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Manifestantes se reúnem em protesto pelo cão enforcado em São Paulo

14 de março de 2010
6 min. de leitura
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Por Lilian Regato Garrafa (da Redação)

Neste domingo de sol, muitas pessoas deixaram de passear com suas famílias ou aproveitar o dia de descanso para se juntarem em um protesto no bairro do Ipiranga, em São Paulo. A motivação foi o bárbaro crime cometido por um homem chamado Ailton Teixeira, que assassinou seu cão por enforcamento no dia 4 de março deste ano. Uma vizinha de Ailton testemunhou o crime e acionou protetores animais, que registraram um boletim de ocorrência no 17º distrito policial. O corpo do cão foi levado para necropsia, cujo laudo sairá amanhã (segunda-feira, 15). Com este laudo em mãos, o próximo passo será o pedido de resgate dos demais animais que se encontram sob a tutela do agressor: dois cães, um papagaio e um curió (estes últimos, inclusive, por serem animais silvestres, estão ilegalmente em sua residência).

Ativistas preparam-se para iniciar protesto e cortejo

O caso provocou a comoção não só de protetores, mas também de pessoas comuns, vizinhos, transeuntes, internautas. Cerca de 150 pessoas trajando preto em sinal de luto pela morte do animal compareceram às 10h da manhã ao bairro e juntaram-se em uma caminhada carregando faixas com mensagens de protesto até a delegacia que abriu o processo.

Em frente à 17ª DP, os manifestantes se posicionaram silenciosamente com as faixas, enquanto representantes do grupo e o advogado Dr. Marcello Bittencourt Monteiro Filho, que está cuidando do processo, foram recebidos pelo delegado de plantão, Dr. Leandro Rocha Pereira. Este esclareceu que, pelo fato de não ter havido flagrante, uma vez que o criminoso fugiu, caso ele fosse levado à delegacia, seria apenas ouvido, assinaria um termo de responsabilidade, o caso iria para o Ministério Público e o indívíduo pagaria o crime com uma cesta básica. Por isso, o processo foi aberto e, com a junção de provas e laudos anexados ao processo, é que se tentará comprovar o crime cometido, incluindo as ameaças de morte que o indivíduo tem feito à pessoa que denunciou o assassinato e deve em breve prestar queixa.  O caso foi encaminhado ao DPPC (Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania), que tem atribuição de registro para crimes ambientais.

Manifestantes ocuparam todo o calçadão em frente à delegacia

O delegado mostrou-se sensível à causa, declarando-se vegetariano e lembrando que faltam à população a consciência e informação.

Ao saírem da delegacia, os ativistas encaminharam-se à rua onde Ailton reside, posicionando-se pacificamente em frente à sua residência, manifestando palavras de ordem e exigindo punição pelo crime cometido. A casa estava fechada e ninguém foi visto lá dentro. Leoni Bacci, ex-vizinha de Ailton, declarou ter-se mudado de lá por conta das atrocidades que viu o acusado cometer.

Ativistas protestam em frente à casa do assassino

Dr. Marcello, advogado que está no caso desde o início e o acompanhará até o final,  afirma que a legislação é fraca e, caso Ailton seja condenado pelo crime contra o cão, provavelmente responderá ao processo em liberdade, pois a pena máxima não ultrapassaria dois anos. Por isso serão anexados ao mesmo processo as ameaças que ele tem feito à testemunha e a manutenção ilegal de animais silvestres em cativeiro. Infelizmente , perante a lei, o crime contra um cão não tem a mesma importância que a ameaça a uma testemunha. O doutor deixa ainda um alerta aos que presenciam maus-tratos a animais: “Eu faço um apelo à população: não sintam medo de denunciar. A polícia e os advogados estão aí pra isso. Se você tem medo de alguma represália, consulte um advogado, consulte a delegacia do seu bairro, ou um promotor. Nós não estamos mais na idade da pedra. Não podemos mais aceitar esse tipo de crime. Os animais também têm direito à vida. Não sintam medo de denunciar, porque tem muita gente esperando a sua denúncia para fazer o cumprimento da lei.”

Ailton já tem históricos de maus-tratos contra animais e passagem pela polícia, o que pode fazê-lo perder a primariedade como réu. Além disso, há algum tempo foi visto espancando um pit bull que amarrou em uma árvore.

Ironia: na porta da casa do assassino um alerta contra a periculosidade do cão

O advogado afirmou também já ter tentado retirar os animais de Ailton, que se recusou a entregá-los. O temor atual é de que ele venha a cometer novos crimes, por isso aguarda-se do juiz um mandado de busca e apreensão para retirada dos animais que ainda se encontram na casa. Acredita-se que não apenas os animais que convivem com ele estejam correndo risco, mas também os filhos, a mulher e quem quer que passe pelo seu caminho. Estudos comprovam que 40% das pessoas que cometem crimes com animais farão o mesmo com pessoas.

Velas foram acesas pelo cão na calçada da residência

Fabio Paiva, coordenador geral do Grupo de defesa Holocausto Animal, esteve presente e expressou sua opinião sobre o caso e a importância de que ativistas se manifestem: “A gente sabe que, se este sujeito for condenado, o máximo que ele iria pagar seria uma cesta básica. Isso é suficiente para um ato como o que ele cometeu? Não. Então, em termos de legislação, enquanto não tivermos um político verdadeiramente do nosso lado, uma pessoa que se possa dizer que é da defesa animal e não se corrompe ao chegar ao poder, não teremos leis. Um sujeito desses merecia no mínimo uma cadeia. Mesmo que fossem, 30, 60 ou 90 dias de prisão – para sentir na pele e pagar um pouquinho do que ele fez. Por isso eu acho válido esse tipo de manifestação, para informar a população, para que a vizinhança não se acovarde, pois notei que os moradores daqui têm medo de dar entrevista. A manifestação é válida não no sentido da aplicação da lei, pois esta não vai ter mesmo, mas para que as pessoas saibam que elas não estão sozinhas, que existem pessoas que se dispõem a sair nas ruas e se manifestar por um ‘simples’ cachorrinho.”

 

Histórico do caso: http://caodoipiranga.blogspot.com

Abaixo-assinado: http://www.petitiononline.com/ipiranga/petition.html

 

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