Mais de três quartos das pessoas de 35 nações responsáveis por dois terços do dióxido de carbono (CO2) emitido a nível global concorda com a criação de um imposto de carbono, adianta um inquérito feito pelo Banco Europeu de Investimento (BEI), publicado nesta segunda-feira com dados recolhidos em 2023. Este imposto taxaria de uma forma proporcional os cidadãos e empresas cujos rendimentos são fruto de actividades com impacto no ambiente, como a extracção e o uso de combustíveis fósseis, responsáveis pelo aumento do efeito de estufa. Quanto maior for o impacto, maior seria o montante taxado, que reverteria para financiar medidas ligadas à emergência climática.
No caso do bloco dos 27 países da União Europeia (UE), aquela medida faz sentido para 75% dos 22.729 cidadãos que participaram no inquérito, entre os quais estão mil portugueses. Dentro deste bloco, há discrepâncias. Apenas 67% dos alemães inquiridos concordou com esta medida, contrastando com 94% dos malteses questionados. A nível nacional, 86% dos portugueses respondeu “sim”.
Fora daquele bloco dos 27, países como a China (94%), a Índia (91%), a Coreia do Sul (86%), os Emirados Árabes Unidos (86%) e o Reino Unido (82%) apresentam percentagens favoráveis à pergunta acima dos 80%. No Japão, a aceitação é menor, com 72% das pessoas a concordar.
As percentagens de apoio dos cidadãos dos vários países foram quase idênticas para uma reforma fiscal dos combustíveis fósseis. “Isto envolve eliminar os subsídios e os benefícios fiscais para as empresas que usam combustíveis fósseis e transporte aéreo”, lê-se no enunciado da questão. Só em 2022, os subsídios à indústria fóssil no conjunto dos países do G20 ultrapassaram os mil milhões de euros. No inquérito, 74% dos cidadãos dos 27 países da UE, 79% dos inquiridos no Canadá, 78% nos Estados Unidos e 71% no Japão defendem que estes subsídios deveriam ser cortados e servir as indústrias de energia renovável e tecnologias limpas.
Diferença entre Ocidente e Oriente
“Os países inquiridos pelo BEI representam dois terços das emissões globais de CO2”, explicou ao PÚBLICO André Milheiro, do gabinete de comunicação do BEI, um braço financeiro da UE que tem investido em projectos ligados ao combate às alterações climáticas. “Apenas a Rússia e o Irão, onde as autoridades locais não nos autorizam a inquirir a população, não constam desta lista. (…) Os Emirados Árabes Unidos foram acrescentados porque a COP28 estava a decorrer no país e, por essa razão, quisemos abranger este país.”
Ao todo, foram questionadas mais de 30.000 pessoas que responderam a perguntas que testavam tanto o conhecimento sobre as alterações climáticas, como a posição em relação ao esforço que as pessoas e as nações deveriam fazer para combater e mitigar os efeitos da crise climática e ajudar os países mais desfavorecidos, que são, historicamente, muito menos responsáveis pelas mudanças que o planeta está a sofrer.
Em relação a este último tema, o inquérito revela algo sobre a ideia de justiça climática que as várias nações têm. O enunciado da pergunta era directo: “Concorda que o seu país deve compensar financeiramente estes países em desenvolvimento para ajudá-los a combater as alterações climáticas?” Embora a maioria da população inquirida defenda esta medida, ela é bastante menos unânime e há uma diferença assinalável entre Ocidente e Oriente. Os países a leste vêem com melhores olhos uma transferência financeira para os países em desenvolvimento.
Na UE, 60% dos participantes respondeu positivamente à questão, com grandes diferenciais internos, de 30% na Estónia até 69% na Espanha. No caso de Portugal, 66% concordou com esta medida. Fora da UE, 58% dos inquiridos no Reino Unido, 59% no Canadá e 63% nos EUA concordaram com a medida. Já 72% dos cidadãos do Japão, 74% dos da China, 76% dos da Coreia do Sul e 83% dos cidadãos dos Emirados Árabes Unidos responderam positivamente à questão, mostrando que, aparentemente, há maiorias mais alargadas que apoiam a justiça climática. No caso da Índia, não há resultados para esta questão.
A idade importa
Se se destrinçar um pouco mais as respostas a esta pergunta, é possível verificar que há uma grande diferença a nível etário na UE. Os adolescentes dos 15 aos 19 anos e os jovens dos 20 aos 29 são mais favoráveis ao apoio aos países em desenvolvimento, com, respectivamente, 74% e 73% a concordarem com a medida. Esta tendência vai caindo nas faixas etárias mais avançadas: 59% para os adultos entre os 30 e os 49 anos, 52% entre os 50 e 64 anos e 56% para as pessoas a partir dos 65 anos.
Por outro lado, muitos inquiridos estão pouco esperançosos em relação à capacidade de os seus países adoptarem políticas que “reduzam as emissões de gases com efeito de estufa e respondam às desigualdades sociais”. O caso da UE é o mais gritante: apenas 38% está confiante nos seus países, com a Croácia a apresentar o mínimo de 19% e o Chipre a apresentar o máximo de 62%. Em Portugal, somente 33% das pessoas inquiridas está confiante.
Fora da UE há divergências e não é possível fazer o mesmo tipo de comparação entre Ocidente e Oriente. Enquanto os cidadãos inquiridos na China (93%), nos Emirados Árabes Unidos (92%) e na Índia (88%) têm uma grande confiança na resposta que os seus países vão dar, o Japão (40%), o Reino Unido (42%), o Canadá (50%), a Coreia do Sul (53%) e os Estados Unidos (57%) apresentam-se num patamar intermédio.
Teste aos conhecimentos
O sexto Inquérito do BEI sobre o Clima foi realizado entre Agosto e Setembro de 2023. Esta edição foi reforçada com 12 questões simples que avaliaram o conhecimento dos inquiridos acerca da definição e origem das alterações climáticas, os efeitos provocados por elas e as medidas que podem ter um impacto positivo.
Portugal não se saiu mal, ocupando “a quarta posição na UE-27”, lê-se no comunicado do BEI. A pior prestação foi em relação às medidas positivas: “Uma grande parte dos inquiridos portugueses não sabia que a redução dos limites de velocidade nas estradas (79%) ou um melhor isolamento dos edifícios (63%) podem ajudar a combater as alterações climáticas.”