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CRIME E IMPUNIDADE

Mais de um abandono por dia: câmera registra rotina de animais deixados na porta da Suipa, no RJ

11 de janeiro de 2023
4 min. de leitura
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Foto: Reprodução/TV Globo

Imagens gravadas por uma câmera instalada em frente ao portão de entrada da Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa), no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, mostram uma triste rotina: o abandono de animais. Uma das instituições mais tradicionais do Rio no acolhimento de cães e gatos está superlotada. Cerca de 40 animais são deixados na instituição por mês.

A ideia era reforçar o monitoramento de segurança no local, mas o que se vê são flagrantes de abandono.

Em um deles é possível ver duas pessoas atravessando apressadas a movimentada avenida que passa na comunidade do Jacarezinho. Uma delas está com um pano vermelho e o coloca no chão. A outra, que carregava um cachorro, o coloca ao lado.

O porteiro da Suipa percebe a situação e corre para falar com o homem que ainda está no portão, enquanto a outra pessoa sai correndo. O animal foi deixado na calçada.

“Ele ainda tem o animal como objeto e eu não tenho como objeto. É uma vida. Uma vida que sente, que sofre”, diz o diretor presidente da Suipa, Marcelo Marques.

Todo mês, cerca de 40 animais são abandonados na porta da Suipa.

Foto: Reprodução/TV Globo

Um desses casos chamou a atenção de Marcelo na hora em que aconteceu. Ele estava em uma sala, na frente da tela que monitora as câmeras de segurança, e viu a cena. Era mais um abandono na calçada.

Um homem se aproxima com um cachorro. Quando o porteiro abre o portão, o animal entra, e o homem vai embora.

“Eu, lá de cima, das câmeras, já percebi que seria abandono e desci correndo”, contou.

Na imagem, Marcelo aparece de blusa azul correndo até o portão.

“Chego aqui e ele fugiu. Abordei eles. Eles voltaram e perguntei o que estavam fazendo aqui. Eles informaram que não era dele, que ele achou. E você vê que não é.”

Marcelo ainda conversa com o homem na calçada, mas não adianta. Ele vai embora sem o cachorro.

Os flagrantes mostram que o perfil de quem abandona é bem diverso.

Em outro flagrante, uma mulher se aproxima da Suipa com um cachorro na coleira. Era quase meio-dia, horário de bastante movimento na rua em frente à instituição. Mesmo assim, ela não se intimida e amarra o animal no portão, que fica desesperado.

“Eles ficam chorando, olhando pra todos os lados, procurando pelo seu tutor. A gente coloca pra dentro e eles não querem entrar, querem sair pra ir atrás e é um desespero”, fala a atendente Euzinete Abrantes.

O veterinário João Wassita explica que os animais deixados são, geralmente, saudáveis.

“O mais importante a gente faz, dá carinho, medicação, assistência, mas o quadro de depressão. Não há medicamento que reverta isso. É tristeza mesmo. O animal chega, fica dois, três dias, amuado no cantinho, não come. Não se alimenta, a imunidade baixa. Fica propenso a doenças e infelizmente acaba vindo a óbito por depressão”, conta.

No início do ano, o número de cachorros deixados na porta da Suipa aumenta e chega a 60 por mês.

Os funcionários da ONG suspeitam que as viagens de férias sejam o principal motivo.

Além de cruel, o abandono de animais é crime por ser considerado uma forma de maus-tratos. Trata-se de um delito ambiental previsto em lei, com pena de 3 meses a um ano de prisão.

Há 12 anos, Euzinete fica frente a frente com pessoas que estão prestes a cometer o crime.

Em uma sala, ela recebe e cadastra os animais que chegam. Muitos vêm na mão dos tutores.

“Tem gente que fala que achou no lixo e trouxe para cá. Você sente quando a pessoa fala a verdade. Muitas pessoas mentem. Tanto mentem que quando deixam o animal aqui, o cachorro fica desesperado querendo ir atrás da pessoa.”

São cerca de 25 por mês que conseguem um novo lar, quase a metade do número de abandonos.

Foto: Reprodução/TV Globo

Hoje há 2.200 animais domésticos vivendo na Suipa. O custo para mantê-los é de R$ 600 mil por mês. Todos os recursos vêm de doações voluntárias, já que a instituição não recebe nenhum dinheiro público.

Por isso, a cada suspeita de que mais um cachorro vai ser deixado na calçada, os funcionários tentam conscientizar quem está junto.

“Eles não têm a noção de que eles sofrem tanto quanto a gente”, diz Euzinete.

Fonte: G1

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