O matadouro de Mauléon e três funcionários do estabelecimento localizado no sudoeste da França estão sendo julgados pelo crime de maus-tratos a animais. O julgamento teve início nesta segunda-feira (17) e deve durar dois dias, segundo a associação de proteção animal L214, autora da ação judicial que tem como base imagens chocantes, registradas em 2016 através de câmeras ocultas, que mostram animais sendo mortos sem que tenham sido dessensibilizados, carneiros ensanguentados ainda conscientes e cabritos sendo cortados vivos.
Os funcionários e o matadouro são julgados não só por crueldade animal, mas também por não cumprir regras como a da obrigatoriedade de insensibilizar os animais, o que configura crime passível de multa no valor de € 750, o equivalente a cerca de R$ 3.651. O matadouro e o diretor do estabelecimento à época, Gérard Clement, atualmente aposentado, devem responder também por “falsificação sobre a natureza, qualidade, origem ou quantidade de uma mercadoria”, crime com pena de dois anos de prisão, além de multa de € 300 mil – aproximadamente R$ 1.460.695.
A ação judicial é apoiada por outras dez instituições de proteção animal, como partes civis. Entre elas, a Sociedade Protetora dos Animais (SPA) e a Fundação Brigitte Bardot. As informações são do portal RFI.
A porta-voz da L214, Brigitte Gothier, espera que “os sofrimentos cruéis infringidos aos animais, pelos operários ou pelo material defeituoso” sejam reconhecidos no julgamento. Não é a primeira vez que a entidade denuncia casos de abusos cometidos contra os animais. Fatos semelhantes já foram expostos pela ONG em relação a matadouros das comunas de Alès e Le Vigan. Sendo que, no caso da segunda comuna, um ex-funcionário foi sentenciado a oito meses de prisão, em abril de 2017, por crueldade contra animais. A L214 milita pela abolição do consumo de produtos de origem animal.
Projeto de lei
Enquanto o processo contra o matadouro e os funcionários é julgado, um projeto de lei que prevê sanções em caso de maus-tratos a animais em matadouros e no transporte é analisado pelo Parlamento Francês. A proposta prevê ainda a obrigatoriedade de haver uma vaga em cada matadouro destinada a um responsável pela proteção animal.
Nota da Redação: apesar da necessidade de punir o descumprimento de regras criadas para reduzir o sofrimento animal em matadouros e a prática de abusos, é necessário lembrar que os atos realizados por esses locais são, por si só, cruéis. Não há lei ou punição que seja capaz de por fim ao sofrimento desses animais, já que a única forma de fazê-lo é deixando de consumir produtos de origem animal para que, assim, os matadouros deixem de existir. Porém, enquanto existirem, independentemente de regras pré-determinadas e punições para maus-tratos, haverão fatos imutáveis: exploração e morte serão sempre exploração e morte, não havendo, portanto, uma forma de amenizar o horror gerado pelas práticas de explorar e matar seres vivos que querem viver e que devem ter o direito a existir sem que sejam forçados a servir aos humanos. Além disso, é preciso lembrar que o sofrimento animal vai além do físico e que a crueldade intrínseca à prática de matar seres vivos não se restringe a fazê-los sentir dor física – o que é, inclusive, bastante comum em matadouros – mas também ao fato de que eles são torturados psicologicamente.