Por Fátima Chuecco (da Redação)
Um dos mais cabulosos casos de matança de animais aconteceu aqui mesmo no Brasil, em 2012 e pode ter um desfecho no dia 4 de maio, na sala 142 do Foro Central Criminal da Barra Funda (SP), às 16h30. A audiência, seguida de debate e julgamento, é pública e por isso todos que se indignaram com esse caso podem assistir. Dalva Lina da Silva será julgada por crimes contra a fauna com o agravante da morte dos animais, pois, houve um flagrante com 37 animais, entre cães e gatos, mortos e ensacados na frente de sua casa. Na época o caso foi noticiado amplamente na mídia e chocou todo o país.
Imaginem dezenas de cães e gatos saudáveis, castrados, vacinados e prontos para adoção sendo cruelmente mortos com injeção letal aplicada por uma leiga em medicina veterinária e que, por conta disso, sofreram muito para morrer. Agora imaginem o que sentiu uma cachorrinha que teve o peito perfurado 18 vezes, numa tentativa insana de, provavelmente, localizar seu coração para injetar a droga mortal.
Inclusive, a cachorrinha foi morta no mesmo dia em que foi entregue à Dalva – um vídeo comprova isso. Até quem não curte animais percebe a gravidade do ato muito característico de psicopatas, ou seja, frio e indiferente à dor alheia, e mais: com um incontrolável desejo de fazer cada vez mais vítimas.
Essa pode ter sido a trajetória escolhida por Dalva, residente na Vila Mariana (SP) em 2012, para se livrar de todos os animais que lhe eram entregues na esperança de que ela encontrasse um lar para eles. O laudo toxicológico apontou que os 37 animais foram a óbito devido a uma alta dosagem de anestésicos injetados diretamente no coração. Todos eles, na maioria filhotes de gato, tinham uma perfuração no peito.
A médica veterinária Rafaela Costa Magrini explica que acertar o coração pode ser fácil apenas para quem estudou a anatomia animal. Ela diz que a perfuração no coração já causa incômodo e dor, mas com muito medo e estresse, que era a situação desses animais, o nível de dor aumenta bastante. Além disso, na casa de Dalva foram encontradas agulhas de grosso calibre. A veterinária esclarece que, dependendo do tamanho do animal, a agulha deve ser mais ou menos comprida, com maior ou menor calibre. Caso não seja dessa forma, o animal sentirá muita dor, pois, terão que ser feitas várias tentativas para acertar o coração. “O tipo de medicamento também influencia. Existe medicamento exclusivo para eutanásia que causa uma parada cardiorespiratória sem que o animal sofra, porém, vários profissionais só realizam esse procedimento, mesmo com esse medicamento, começando com uma anestesia geral”, comenta.
Vale lembrar ainda que filhotes de gatos podem oferecer pouca resistência, mas Dalva também matou gatos e cachorros adultos. “Só é possível realizar o procedimento intracardíaco sem ajuda de ninguém se o animal estiver muito doente, mas caso esteja saudável e forte precisará ser imobilizado de alguma forma”, diz a veterinária – o que leva a pensar que Dalva contava com ajuda de alguém, imobilizava os animais antes de matá-los ou que os bichos já estavam tão fracos que não resistiam. E todas as alternativas são horríveis.
Na casa onde Dalva residia havia duas outras casas menores no subsolo e numa delas vivia a filha mais velha, Alice Ballin Queiroz, de 22 anos que disse à polícia desconhecer o que a mãe fazia. Inclusive, por falta de indícios e testemunhas, Alice não foi processada nem mesmo por omissão de socorro a esses animais. Será que ela não desconfiava de tantos animais chegando vivos e “desaparecendo”? Será que ela jamais ouvia os choros, latidos, miados, pedidos de socorro?
Na parte superior na casa ficava o ponto mais macabro da história. Um quartinho sem janelas onde, provavelmente, acontecia os crimes. Uma antiga faxineira da casa teria contado à polícia que era proibida de entrar nesse recinto, mas nas raras ocasiões em que esteve lá para a faxina, viu sangue, fezes e urina. Na noite do flagrante o quartinho foi revistado: havia móveis velhos, jornais e gaiolas.
Qual a motivação?
Aparentemente, segundo relatos de vizinhos, Dalva não tinha problemas com dinheiro. Era viúva, podia pagar escola particular para duas filhas e tinha casa própria. Mas Dalva teria alegado à polícia que estava com dificuldade de encontrar adotantes e que não podia manter os animais. Então por qual razão continuava recebendo-os? E por que simplesmente não os devolvia ou soltava em qualquer lugar para que tivessem a chance de serem resgatados? Qual sua real motivação para matar?
Estudos feitos pelo FBI apontam que uma esmagadora parcela de psicopatas (mais de 80%) começa sua trajetória torturando e matando animais, às vezes na adolescência ou até mesmo na infância. É uma espécie de “treino”. No entanto, alguns podem não chegar a transferir sua obsessão por matar para pessoas e passam a vida vitimando animais indefesos. Por conta disso e para garantir maior segurança de pessoas e de animais, a partir do próximo ano, quem maltratar e matar animais nos EUA terá um julgamento igual ao de qualquer outro criminoso.
Os psicopatas podem ter diversos perfis, com maior ou menor agressividade perante suas vítimas. Podem praticar assassinato em série (ao longo de semanas, meses ou anos – conhecidos como serial killers) ou em massa (quando muitas mortes são cometidas ao mesmo tempo – como, por exemplo, casos em que atiradores invadem uma escola e matam diversas pessoas). Caso Dalva venha praticando esses crimes há anos, ela se encontra nas duas categorias. Mas essa pode nem ser a pior notícia. A pior é: psicopatas não têm cura. O prazer sádico de matar acompanha os psicopatas por toda a vida.
E eles são frios, perversos, mentirosos e sem qualquer sentimento de culpa, conforme relata a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Lima, autora do livro “Mentes Perigosas – O psicopata mora ao lado”. Além disso, possuem dupla personalidade, geralmente criada para enganar ou capturar as vítimas. Um desses personagens criados por psicopatas pode ser o de protetor – um perfeito disfarce para crimes contra animais. No dia 4 Dalva, que se divide entre uma casa na cidade de Agudos do Sul (PR) e um apartamento na Aclimação (SP), estará no banco dos réus. Um tempo atrás, em entrevista concedida à TV Record, no Paraná, ela disse que “ama os animais” e até se tornou vegetariana por causa deles. Cada uma daquelas “vidinhas”, largadas no asfalto depois de serem cruelmente mortas, foi testemunha disso que Dalva chama de “amor”.