Uma pesquisa divulgada na semana passada aponta que peixes podem sofrer de forma muito semelhante aos mamíferos, incluindo humanos. De autoria da pesquisadora Lynne Sneddon, do Instituto de Biologia Integrativa da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, o estudo afirma que os peixes hiperventilam e deixam de se alimentar quando estão sofrendo.
‘Quando sujeitos a um evento potencialmente doloroso, os peixes mostram mudanças adversas no comportamento, como suspensão da alimentação e atividade reduzida, que são interrompidas quando recebem um medicamento para alívio da dor”, informa a autora.
A pesquisa deixa claro que se os peixes experimentam dor, isso tem importantes implicações na forma como os tratamos. Além disso, sustenta que a pele dos peixes é sensível, o que acaba exigindo cuidado na forma como eles são remanejados.
Lyne Sneddon também percebeu que quando peixes em cativeiro recebem algum estímulo doloroso, eles esfregam a boca na lateral do tanque da mesma forma que esfregamos os dedos dos pés.
‘Quando os lábios do peixe recebem um estímulo doloroso, eles esfregam a boca contra a lateral do tanque, da mesma forma que esfregamos os dedos dos pés”, enfatiza e acrescenta que os animais são capazes de detectar quando são feridos. E quando isso acontece, um “breve reflexo” é indicativo da tentativa em se afastar do mal que está provocando a dor.
O estudo intitulado “Fish experience pain with ‘striking similarity’ to mammals” e publicado na revista Philosophical Transactions, da Royal Society, também sustenta que “o teste para determinar se um animal sente dor é se há alterações em seu comportamento” e, sem dúvida, os peixes provam que sim.
Além disso, a publicação defende que há evidências de que o sistema nervoso dos peixes tem os mesmos receptores do sistema nervoso humano.
Não estendemos nossa compaixão aos peixes
Outros estudos também defendem essas semelhanças. Mais um exemplo é “Fish Intelligence, Sentience and Ethics”, publicado na revista Animal Cognition. No trabalho, o professor Cullum Brown, do Departamento de Ciências Biológicas da Macquarie University, em Sydney, na Austrália, escreveu, baseando-se em suas pesquisas, que peixes têm suas próprias tradições, inteligência sofisticada e capacidade de cooperação e reconciliação, além de facilidade em reconhecer uns aos outros.
Ademais, alguns sentidos dos peixes são superiores aos dos seres humanos. “O nível de complexidade mental dos peixes está no mesmo nível de outros vertebrados, e há evidências de que eles podem sentir dor de maneira semelhante aos seres humanos”, registrou.
Um dos animais mais explorados pela humanidade, os peixes são quase sempre “colhidos” em ações violentas praticadas pela indústria pesqueira global. Também são as maiores vítimas da aquicultura intensiva e comumente são reduzidos a animais de estimação e objetos de pesquisa. “Os peixes raramente recebem o mesmo tipo de compaixão que oferecemos aos vertebrados de sangue quente. Parte do problema é a grande diferença entre a percepção das pessoas sobre a inteligência do peixe e a realidade científica”, argumentou Cullum Brown.
O professor defende que as pessoas se conscientizem sobre a importância da vida dos peixes, porque disso depende a percepção pública que orienta as políticas governamentais. O reconhecimento da senciência e da inteligência de um animal normalmente é o que guia a nossa decisão de incluí-los em nosso círculo moral.
“Muitos pesquisadores sugerem que se um animal é senciente, então provavelmente pode sofrer e, portanto, deve ser oferecida a ele alguma forma de proteção formal [o que é o caso dos peixes]”, observou Brown.
O pesquisador também analisou a capacidade de cognição dos peixes partindo da percepção sensorial. Isto porque essa percepção oferece evidências de que os peixes possuem habilidade de cognição que são mais evoluídas do que a de outros animais.
Esse estudo sobre a inteligência e a senciência dos peixes e a importância disso no contexto das considerações éticas vai ao encontro do que escreveu a bióloga Victoria Braithwaite, professora da Universidade Estadual da Pensilvânia, no livro “Do Fish Feel Pain?”, publicado em 2010. Na obra, Victoria afirma que peixes são seres sensíveis que podem sentir tanta dor quanto pássaros e mamíferos, e até mais do que humanos recém-nascidos.
Saiba Mais
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e com a organização britânica Fish Count, todos os anos pelo menos 970 bilhões de peixes são mortos em seu próprio habitat em decorrência da ação humana, e o total pode chegar a 2,74 trilhões.
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