A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga um caso de extrema crueldade que resultou na morte de mais de 50 aves silvestres em um condomínio residencial de Vicente Pires. O caso mostra a visão antropocêntrica e descartável que a sociedade frequentemente impõe a qualquer vida que ouse “incomodar” a rotina humana.
As vítimas foram rolinhas e sabiás, símbolos da fauna brasileira, que foram mortos pela aplicação de uma substância adesiva nos muros do local. A medida, encomendada por um morador e executada por uma empresa de dedetização, tinha como objetivo impedir que os animais pousassem ou transitassem pela área.
O método, no entanto, é lento, agonizante e invariavelmente letal. As aves ficavam presas pela cola, incapazes de se libertar, e morriam de exaustão, fome, desidratação ou estresse.
A denúncia chegou à Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA) na segunda-feira (29/09) através de uma advogada da causa animal, que encaminhou vídeos e imagens que comprovam a barbárie. As cenas mostram a dimensão do sofrimento infligido aos pássaros inocentes.
Tentativas de resgate
Uma moradora, que testemunhou as consequências do ato, relatou à polícia a cena estarrecedora. Ela contou que o próprio síndico do condomínio, um policial aposentado, ficou consternado com a crueldade. Em um ato de compaixão alguns moradores tentaram salvar as aves sobreviventes. Utilizaram farinha para tentar remover a cola e, em casos extremos, precisaram aparar partes das asas dos animais para facilitar a limpeza, um sacrifício necessário para lhes dar uma chance de vida.
No local, os policiais encontraram na lixeira pelo menos cinco aves mortas, incluindo uma simbólica sabiá-laranjeira, cujo canto é uma das trilhas sonoras mais amadas do cerrado. Os animais que sobreviveram ao trauma foram resgatados e encaminhados ao Hospital Público da Fauna Silvestre (HFAUS), onde receberão atendimento veterinário e passarão por um longo processo de reabilitação antes de, espera-se, poderem retornar à liberdade.
Investigação
A DRCA instaurou inquérito para investigar os responsáveis por maus-tratos e crime ambiental. A legislação brasileira prevê que o uso de métodos cruéis contra animais silvestres pode resultar em detenção e multa.
O caso mostra mais uma vez como a sociedade, em nome da conveniência, trata vidas como meros obstáculos a serem eliminados. Cada rolinha e sabiá que agonizou naquele muro é a confirmação de uma mentalidade que insiste em enxergar a vida não humana como descartável.