O parque temático Marineland, localizado no Canadá, enfrenta uma crise financeira e ética enquanto tenta arrecadar fundos para realocar sua população de belugas em cativeiro, a maior do mundo. A pressão para realocar os animais “rapidamente”, conforme exigido por financiadores, expõe a crueldade inerente ao cativeiro de animais marinhos e a falta de santuários adequados no país para recebê-los. A situação revela um cenário sombrio, onde a prioridade parece ser a liquidação financeira do parque, e não o bem-estar dos animais.
Em fevereiro, o Marineland obteve aprovação para dividir sua propriedade e hipotecar parcelas do terreno, com o objetivo de manter o parque operando e transferir os animais. No entanto, documentos protocolados na cidade de Niagara indicam que o financiamento exige a remoção imediata dos animais marinhos da propriedade. Essa pressa levanta preocupações sobre o destino desses seres sencientes, que podem ser enviados para instalações inadequadas ou até mesmo para o exterior, onde as leis de bem-estar animal são praticamente inexistentes.
O parque tem sido alvo de intensas críticas, especialmente após a morte de cinco belugas no ano passado, elevando para mais de 20 o número de baleias e golfinhos que morreram no local desde 2019. Atualmente, 31 belugas ainda permanecem no parque, vivendo em condições que ativistas descrevem como desumanas e cruéis. A morte de Kiska, uma orca de 47 anos que passou décadas isolada em um tanque, em março de 2023, trouxe à tona a realidade brutal do cativeiro e mobilizou protestos de grupos de defesa dos direitos animais.
A legislação canadense proíbe a reprodução, venda e cativeiro de baleias desde 2019, mas a população existente de cetáceos no Marineland ainda pode permanecer no parque. Isso cria um dilema ético: enquanto o parque luta para se manter financeiramente viável, os animais continuam presos em tanques inadequados, longe de seu habitat e sujeitos a estresse, doenças e morte prematura.
Lori Marino, presidente do Whale Sanctuary Project, expressou preocupação com a possibilidade de as baleias serem vendidas para instalações de entretenimento no exterior, como na China, onde as leis de proteção animal são quase inexistentes. “Tal medida seria totalmente contrária à intenção e ao espírito da lei canadense, que visa acabar com o cativeiro de cetáceos”, afirmou Marino. Ela destacou que o projeto do santuário na Nova Escócia está quase concluído, mas ainda não está claro quando poderá receber os animais.
Melissa Matlow, diretora de campanha da World Animal Protection no Canadá, alertou para o risco de as baleias serem vendidas sob o pretexto de conservação, violando a legislação canadense. Ela criticou a falta de fiscalização em Ontário, descrevendo a província como a “jurisdição mais fraca” quando se trata de aplicar leis de proteção animal.
A morte do fundador do Marineland, John Holer, em 2018, e de sua esposa, Marie, em 2024, deixou o futuro do parque incerto. Apesar de ter reaberto ao público no ano passado, o parque operou com uma temporada encurtada, menos atrações abertas e algumas exibições de animais fechadas. A crescente oposição pública ao uso de animais em cativeiro também contribuiu para o declínio no número de visitantes.
Enquanto isso, os animais continuam sofrendo. As belugas, conhecidas por sua inteligência e complexidade social, são forçadas a viver em tanques pequenos e artificiais, longe de seu habitat no oceano. A remoção “rápida” exigida pelos financiadores pode significar que esses animais serão enviados para destinos ainda piores, perpetuando o ciclo de exploração e crueldade.
Ativistas e organizações de proteção animal pedem que o governo canadense e a sociedade civil se unam para garantir um futuro digno para as belugas e outros animais do Marineland. A criação de santuários marinhos e a aplicação rigorosa das leis de proteção animal são passos essenciais para acabar com o sofrimento desses seres sencientes e garantir que o cativeiro de animais marinhos seja uma prática do passado.
Enquanto o Marineland busca um comprador para suas terras, o destino dos animais permanece incerto. Uma coisa, no entanto, é clara: a crueldade do cativeiro não pode mais ser ignorada. É hora de agir para garantir que essas belugas e outros animais marinhos tenham a chance de viver em um ambiente que respeite sua dignidade e bem-estar.