Pesquisa realizada em clariras artificiais abertas para exploração de petróleo e gás natural na região do Rio Urucu, no Amazonas, mostra que a solução para a degradação da região pode estar na ecologia da própria floresta.
A jovem cientista Fernanda Santos, sob orientação da mastozoóloga Ana Cristina Mendes de Oliveira (UFPA) analisou os registros de mamíferos encontrados ao longo de quatro trilhas percorridas diariamente, nos períodos seco e chuvoso, ao longo de 2008. Ela descobriu que diversas espécies ajudam a restaurar a floresta, principalmente por meio de dispersão de sementes. O veado vermelho, a onça pintada e os primatas são algumas delas.
Segundo Ana Cristina, as clareiras abertas para prospecção de petróleo e gás natural são pequenas (no máximo 3 hectares), e não causam grandes impactos à fauna de mamíferos. A área estudada está situada no município de Coari, a 600 km de Manaus. A região abriga a Base Operacional “Biólogo Pedro de Moura” (BOGPM) ou Base Petrolífera de Urucu, mantida pela Petrobrás para prospecção e transporte de petróleo e gás natural.
As pesquisas de campo, empreendidas ao longo de 2008, possibilitaram, num primeiro momento, identificar as 40 espécies de mamíferos de médio e grande porte que vivem na região do Rio Urucu. Do total de espécies inventariadas, apenas sete foram vistas dentro das clareiras. São elas: paca, cutia, tatu, veado, onças-pintadas e onças. As demais, como os primatas, foram vistos no entorno dessas áreas devastadas. “Esta região é uma das que apresenta a maior riqueza de primatas da Amazônia e uma das maiores do planeta”, revela Ana Cristina.
Ainda segundo a pesquisa, os primatas inventariados na região de exploração de gás no Rio Urucu são, em grande parte, dispersores de sementes, pois têm potencial para levar esses embriões vegetais para dentro das clareiras, onde poderão se desenvolver e resultar em novas árvores.
A dispersão de sementes ocorre, por exemplo, quando o animal engole a semente e, quando da defecação, ela ainda está apta para germinar. Ana Cristina menciona, também, o exemplo da cutia – animal que tem o hábito de enterrar a semente para guardar, procedimento que acaba favorecendo a dispersão e germinação das sementes. Assim como a anta, as cutias também foram bastante observadas nas clareiras do Urucu.
Como conclusão de sua pesquisa, Fernanda Santos afirma que “as clareiras criam novas condições ambientais”. Ana Cristina Oliveira, orientadora do trabalho esclarece que, quando ocorre a abertura de uma clareira, a derrubada de árvores possibilita uma maior penetração do sol na localidade, o que causa mudanças na umidade, na temperatura e no solo, que fica mais exposto e, consequentemente, mais compactado.
O estudo integra a Rede CTPetro Amazônia, formada pela cooperação entre várias instituições de pesquisas, dentre elas, o Museu Emílio Goeldi e a UFPA, e coordenada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Fonte: Estadão