Por Fátima Chuecco (da Redação)
O certo seria dizer que todos os primatas, de pequeno a grande porte, são pessoas, vivendo em diferentes estágios evolutivos. Mas a palavra “macacos” foi usada propositalmente porque para a maioria das pessoas, todos os primatas, com exceção do homem, são macacos. Um grande erro que é comum ser encontrado, inclusive, na mídia e em textos dos mais famosos escritores.
Então, a primeira coisa é explicar que, na verdade, macacos são primatas com rabo como o mico-leão-dourado e centenas de outras espécies. Apenas cinco primatas não possuem rabo e são considerados mais evoluídos: humanos, chimpanzés, gorilas, orangotangos e bonobos. Por essa razão são denominados de “grandes primatas” ou, em inglês, great apes. Chamar um gorila ou chimpanzé de macaco é comum, mas é errado.
Além disso, grande parte das pessoas tem dificuldade em aceitar que é um primata evoluído. Para a maioria, “humano é gente” e “primata é macaco”. Por influência das diversas religiões e de dogmas fincados na nossa civilização através dos tempos, o homem se considera superior e, por conta disso, com direito de usar qualquer outro animal como objeto, incluindo seus parentes mais próximos – inegavelmente dotados de todas as emoções e sentimentos que conhecemos. O livro “As expressões faciais no homem e nos animais”, de Charles Darwin, é uma excelente obra para estudar o assunto.
Inteligência Incontestável
As provas de racionalidade nos demais primatas estão cada vez mais óbvias e devidamente documentadas. Eles aprendem a se comunicar pela linguagem dos sinais, operam o computador, fazem contas, distinguem objetos, pessoas e membros do grupo… reconhecem-se no espelho, vivem em complexos sistemas sociais e políticos, fabricam e aperfeiçoam ferramentas para coleta de alimento, pilotam com destreza video-games, andam de bicicleta, patins e skate e, se deixarem… tenho certeza… poderão dirigir carros. O que mais os grandes primatas precisam fazer para provarem que são pessoas?
Como já não resta quase nada a argumentar, os cientistas da ala tradicional se grudam com unhas e dentes no fato deles não “falarem”. Como todos os primatas e animais possuem uma linguagem própria e, assim como a nossa, expressa por meio de sons, seria estupidez dizer que “macacos não se comunicam entre si”. Então, para manter “nossos irmãos” num patamar de eterna inferioridade, só restou a esses cientistas alegar que eles não são racionais porque “não falam”, como se a fala fosse a única maneira de se comunicar, transmitir desejos e conhecimentos. Todo mundo sabe que não é.
Usamos muito mais o olhar, as expressões faciais e os gestos na comunicação do que a fala. A comunicação não-verbal é tão autêntica quanto a falada. Muito tempo atrás, quando vivíamos em cavernas, só emitíamos sons e grunhidos, mas nem por isso éramos seres irracionais. Duas coisas fizeram o homem evoluir ao ponto que chegou… e isso antes da fala: em primeiro lugar, ele foi ousado o suficiente para arriscar a vida longe das florestas (o que forçou seu cérebro a criar novas regras de sobrevivência – um grande exercício evolutivo) e, em segundo lugar, ele “deu sorte” de não ser aniquilado por desastres naturais (como aconteceu com os dinossauros), por um vírus qualquer ou por um predador à sua altura. Ousadia e sorte… uma receita que proporcionou o salto evolutivo.
Mas os primatas das florestas também continuaram evoluindo, com a diferença que não precisaram criar tantas coisas e comportamentos novos num ambiente que pouco muda. O ideal seria que o homem olhasse para os demais primatas como tribos que vivem rusticamente nas florestas, mas ao contrário disso, tem feito todos os grandes primatas beirarem à extinção. Todos podem desaparecer em 10 anos… alguns em bem menos tempo como os gorilas e os orangotangos, enterrando para sempre segredos de uma alimentação vegetariana que talvez pudesse ajudar o homem a vencer inúmeras doenças.