Um estudo liderado por cientistas brasileiros estimou que 6.389 onças-pintadas (Panthera onca) vivem em 22 áreas protegidas da Amazônia. A pesquisa foi liderada pelo doutorando da Wildlife Conservation Research Unit (WildCRU), da Universidade de Oxford, e pesquisador associado do Instituto Mamirauá, Guilherme da Costa Alvarenga.
O estudo combinou diferentes ferramentas como análise de imagens capturadas em 40 armadilhas fotográficas instaladas nas 22 áreas protegidas, além de inclusão de variáveis estatísticas que influenciam na presença de onças em determinadas localidades. Também foram analisadas pesquisas realizadas nas mesmas localidades entre 2005 e 2020.
A onça-pintada é uma espécie topo de cadeia ameaçada de extinção e já perdeu aproximadamente metade de sua área de distribuição histórica. A Amazônia abriga a maior população desses animais do planeta, com florestas contínuas de grande extensão que, muitas vezes, são parte de áreas protegidas. Até então, dados sobre a real população e distribuição de onças pelo bioma eram escassos. A pesquisa foi motivada pela busca por compreender como essa população de grandes felinos está distribuída pelo bioma e de que forma diferentes características da paisagem influenciam nessa distribuição.
Áreas com interferência humana precisam ser maiores
Dentre as 22 áreas protegidas avaliadas pelo estudo, estão unidades pertencentes à Amazônia colombiana, equatoriana, peruana e brasileira, cobrindo ambientes costeiros do bioma e florestas distintas de terra firme, igapó e várzea. As pesquisas foram conduzidas em áreas sob diferentes níveis formais de proteção (como parques nacionais de proteção integral, reservas extrativistas de uso sustentável e terras indígenas), cobrindo diversas áreas com diferentes pressões exercidas pelo ser humano.
Uma das relações que a pesquisa evidenciou foi que, em ambientes com mais interferência humana (ou Índice de Pegada Humana, HIF, do inglês), as onças tendem a ter uma área de vida maior. Esse padrão pode ser explicado, possivelmente, devido a menor qualidade dos hábitats e menor quantidade de presas disponíveis, fazendo com que os animais precisem expandir sua área de vida em busca de alimento.
No Pantanal, por exemplo, estima-se que vivam 1.668 onças em todo o bioma.
Terras indígenas e unidades de conservação são essenciais
A perda e a fragmentação de hábitat, ambas causadas pelo avanço do desmatamento, são as principais ameaças às onças-pintadas na Amazônia. No entanto, esse processo também desencadeia outras ameaças significativas para a espécie, como a redução na disponibilidade de presas e o aumento da caça direta, seja por retaliação ou medo.
Atualmente, a conservação de unidades de conservação e terras indígenas sofre ameaças constantes, seja pela mineração ilegal, por propostas legislativas que vão na contramão da proteção, como a questão do “marco temporal“, seja por iniciativas que visam reduzir ou enfraquecer essas áreas.
“Os resultados apontam a importância destas áreas protegidas para a proteção não só das onças, como um predador topo de cadeia, mas da biodiversidade como um todo. Garantir a preservação dessas áreas não é apenas uma necessidade, mas uma obrigação moral que não deve ser negociada”, complementou o pesquisador Guilherme.
Fonte: Fauna News