O “santuário” para as grandes baleias que constitui os mares açorianos levou à realização de um inovador projeto de telemetria por satélite, que tem fornecido informação sobre os movimentos dos grandes cetáceos ao largo das ilhas e no Atlântico Norte. Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, o Programa de Telemetria por Satélite de Grandes Baleias é implementado no âmbito do projeto TRACE (Associação de cetáceos com o habitat em ecossistemas oceânicos, um estudo integrado).
De acordo com a edição portuguesa deste mês da publicação “National Geographic”, a investigação científica debruça-se sobretudo sobre a rota de três grandes mamíferos marinhos: a baleia azul, a baleia comum e a baleia sardinheira.
O trabalho de telemetria integra um projeto mais abrangente para o estudo da utilização de habitats por grandes predadores pelágicos, em curso pelo Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores e pelo Centro do IMAR desta mesma universidade. Na prática, as marcações dos “gigantes” que passam pelos mares açorianos, especialmente junto às ilhas do Pico e do Faial, são feitas através de transmissores colocados remotamente. Isto é, com recurso a uma arma de pressão de ar especial, que é ao fim e ao cabo uma adaptação do sistema pneumático de lançamento de cabos nas manobras da maioria dos navios.
O transmissor fica encaixado num tubo de PVC em forma de foguete, sendo este tubo depois libertado deixando o transmissor na camada adiposa subdérmica da baleia.
O investigador Rui Prieto explicou à “National Geographic” o processo de recolha de informação sobre os movimentos das grandes baleias: “os aparelhos implantados transmitem um código identificativo de cada vez que os animais vêm à superfície e estão programados para transmitir todos os dias. Se durante essa transmissão um satélite estiver por cima da baleia e for recebido um número suficiente de mensagens, a posição do animal é calculada e retransmitida para terra”.
E é assim que os dados de marcação de rotas começam a chegar à base de investigação no Faial, debitando uma média de duas a quatro posições por dia.
Nos passados meses de Abril e Maio os cientistas do DOP colocaram os primeiros dois transmissores de satélite em duas baleias azuis, a sul da ilha montanha. Chamaram simbolicamente aos cetáceos Morse e Freud.
O projeto TRACE revelou que enquanto Morse nadou para norte dos Açores, Freud manteve-se ao largo do Grupo Oriental. A telemetria por satélite permite aprofundar o conhecimento sobre a rota migratória dos grandes cetáceos e a zona de reprodução destes animais no Atlântico Norte. A expectativa é que em 2009 sejam marcadas seis baleias azuis, sete baleias comuns e quatro baleias sardinheiras.
Fonte: AO Online