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AMEAÇAS

Macacos-bugio sofrem com redução da mata e tem até pele anunciada em sites de leilão

Urbanização crescente aumenta ameaças a esses animais, que têm papel ecológico em áreas de Mata Atlântica; Ibama diz que vai apurar denúncias de venda de parte dos primatas na internet

16 de abril de 2025
Juliana Domingos de Lima e Glauco Lara
3 min. de leitura
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Foto: Charles J Sharp | Wikimedia Commons

Iniciativas em diferentes Estados da Mata Atlântica, incluindo São Paulo, estão reintroduzindo macacos-bugios em risco de extinção em seu habitat natural. A principal ameaça para eles é a febre amarela, mas esses macacos também sofrem com a fragmentação das áreas verdes e mais riscos da expansão urbana, como choques elétricos e atropelamentos. A lista de perigos inclui até anúncios de venda de peles dos macacos.

A caça de animais silvestres é proibida no Brasil e só pode ocorrer com aval expresso do Ibama, ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Segundo o órgão, não há criador de bugio autorizado para uso da pele do macaco. Cabem sanções ao vendedor e comprador.

Estadão identificou dois anúncios de venda de pele de bugio em sites de leilão nacionais. Os lotes foram vendidos respectivamente em 2022 pelo leiloeiro Daniel Chaieb e em 2024 pela Santayana Casa de Leilões, ambos em Porto Alegre. Na Santayana, o valor da venda foi de R$ 170.

Em nota, a equipe jurídica da Santayana afirma que a empresa segue a lei, “se restringe à intermediação de bens pertencentes a terceiros” e “repudia qualquer forma de maus-tratos ou exploração de animais”. Diz ainda se tratar de peça dos anos 1960, leiloada “como item de antiguidade”.

A Daniel Chaieb não se pronunciou até a publicação da reportagem. O Ibama diz que vai apurar os casos.

Segundo Roberto Cabral, analista ambiental do Ibama que já realizou operações de apreensão em contextos semelhantes, mesmo que a pele seja anterior à lei de proteção da fauna, de 1967, a infração não é atenuada: “A partir do momento que a pele é comercializada, (o vendedor) comete um crime atual e tem de responder por ele hoje, assim como quem adquire”, afirma.

Fotos: Reprodução/santayana.com.br e danielchaiebleiloeiro.com.br

Em um caso como esse, infratores autuados pelo Ibama respondem administrativamente. A multa é de R$ 500 pela caça e uso de espécies silvestres não ameaçadas e de R$ 5 mil se o animal constar nas listas oficiais brasileiras ou internacionais de fauna ameaçada de extinção, como é o caso do bugio-ruivo.

O órgão ambiental também comunica o Ministério Público, ao qual cabe a decisão de levar a denúncia à Justiça. Na esfera criminal, a pena é de seis meses a um ano de prisão e multa, a ser definida pelo magistrado.

“Já fizemos apreensão de bugio mantido em cativeiro, de bugio morto na Amazônia, mas aí o interesse das pessoas era comer (a carne). A pele vendida como apetrecho em si não tínhamos visto ainda”, diz Cabral.

Dizimados pela febre amarela na zona norte de São Paulo e reintroduzidos aos poucos no Parque da Cantareira, os bugios resistiram em áreas protegidas em Parelheiros, na zona sul. Isolados em fragmentos de mata cada vez menores e entrecortados pela urbanização, os macacos também são ameaçados pela endogamia (acasalamento entre parentes) e queda da variabilidade genética.

“É uma espécie ameaçada de extinção não só pela febre amarela, mas por todos os impactos que temos causado”, diz o biólogo Felipe Fantacini, do Instituto Ampara Animal, que apoia o projeto de reintrodução da Prefeitura da capital. A crise climática, segundo ele, tem piorado o cenário.

Fonte: Estadão

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