(da Redação)
Pela primeira vez em sua longa vida, uma fêmea idosa de macaco-prego chamada Daisy poderá finalmente experienciar o que é viver conforme a sua natureza – e com a companhia de outros de sua espécie. As informações são do The Dodo.
A história de Daisy começa há quase meio século atrás, no Reino Unido, onde ela foi criada em cativeiro, em um laboratório de reprodução de primatas. Pouco se sabe sobre os seus primeiros anos ou a que ela foi submetida enquanto prisioneira do laboratório, mas o seu corpo ainda ostenta os sinais de abusos inimagináveis. Na época em que o local fechou e ela foi vendida, na idade aproximada de 10 anos, ela tinha vários dedos deslocados, queimaduras de cigarro em suas costas e uma cicatriz de uma cirurgia desconhecida.
Pelos próximos 35 anos, a saúde de Daisy melhorou enquanto ela estava vivendo com uma família no Reino Unido, mas o local ainda estava muito longe de um cenário ideal. As condições não naturais de sua nova vida como um animal de companhia eram amenizadas pelo fato dela ser mantida com outro macaco-prego com quem ela podia se socializar.
No último outono, no entanto, o companheiro de Daisy faleceu, e então os seus tutores pensaram que seria melhor encontrar um lugar onde ela pudesse passar os seus dias entre outros de sua espécie. Eles contataram o santuário de primatas Wild Futures em Looe, na Inglaterra, onde vivem dezenas de outros macacos-prego também resgatados.
No início deste mês, Daisy finalmente fez o seu caminho à sua nova casa, seu rosto triste sugerindo a longa estrada da vida que precedeu a sua chegada. Felizmente, as coisas já estão começando a melhorar para ela.
“Dentro dos primeiros dias, nós começamos a notar que ela estava se comunicando com outros macacos, o que é um ótimo sinal para um animal com o seu histórico”, disse sua nova cuidadora, Louisa Marchbanks.
“Em breve, ela irá começa a explorar o território. Os mantenedores ficarão atentos, e estabeleceremos em quais macacos ela estará mais interessada, e em que grupo social ela deverá ser inserida. A socialização é um processo muito lento e, obviamente por causa da sua idade, nós temos que ser ainda mais cuidadosos. Mas nós temos uma série de outros macacos-prego idosos aqui, e estamos muito confiantes de que o desejo de Daisy pela vida, o seu espírito e energia mostram que ela está muito disposta a fazer novos amigos”, complementou a cuidadora.
A triste história de Daisy não surpreendeu os funcionários do santuário. Cada um dos 30 macacos-prego do local foi igualmente resgatado após ter sido mantido como um animal de companhia.
“O que costuma acontecer é que, quando eles são pequenos, as pessoas mantêm os filhotes em casa, por considerarem muito graciosos – e então eles começam a crescer”, disse Marchbanks. “Apesar dos macacos-prego não serem grandes, eles são extremamente fortes, e os machos, em particular, tornam-se muito agressivos e poderosos na adolescência. É quando as pessoas não conseguem mais lidar ou cuidar deles”.
Macacos mantidos como animais de companhia são propensos a desenvolver uma série de doenças físicas e psicológicas como resultado de dietas pobres e de traumas por serem criados longe de suas famílias. Infelizmente, o comércio de primatas como animais domésticos ainda é legal em diversos países, incluindo o Reino Unido, e o santuário espera que histórias como as de Daisy ajudem a mudar isso para outros de sua espécie.
“O Wild Futures está fazendo uma campanha para colocar um fim ao comércio de primatas. Nós não acreditamos que ninguém possa ter esses animais selvagens como domésticos; todo tutor que encontramos conta a mesma história”, explica Marchbanks.
“Estamos trabalhando arduamente para tentar fazer alterar a legislação, para passar a proibir o comércio, e o primeiro passo é aumentar a conscientização. A maioria das pessoas sequer sabe que é legal manter macacos como animais de companhia no Reino Unido”.
Nos Estados Unidos, as leis a respeito variam de estado para estado, mas ativistas de direitos animais lançaram uma petição para pedir que o Departamento de Agricultura decrete a proibição da prática em todo o país.
No Brasil, macacos também são vendidos legalmente como animais de companhia, se autorizados pelo Ibama e pela Fundação de Meio Ambiente (Fatma). Os macacos-prego, por exemplo, chegam a ser vendidos por valores entre R$ 20 mil e R$ 60 mil reais. Há, também, um grande mercado clandestino desses e outros animais selvagens.