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Mar de plástico ameaça a vida marinha

19 de agosto de 2018
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Se antes o plástico era tratado como mocinho, hoje ele é o vilão ecológico da vez: a cada ano, oito milhões de toneladas do material vão parar nas águas dos oceanos, levando 100 mil animais marinhos à morte, em média, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU) Meio Ambiente. E o cenário futuro não é nada animador – se continuarmos assim, até 2050, pode haver mais plástico que peixes nos mares, alerta a instituição. Para se ter uma ideia do quão esse vilão é duro de matar, alguns tipos de plástico, como o PET, usado em garrafas de refrigerante, levam até 200 anos para desaparecer da natureza. O segredo para essa resistência toda é que o plástico é feito de polipropileno ou poliestireno, materiais que não são biodegradáveis. E não é novidade dizer que quem sempre paga essa conta é a natureza.

Reprodução | FolhaPE

Para aves marinhas e animais de maior porte, como tartarugas, golfinhos e focas, o perigo está nas sacolas de plástico. Muitos ficam presos. No caso das tartarugas, há outro agravante: elas não conseguem diferenciar uma sacola de uma água-viva. Ao ingeri-la, sofrem falsa saciedade e, com o estômago entulhado de plástico, ficam incapazes de ingerir algo mais, morrendo de desnutrição. Mas, quando se pensa que o cenário não pode piorar, vem uma das maiores preocupações de especialistas que estudam o material: os microplásticos – o que todo plástico descartado um dia se tornará um. No oceano, o movimento das ondas com a luz solar fragmentam-no em minúsculas partículas – medindo até cinco milímetros de diâmetro, dificultando o recolhimento no meio ambiente.

“Partículas de microplásticos também têm sido detectadas em aves e mamíferos marinhos, possivelmente por meio da ingestão de peixes que já haviam acumulado microplásticos”, afirma o especialista em poluição e ecotoxicologia aquática e professor do Departamento de Zoologia da UFPE, Paulo Carvalho. Nem os pontos mais remotos do planeta estão a salvo dessa praga. Amostras de água e de neve recolhidas na Antártida pela ONG ambientalista Greenpeace, entre janeiro e março deste ano, revelaram a presença do material no continente de gelo. O estudo é parte de uma campanha global para criar o maior santuário marinho ao redor das águas da Antártida, com quase dois milhões de quilômetros quadrados, e proteger o ecossistema dos efeitos das mudanças climáticas e de atividades de pesca predatória. A petição pode ser assinada por meio da página eletrônica da ONG.

Paulo Carvalho alerta que essa ameaça não se limita à biodiversidade marinha. Na natureza, há um ciclo: as pessoas poluem e, no fim das contas, acabam sendo atingidas por essa poluição. Aquele atum que ingere os microplásticos, por exemplo, pode ter sido consumido por você num restaurante japonês. “Mexilhões e peixes têm se destacado como acumuladores de microplástico. Existe a possibilidade de que, tanto os microplásticos como os contaminantes associados a eles, sejam transferidos para o homem. Mas pesquisas específicas ainda precisam ser realizadas para avaliar o risco associado a essa ingestão”, afirma.

Um outro aspecto que tem sido estudado é que diversas partículas de microplásticos podem absorver contaminantes químicos, como compostos de petróleo, produtos farmacêuticos ou pesticidas presentes na água. “Uma vez engolido, os efeitos prejudiciais desse microplástico contaminado se tornam ainda maiores que a ingestão em si”, complementa Carvalho.

Reprodução | FolhaPE

Canudo: a bola da vez
É incontestável que os canudinhos plásticos estão longe de ser o principal problema quando o assunto é poluição por plásticos. Mas você já parou para pensar para onde vai o canudo plástico depois que termina sua bebida? Cinco minutos na sua boca, quase 500 anos no oceano. É essa a relação usada por ambientalistas para comparar a relação entre o uso e a degradação do material no meio ambiente. Porém, o “inofensivo” canudo de plástico, que por muito tempo foi um dos melhores amigos das redes de fast-food, hoje está tendo o seu conceito reavaliado.

Nesta semana, a rede McDonald’s anunciou que tentará desestimular o uso do apetrecho nas franquias do Brasil. “Se antes entregávamos o canudo na bandeja do cliente, agora não é mais assim. Quando um cliente pede (um canudo), nossos funcionários já pedem para ele avaliar se, de fato, precisa fazer uso do canudo. É pouco diante do problema que temos com o plástico, mas a campanha visa introduzir essa consciência aos poucos. Não podíamos ficar parados enquanto essa é a discussão atual”, justifica o diretor de Desenvolvimento Sustentável do McDonald’s no Brasil, Leonardo Lima.

Até os governos também entraram na discussão, com vetos no Rio de Janeiro, e, no Recife, os famosos canudinhos de plástico podem estar com os dias contados. Se o projeto de lei nº 130/2018 for aprovado, a Capital pernambucana será a primeira do Norte/Nordeste a proibir o uso do material nos estabelecimentos comerciais e se juntará ao Rio de Janeiro na lista das cidades brasileiras que extinguiram o canudo. Em substituição, os locais terão que oferecer canudos de papel biodegradável ou reutilizável. A medida, de autoria do vereador Eriberto Rafael (PTC), está sob análise na Câmara Municipal do Recife pela Comissão de Legislação e Justiça.

A fim de pressionar as autoridades pela aprovação do PL, a ONG Meu Recife lançou a campanha “Recife sem Canudos”, convocando a população a defender essa bandeira e, assim, liberar a medida o mais breve possível para que outras comissões votem em plenário. O projeto de lei, inclusive, será discutido em audiência pública na Câmara Municipal do Recife, no Centro, no próximo dia 31 de agosto, às 9h.

Como zerar o consumo?
Para responder a essa pergunta, é preciso primeiro refletir sobre onde ele está presente. Fios das roupas, tintas, eletrodomésticos, carros, esfoliantes de pele, resinas dentárias, seringas, bijuterias e até nos esmaltes de unha. O plástico está em tudo, praticamente. Mas, falando em termos mais palpáveis, é possível sim, ao menos, diminuir o lixo plástico no mundo ao reduzir o seu consumo. Pela regra dos três erres, primeiro devemos reduzir o consumo, em segundo, reutilizar e, por último, reciclar.

E já tem gente comprando a ideia de banir o uso de materiais plásticos. A estudante Luane Barbosa, 20 anos, é um exemplo disso. Pequenas atitudes adotadas no dia a dia a fizeram ver que é possível, sim, torná-lo dispensável. Seja fazendo uso das ecobags (bolsas reutilizáveis) em supermercados, portando na bolsa duas garrafas (uma para água e a outra para o suco) ou recusando canudos e copos plásticos. “Ter uma vida sustentável não é apenas olhar para os animais e para a floresta, mas também olhar para o nosso futuro. Preservar é garantir os recursos naturais para quem virá. Tudo o que está acontecendo na Terra hoje está ligado à forma como a gente descarta incorretamente o nosso lixo”, observa.

No caso do consultor de intercâmbio Thomas Brito, 30, essa consciência ambiental vem desde os tempos de criança, quando ele observava sua mãe trabalhar com material reciclado. Mas, ganhou reforço quando ele fez intercâmbio. “Lá em Dublin trocam quase tudo que é descartável, principalmente, o que for de plástico. Essa é a importância de uma sociedade com boa educação. “Em casa já separo o orgânico do reciclável para agilizar no recolhimento e, no trabalho, cortamos o uso de copos de plásticos. Cada um tem sua garrafa, evitando o uso desnecessário.”

Na Capital pernambucana, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), remove mensalmente 75 mil toneladas de lixo, mas a instituição não dispõe de dados sobre o volume de plástico retirado das ruas. A autarquia disponibiliza opções para o descarte sustentável do plástico. Na Cidade, são 67 pontos de entrega voluntária (PEVs) e dez ecoestações, nos bairros do Ibura, Imbiribeira, Campo Grande, Totó, Cohab, Torrões, Torre, Arruda, Pina (Via Mangue) e Iputinga. Segundo a Emlurb, uma média mensal de 223 toneladas de materiais recicláveis, entre eles, o plástico, são destinados para as nove cooperativas apoiadas pelo município.

Fonte: FolhaPE

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