Dois terços da população mundial de cagarros, espécie emblemática do Arquipélago dos Açores, em Portugal, utiliza as ilhas para nidificar. No momento da saída dos ninhos, as crias, que são sensíveis às luzes de iluminação artificial, confundem-se e acabam caindo nas estradas antes de conseguirem chegar ao mar e iniciar uma viagem que demorará, no mínimo, três anos.
Para ajudar as aves a ultrapassarem essa primeira barreira sem serem atropeladas, desde meados dos anos 90, no Outono, são organizadas brigadas noturnas de salvamento em todas as ilhas do arquipélago. Até agora, as Brigadas foram responsáveis por 2.373 salvamentos por todas as ilhas, principalmente nas ilhas de S. Miguel, S. Jorge, Pico e Faial.
Na ilha de S. Jorge é onde aparece um maior número de aves mortas nas estradas (12% no total). Já a ilha das Flores destaca-se por ser mais segura, onde apenas 2% dos cagarros são encontrados mortos. A ilha do Corvo apresenta um salvamento de cagarro para cada três habitantes da ilha.
Apesar dos resultados na Ilha de S. Jorge, o diretor regional para os Assuntos do Mar, Frederico Cardigos, destaca “uma redução de 3% desde o início da campanha o que, possivelmente, indica uma mudança de atitude dos automobilistas que, com uma condução mais atenta, foram sensíveis ao apelo[ de conservação de espécie]”.
Segundo Cardigos, “o essencial é realçar a solidariedade de pessoas e instituições. Os números escandalosos que tínhamos de cagarros mortos ou salvos em locais com forte iluminação já não acontece mais. Isso apenas aconteceu como consequência do envolvimento na campanha de estruturas portuárias, aéreo portuárias, produção de energia elétrica, municípios e outros que tiveram um real esforço para, nesse período, diminuir a iluminação”.
Afirma ainda que, “ao mesmo tempo, a participação de cidadãos, organizações ambientais, escolas, bombeiros, forças policiais, órgãos de comunicação social e funcionários da administração regional, teve resultado positivo no salvamento da grande maioria das aves. Tem sido um trabalho exemplar. Podemos melhorar, mas estamos a fazer uma grande diferença”.
“É importante saber, qual é o número, local e pessoas envolvidas nos salvamentos e quantas aves são salvas, pois, apenas com esses dados podemos verificar o impacto da mortalidade urbana na população de cagarros e, deste modo, aferir se, com o contributo da Campanha, a população dessas aves estará salvaguardada. Esta Campanha é determinante para a sobrevivência da sub-espécie Calonectris diomedea borealis”, afirmou o cientista Joel Bried, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, em palestra sobre o tema, conforme divulgado pela ANDA.
Embora os resultados finais sejam apresentados apenas após a conclusão da Campanha a 15 de novembro, estão participando nas ações de 2010, centenas de pessoas e dezenas de entidades nas nove ilhas do Arquipélago dos Açores. A Direção Regional dos Assuntos do Mar relembra que é absolutamente essencial manter a integridade física dos participantes na Campanha. Por essa razão, todo o cuidado é necessário, sendo altamente recomendada a utilização de coletes refletores e ter atenção especial aos outros veículos em circulação. Também não se deve subestimar a força do bico dos jovens cagarrosm, por isso aconselha-se a utilização de um casaco velho ou de uma toalha para recolher as aves.
“O sucesso da Campanha de 2010 deve-se ao empenho de todos os envolvidos,” salientou o diretor regional, concluindo que “de fato, e como diz o slogan, “o cagarro agradece!”.
Para mais informações sobre o cagarro, sobre a campanha e sobre como participar escreva para [email protected], consulte o site http://soscagarro.azores.gov.pt.
Fonte: Jornal Diário