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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Maior primata das Américas pode perder até 61% de áreas climaticamente adequadas até 2090

Estudo prevê que duas espécies de muriqui devem ficar restritas a regiões costeiras da mata atlântica. Projeção foi criada por cientistas com auxílio de softwares.

14 de outubro de 2025
André Julião
5 min. de leitura
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Muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) descansa em galho, na RPPN Feliciano Miguel Abdala, em Minas Gerais. Foto: Bart van Dorp/Wikimedia Commons

O muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) e o muriqui-do-sul (B. arachnoides), as duas espécies do maior gênero de primatas das Américas, terão uma redução de hábitat até 2090 estimada em 44% e 61%, respectivamente, segundo estudo publicado no Journal for Nature Conservation com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

No estado de São Paulo, o muriqui-do-norte deve perder toda a sua área climaticamente adequada até o fim do século.

Os números dão conta apenas do efeito das mudanças climáticas sobre as espécies até o fim do século, sem considerar outros fatores que também ameaçam os primatas e seus hábitats, como desmatamento, fragmentação das florestas e caça.

Ambos os muriquis, endêmicos da mata atlântica, são classificados como criticamente ameaçados de extinção pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

“Apenas a mudança climática não vai levar os muriquis à extinção, segundo nossas projeções. Mas cerca de metade da área atual climaticamente favorável para eles pode acabar, o que é bastante preocupante levando em conta que há outros fatores pressionando essas espécies”, conta o autor do estudo, Tiago Vasconcelos, pesquisador do Programa de Pós-graduação em Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Bauru (SP).

O trabalho é parte de projeto apoiado pela Fapesp no âmbito do Programa de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais.

As projeções são realizadas com softwares especiais para esse fim, a partir de dados como a distribuição atual e informações climáticas importantes para os requerimentos fisiológicos das espécies.

Assim, dados do clima atual são utilizados para caracterizar as preferências das espécies, que são então projetadas nos diferentes cenários futuros de mudanças climáticas para as próximas décadas, como chuvas, meses mais quentes, dias mais secos etc.

Desafio no interior

Estudos de outros pesquisadores já haviam apontado perdas de áreas climaticamente adequadas para as duas espécies de muriqui até o fim do século. Vasconcelos, porém, aponta o tamanho dos prejuízos em curto e médio prazo, mais especificamente os anos de 2030, 2050, 2070 e 2090.

“Outros autores já haviam sugerido a redução de áreas adequadas para as duas espécies até 2050 e até 2090, mas conseguimos apontar a perda gradual que vai ocorrer ao longo de todo o século”, explica o pesquisador, atualmente professor substituto no Departa mento de Biologia e Zootecnia da Faculdade de Engenharia da Unesp, em Ilha Solteira (SP).

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