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ANOS DE TRABALHO

Macacos-dourados-de-nariz-arrebitado superam risco de extinção e voltam a crescer nas montanhas da China

Com a floresta regenerada e a comunidade local transformada em aliada da proteção, esses macacos voltaram a ocupar seu território ancestral nas montanhas do país.

27 de agosto de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: BBC

Até poucas décadas atrás, o futuro do macaco-dourado-de-nariz-arrebitado, espécie exclusiva das montanhas de Shennongjia, na província chinesa de Hubei, parecia condenado. Caçados por carne e pele até os anos 1980 e ameaçados pelo desmatamento realizado por agricultores pobres, esses primatas chegaram a ter menos de 500 indivíduos vivendo em liberdade.

A virada começou em 1991, quando o jovem pesquisador Yang Jingyuan, então com pouco mais de 20 anos, iniciou seus trabalhos na região. “A exploração madeireira destruía o habitat, e a população de macacos diminuía rapidamente. Com a proteção da área, o número voltou a crescer”, relembra.

Hoje, aos 55 anos, Yang é diretor do Instituto de Pesquisa Científica do Parque Nacional de Shennongjia e considerado o maior especialista na espécie.

Conflito e mudança

Embora o Parque Nacional de Shennongjia tenha sido criado em 1982, a proteção levou tempo para se consolidar. “As pessoas eram muito pobres nessas montanhas e a fome era real. Não havia noção de proteção”, lembra o guarda florestal Fang Jixi, de 49 anos.

Segundo ele, caçadas e derrubadas continuaram mesmo após a proibição da exploração madeireira. O processo de mudança só avançou quando agricultores foram incluídos como parte da solução, sendo contratados como protetores da floresta e auxiliares de pesquisa.

“Quando a mudança ocorreu, os cientistas disseram: vocês podem trabalhar conosco, podem ter um emprego ajudando os animais”, recorda Fang, que hoje integra uma equipe responsável por monitorar tanto caçadores quanto o comportamento dos primatas.

Um esforço de gerações

O avanço mais decisivo aconteceu em 2005, quando Yang formou uma equipe de pesquisa dedicada exclusivamente à espécie. A aproximação com um dos grupos de macacos levou um ano inteiro, reduzindo gradualmente a distância até que fosse possível o convívio próximo.

“Eles tinham muito medo no início. Mas, pouco a pouco, aceitaram nossa presença. Foi emocionante perceber que se tornaram meus amigos”, disse o pesquisador.

Fotos antigas mostram as colinas de Shennongjia com apenas 60% de cobertura florestal. Hoje, drones registram até 96% de cobertura vegetal. A recuperação da natureza atraiu milhões de turistas, mas as áreas críticas de proteção permanecem restritas a funcionários autorizados.

Vida social complexa

Durante uma expedição pela floresta, Yang demonstrou o quanto se aprofundou no convívio com os macacos. Ele afirma reconhecer significados em alguns de seus sons: “Yeeee” quer dizer que o local está seguro, enquanto “Wu-ka” é um alerta de perigo.

Com grupos que podem ultrapassar cem macacos, a espécie apresenta uma estrutura social complexa. Cada família é formada por um macho dominante, três a cinco fêmeas e filhotes. Machos solteiros se organizam em bandos paralelos, muitas vezes atuando como guardas. Entre as fêmeas, as relações fora do grupo familiar podem gerar disputas e brigas.

As estratégias de sobrevivência também impressionam. Fêmeas deixam a família aos seis anos para evitar endogamia, e, segundo guardas florestais, indivíduos no fim da vida buscam isolamento em locais remotos, tornando raríssimo encontrar corpos de macacos mortos na natureza.

População em recuperação

Apesar da reprodução lenta, as fêmeas têm apenas um filhote a cada dois anos, com alta taxa de mortalidade, os resultados são visíveis. A população que já esteve reduzida a menos de 500 animais ultrapassou 1.600 indivíduos e deve passar de 2.000 na próxima década.

Para Yang, o futuro agora é promissor. “Estou muito otimista. A casa deles está bem protegida, eles têm alimento, água e não se preocupam com necessidades básicas. O mais importante é que sua população está crescendo”, finalizou ele.

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