentados. Foto: sem crédito


Não existe circo que trate bem os seus animais. O simples fato de os animais viverem aprisionados, fora de seus habitats, obrigados a realizarem coisas contrárias à sua natureza, de serem humilhados para a cobiça de alguns, completamente estressados, é por si só uma imensa e inaceitável crueldade. É triste e absurdo que muitos circos, em pleno século 21, continuem insistindo em realizar espetáculos cruéis, deseducadores e absolutamente desprovidos de ética. Isto não é arte, é violência maquiada.  

A matéria em questão retrata os exploradores como heróis. Até quando a violência será aplaudida por alguns?

O circo moderno é outro. É baseado no talento humano e na alegria, não na exploração e no sofrimento animal. Esta é a evolução natural do circo e da sociedade, não é porque nossos antepassados cometiam atrocidades que estamos condenados a fazer o mesmo. Podemos e devemos evoluir. Podemos e devemos nos tornar melhores. É possível fazer lindos espetáculos sem animais. O maior exemplo é o mais famoso e mais rico de todos os circos: o Cirque du Soleil.

Cirque du Soleil. Foto: Divulgação

No Brasil, temos o Circo Vox, Circo Popular do Brasil, Circo Girassol, Circo Máximo, entre vários outros. A ausência de animais nas apresentações trouxe ainda mais respeito e públicos interessados.

É incompreensível ler o depoimento da dona do Circo Spacial reclamando da proibição de animais em circo, pois seu circo não explora mais animais e é um grande sucesso.

Diversos lugares no mundo já proíbem esta prática cruel e primitiva. A Bolívia é um exemplo disso. Baniu de seu território a apresentação de circos com animais, e os circos sem animais continuam a trabalhar para grandes públicos. Áustria, Costa Rica, Croácia, Israel, Cingapura, Bolívia e Bulgária também proíbem circos com animais. Outros países proíbem parcialmente, como: Bélgica, República Tcheca, Estônia, França, Índia, Polônia, Espanha, Taiwan, Finlândia, Suécia e Dinamarca. Essa quantidade crescente de países aderindo à proibição de animais em circo comprova qual é a tendência mundial – circos sem animais.

Na entrevista à Folha de S. Paulo, o próprio Orlando Orfei fala sobre os acidentes e cicatrizes oriundos do ato de domar animais. O absoluto estresse a que são submetidos deixa-os nervosos e agressivos, deixaria qualquer um assim, inclusive você que lê este texto. É também Orlando Orfei que destaca a maneira como esses animais são tratados; seguem as palavras do jornalista que o entrevistou: “Ele descreve o chicote e a jaula dos leões. As feras obedecem. Levantam-se sobre duas patas, jogam-se através do aro de fogo…”. Isto parece algum tipo de comportamento natural para um tigre ou um leão? Em 2008, foi lançada no Brasil a campanha da Animal Defenders International (ADI), chamada “Basta de sofrimento nos circos”, e foi apresentado um DVD com cenas chocante sobre a realidade dos picadeiros, filmadas em dois circos brasileiros, o Estoril e o Stankowich, que podem ser comprovadas nesses vídeos: 

httpv://www.youtube.com/watch?v=G8TmTrgnK90

httpv://www.youtube.com/watch?v=k-bY6dI-rbQ

httpv://www.youtube.com/watch?v=h3Nw5KOvCMk

A investigação da ADI foi apresentada no programa Fantástico da TV Globo e chocou o público brasileiro. Uma enquete foi promovida pelo programa logo após a apresentação da reportagem, revelando que 95% das pessoas eram contra a utilização de qualquer animal nos circos. Depois disso, por meio da Internet, a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados recolheu 235 mil votos. Destes, 82% eram contra a utilização de qualquer espécie de animais em circo. O circo Estoril foi proibido pelo Estado da Bahia de exibir seus animais.

Em 2009, o Le Cirque, seu representante legal George Stevanovich e o funcionário Luís Carlos Oliveira de Araújo, foram condenados, em primeira instância, por maus-tratos contra animais, verificados, em 2008, em operação do Ibama durante a permanência do circo em Brasília.

Todos esses fatos, aliados às cenas filmadas dentro dos circos brasileiros, revelam que circos com animais são cruéis, sim! E que a prática de explorar animais precisa ser banida, mas que o circo continue, com inovação, criatividade e sem sofrimento animal.


Abandono de animais pelos circos

Setembro de 1985: Um circo fechou em Campinas/SP e deixou seus dois leões passarem fome e sede. Os animais foram recusados pelos jardins zoológicos paulistas, que alegaram saturação de leões.

Abril de 2000, Jornal O Diário Popular: Atibaia/SP – Circo Bartholo abandona quatro leões dentro de uma jaula, em um terreno baldio da prefeitura, no bairro de Guaxinduva, zona rural de Atibaia/SP.

21 de abril de 2000, Jornal O Globo: Nova Iguaçu/RJ – Circo Vostok abandona sete leões em condições precárias, em um galpão na Lagoinha, em Nova Iguaçu.

4 de janeiro de 2003, Folha de S. Paulo: Mário Stankovich, proprietário do Circo da Romênia, abandona três leões dentro de duas jaulas, em uma praça no centro Sumaré/SP. 25 de janeiro de 2003, um dos leões veio á óbito.

6 de maio de 2002, Jornal Zero Hora: Eldorado do Sul/RS – Circo do México abandona duas leoas dentro de uma jaula, em uma propriedade de Eldorado do Sul, próximo à BR-290.

19 de abril de 2004, Diário de Pernambuco: Pajeú/Recife – Circo Hatari abandona um urso pardo adulto, dentro de uma jaula, em uma rua próxima ao centro da cidade. O urso estava subnutrido e era alimentado com fubá e água há quatro anos, segundo informações do próprio dono do circo.

Julho de 2005, TV Paranaense: Circo abandona leão em Irati/PR.

18 de outubro de 2005, TV Paranaense: Circo abandona um casal de leões em uma jaula, em condições precárias. Palmeira/PR

19 de dezembro de 2005, Jornal Globo Online: Circo abandona cinco leões na caçamba de uma carreta, no km 40 da rodovia MG-427, que liga Uberaba a Conceição das Lagoas/MG.

23 de abril de 2008, Paraná Online: São José dos Pinhais/SP – Circo Aurora abandona seis animais, entre eles três cavalos, duas lhamas e um urso.

28 de junho de 2008, Jornal Folha Online: Votuporanga/SP – Circo abandona leoa em uma carreta.


Fugas dos animais em circos

14 de fevereiro de 2000, Jornal O Dia: Itaguaí – Leoa do Circo Real da Espanha é capturada após fuga.

8 de agosto de 2000, Folha de S. Paulo: São Simão/SP – Seis leões, do American Country Circu, fogem e são mortos a tiros de armas e fuzis.

28 de novembro de 2001: Uma leoa do Circo Fantástico Show fugiu de uma jaula em Paracuru/CE, sendo perseguida pelo Pelotão da Polícia Militar, Ibama, entre outros. A fuga decorreu de um acidente de trânsito com a caminhonete que rebocava a jaula da leoa, que se abriu, permitindo a fuga.  A leoa foi morta a tiros pela Polícia Militar no dia 6 de dezembro de 2001.

7 de dezembro de 2001, Jornal O Globo: Paracuru-CE – Leoa Chitara, fugitiva de um circo, é capturada e morta a tiros.

20 de março de 2004, Jornal da Globo: Belém/PA – Leão abandonado por circo foge de um sítio. O animal ficava em uma jaula abafada e pequena, de apenas 3 metros quadrados, quando o mínimo necessário para um bicho do porte dele seria 100 metros quadrados.

27 de abril de 2003, Reuters: Moscou – Dois leões fogem do Circo de Sergueiev Possad após matarem o domador.

12 de novembro de 2003, Jornal Agora: São Paulo/SP – Bambi, elefanta do Circo Stankovich, foge para a Radial Leste, movimentada avenida da zona leste de São Paulo.

16 de dezembro de 2005, Jornal A Notícia: Campo Alegre/SC – Urso foge de circo e causa tumulto em Campo Alegre. O animal foi recapturado cerca de duas horas mais tarde, no quintal de uma residência no centro do município.

12 de maio de 2006, Jornal A Notícia: Palhoça/SC – Elefante foge de um circo.

14 de novembro de 2006, CBN Curitiba: Curitiba/PR – Pônei foge do Circo Áurea.

3 de julho de 2007, Agência do Estado: Curitiba/PR – Avestruz foge de circo. O bicho só foi pego porque caiu numa valeta quando fugia por uma BR movimentada

9 de dezembro de 2007, Portal Meio Norte.com: Cuiabá/MT – Leão foge da jaula de um circo.


Outros Acontecimentos

1980-2000: No Circo Di Napoli foi feita uma promoção perigosa durante vinte anos: quem bebesse uma lata de cerveja dentro de uma jaula com uma leoa ganharia doze latas de cerveja como prêmio. Essa promoção só foi suspensa em 2000, depois da morte de um menino atacado por leões de circo.

10 de abril de 2000, Jornal O Globo: Recife/PE – Quatro leões, do Circo Vostok, matam garoto durante o intervalo das apresentações. Os leões foram eutanasiados. Na autópsia verificou-se que os leões não comiam há muitos dias.

5 de setembro de 2000, Jornal Diário Catarinense: Xaxim/SC – Tigre do Circo Super Star morre por falta de comida. O veterinário que o examinou afirmou que o animal tinha desnutrição de último grau. Apesar de receber tratamento, seus órgãos não reagiram. A Polícia Ambiental encaminhou um termo circunstancial do ocorrido para a promotora do Ministério Público em Xaxim.

2001: Foi aberto processo no Ibama contra o Circo Garcia por maus-tratos aos seus chimpanzés. Foi denunciado que eles são usados até os quatro anos de idade para entreter pessoas (por aluguel) e, depois disto, são confinados em cubículos para somente procriarem. Depois dessa idade, o comportamento dos chimpanzés não é mais dócil. Os bebês são separados das mães para serem treinados; já aos adultos não é permitido socializar.

21 de março de 2004, Diário Catarinense: Penha/SC – Gato persa morre após cair de uma altura de 20 metros durante apresentação no Circo Beto Carrero.

Julho de 2004: Rio de Janeiro/RJ – Leão, em estado lastimável de saúde, é encontrado no Circo Koslov.

Outubro de 2003: Penha/SC – Morre Madu, elefanta que viveu anos no circo Di Napoli e passou o final de sua vida no Beto Carrero. O laudo dizia que a elefanta morreu com um raio na cabeça, apesar de ter vivido dentro de uma cerca eletrificada.

Janeiro de 2004: São Paulo/SP – Cerca de 130 animais do Zoológico de São Paulo morrem por envenenamento

Junho de 2004: Bauru/SP – Dois tigres-de-bengala, do Zoológico de Bauru, são eutanasiados, pois fugiram e os dardos com tranquilizantes não surtiram efeito.

Junho de 2004: Matelândia/PR – Morre leão que aguardava transferência após fechamento do Zoológioco de Matelândia.

Julho de 2004, Click RBS: Florianópolis/SC – Dois leões e dois tigres são apreendidos em um circo. Os bichos sofriam maus-tratos diários dos criadores. A fêmea teve suas unhas algumas presas arrancadas, além de estar cega de um olho.

Julho de 2004: Sorocaba/SP – Uma onça macho e um leão do Zoológico de Sorocaba foram eutanasiados, já que não tinham mais serventia.

28 de outubro de 2005, Jornal do Commercio: Campo Grande/RJ – Policiais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente descobriram um leão preso na casa do dono do Circo Koslov, Jésus Mario. “Baby”, de 15 anos, trabalhou no circo e, segundo o tutor, estava “aposentado”. Jésus Mario foi autuado em flagrante por maus-tratos aos animais e depois liberado.

9 de julho de 2005, Jornal Vale Paraibano: Campos de Jordão/SP – Dois tigres do Circo Stankowich adoeceram e morreram por conta do frio.

9 de fevereiro de 2006, Jornal Último Segundo: Itaboraí/RJ – Leão é encontrado com sinais de maus-tratos, dentro de uma jaula enferrujada, em frigorífico abandonado.

1 de agosto de 2008, Jornal G1: Cinco leões apreendidos em um circo em Antonina, no litoral do Paraná, foram levados ao Zoológico de Curitiba. Os leões estavam extremamente magros e machucados. O dono do circo deve pagar multa de R$ 6,5 mil.

12 de agosto de 2008, Uol Notícias: Fiscais do Ibama, funcionários do zoológico de Brasília e policiais militares cumpriram mandado de apreensão de bichos no Le Cirque, circo acusado de maus-tratos aos animais.


Alimentação

Há também o fato de que alguns circos colocam anúncios em jornais de compra de cães e gatos velhos para darem como alimento aos leões. Outros contratam crianças e jovens de baixa renda para capturarem cães e gatos das ruas, para o mesmo fim!

Fevereiro de 1995: O Circo Balmen dava cachorros e gatos vivos para seus três leões famintos em Diadema/SP, no ABC paulista. Segundo denúncias, quem doasse um animal doméstico podia assistir gratuitamente ao espetáculo circense.

Agosto de 1999: foi publicado em um jornal de Recife, por Marco Bahé, que o Washington Circus (circo mineiro) comprava gatos sob cotação de R$ 1,00 por cabeça. O objetivo era alimentar um casal de leões. O circo estava instalado na cidade de Ibimirim, município do Sertão Pernambucano.

7 de julho de 2001, no Jornal Primeira Mão havia um anúncio do Circo Di Nápoli, no qual se dizia o seguinte: COMPRO GATOS E CACHORROS velhos. Pagamos bem. Rua Miguel Mota, 125 (Celso Borracheiro – Circo Di Napoli).

Com informações da PEA

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