Um macaco-prego (Sapajus apella) foi flagrado com uma lata de cerveja no Balneário Municipal de Bonito (MS). O registro foi feito pelo turismólogo Victor Lopes nesta sexta-feira (25/07). Nas imagens é possível ver o momento em que o animal ingere a bebida alcoólica.
Ao g1 o profissional disse que a cena aconteceu por volta das 15h e que o animal pegou a lata em uma lixeira. “As lixeiras não possuem tampas”, constatou.
O g1 entrou em contato com a Secretaria Municipal de Turismo de Bonito, responsável pelo atrativo, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
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Consequências do álcool
O biólogo Milton Longo disse que essa não é a primeira vez que cenas do tipo acontecem no balneário municipal de Bonito e que já chegou a presenciar macacos consumindo cerveja e refrigerante.
“Isso é preocupante porque pode influenciar no comportamento deles também, os efeitos do álcool podem levar o animal a sofrer algum tipo de acidente, uma queda da árvore. Não é bonito!”, avalia o especialista.
Além de impactos no comportamento, o consumo de bebida alcoólica por animais silvestres pode acarretar em intoxicação, problemas no fígado e no sistema nervoso, conforme explica a bióloga Vanessa Guimarães, que atua no projeto Primatas PERDidos. Outro fator destacado pela especialista é que a ingestão desses líquidos pode deixar os animais vulneráveis, consequentemente, mais agresivos por se sentirem ameaçados.
“Isso pode fazer com que esses animais fiquem mais próximos aos humanos, aumentando o risco tanto de acidente quanto de conflito, já que esses animais estão mais vulneráveis. Além disso, quando os animais ingerem bebida alcoólica, eles podem ficar embriagados, por menor que seja a ingestão dessa bebida, porque eles não têm esse hábito”, destaca a bióloga.
Vanessa também explica que os macacos-pregos e outros animais silvestres podem se tornar dependentes da bebida alcoólica, o que compromete a alimentação dos animais. A bióloga também chama a atenção para os efeitos do álcool tanto em machos quanto em fêmeas, destacando que em fêmeas grávidas os filhotes também podem ser afetados.
“Vamos supor, se uma fêmea ingere essa bebida alcoólica, uma fêmea grávida, a bebida pode afetar o desenvolvimento daquele filhote. Então, é extremamente prejudicial, principalmente para espécies que já estão ameaçadas de extinção, que dependem da reprodução para aumentar a sobrevivência da espécie”, avalia.
A bióloga também elenca outros problemas que são causados nos animais a partir do consumo de bebida alcoólica:
- Ferimentos causados pelas latas e garrafas;
- Transmissão de doenças como o vírus da herpes, passado ao animal através do contato dele com a lata. O vírus pode se espalhar entre o bando;
- Perda de equilíbrio levando a quedas que podem causar a morte.
Proteção ao animal
O turismólogo Victor Lopes, que registrou as imagens, disse que chamou a atenção o fato das lixeiras do balneário não possuírem tampa, o que facilita o acesso dos animais ao lixo depositado pelos turistas. Para a bióloga Vanessa Guimarães, o ideal é que o lixo seja retirado diariamente e que as lixeiras tenham tampa.
“Uma dica é a instalação de lixeiras fechadas ou a implementação de algum sistema que cada visitante tenha o seu saco de lixo, isso em relação aos turistas em parques. Então, cada turista tendo sua sacola de lixo e se responsabilizando por ela. Outra dica seria a posição de colocar as lixeiras em locais fechados e protegidos, dificultando o acesso dos animais e contribuindo para a preservação do ecossistema”.
Além dessas medidas, a especialista destaca a importância da educação ambiental e orientação aos visitantes sobre a oferta de alimentos aos animais silvestres.
“Os primatas, por exemplo, eles são excelentes dispersores de semente, então eles possuem uma extrema importância para o ecossistema. Ao ingerir os frutos da mata e ao andar, se locomover, eles vão deixar aquela semente cair. Além disso, através das fezes também, as sementes vão cair no solo e isso vai contribuir reflorestando áreas, isto é, os primatas atuam como jardineiros da floresta”, conclui a bióloga.
Em Mato Grosso do Sul, alimentar animais silvestres é considerado crime ambiental segundo a Lei estadual nº 5.673, que entrou em vigor em 2021. A multa aplicada varia de R$1 mil a R$10 mil.