Hoje, no mercado que costumo fazer compras, escutei uma frase de um funcionário para um cliente que mexeu muito comigo: “Este aqui veio direto do matadouro pra cá. Foi congelado no matadouro e já veio”. Eles estavam na seção de carnes. Tudo embalado, “bonitinho”, com adesivo de “orgânico”. A palavra “matadouro” bateu forte na minha alma. Percebi o tamanho, o peso e a densidade desta palavra: MATADOURO – um lugar aonde se MATA, aonde se põe um monte de animais dentro para MATAR. Para MATAR e depois COMER. Desculpe a crueza da minha fala, mas esta é a realidade. Percebi como aquele diálogo inocente não tinha lastro com a realidade. Como aquela palavra “matadouro” foi dita banalmente, vazia de significado, como se ela não dissesse absolutamente nada. Como se a violência não existisse, como se os animais nunca tivessem existido, como se não tivessem sido mortos, como se aquelas coisas embaladas e colocadas à venda naquela vitrine não fossem pedaços de seus corpos. Entristece constatar que lugares como matadouros ainda existam, aos montes, e que nestes lugares aconteça, diariamente, uma matança legitimada, legalizada, propagada, vendida e consumida. “Se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos seríamos vegetarianos”, disse uma vez Paul McCartney. Matadouros são infernos na Terra. São campos de concentração e de extermínio em massa. Tive uma aluna que me contou que dos 8 aos 14 anos de idade teve que trabalhar matando animais, num matadouro familiar. Quando ela me contou, ela estava com 40 anos e ainda tinha pesadelos terríveis com os animais e com a morte. “Quando meus filhos me deixam nervosa, eu tenho medo de avançar neles, porque eu sei que eu tenho coragem de matar”. Em um relato para a BBC, um ex-funcionário de um matadouro do Reino Unido, responsável por garantir a morte de 250 vacas por dia, falou sobre os efeitos deste trabalho para sua saúde mental: noites perturbadas por pesadelos, depressão e pensamentos suicidas. Entre tantos horrores de sua experiência, ele descreve as vacas no corredor da morte tendo ataques de pânico, o assassinato de filhotes, uma grande caçamba no fim da linha de abatimento que era preenchida de centenas de cabeças de vacas. “Cada uma delas tinha sido esfolada, com o couro todo removido. Mas uma coisa ainda estava lá: os olhos. Sempre que eu passava por aquela caçamba, sentia como se aquelas centenas de pares de olhos estivessem me observando. Alguns deles eram acusatórios, sabiam que eu havia contribuído para suas mortes. Outros pareciam estar implorando, como se houvesse algum jeito de voltar no tempo e salvá-los”. No fim do relato, ele diz que até hoje, depois de anos fora do matadouro e curado da depressão, quando fecha os olhos para dormir, ainda vê centenas de pares de olhos o observando no escuro”. Matadouros existem. São lugares ocultos onde o ser humano pratica violências das mais cruéis e pesadas com outros seres. É tempo de abrirmos os nossos olhos para essa verdade, de atribuirmos significado justo e inteiro para palavras como “carne” e “matadouro” (ou “abatedouro”, como a indústria passou a denominar com o intuito de tirar o peso da palavra morte). Se esse texto fez sentido para você de alguma forma, se te fez parar e repensar, não feche os seus olhos, não se conforme, não aceite essa violência. Firma no que o seu coração sentiu e ajude os animais a sair deste ciclo de sofrimento. Mude a sua alimentação e conte comigo para te ajudar a fazer uma transição de forma saudável, tranquila, prazerosa e consciente. Vida aos animais e consciência à humanidade!