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TERROR

Luta pela vida: fogo se espalha pelo Pantanal e onças fogem pelos rios

26 de outubro de 2023
4 min. de leitura
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Foto: Victor L. M. De Paula

A terra das onças voltou a ser destruída pelas chamas. Vastas áreas do Pantanal pegam fogo, pois a onda de calor dos últimos dias agravou os incêndios iniciados há cerca de duas semanas. A situação se tornou crítica no Parque Estadual Encontro das Águas, que se estende por Poconé e Barão do Melgaço, no Mato Grosso, considerado o lugar onde mais facilmente se avista onças-pintadas no Brasil. Vinte por cento do parque foram queimados. E não apenas as felinas, mas todos os animais têm sido afetados pelo fogo, que não cede.

“Precisamos de ajuda urgente. O fogo não está sendo controlado. Os animais estão morrendo, vimos onças fugindo e não sabemos se há mortas porque as áreas estão inacessíveis. Os que podem, fogem. Mas animais menores, estão ficando para trás. As onças perdem território. Vemos de novo a tragédia se repetir. Não podemos deixar o Pantanal agonizar”, afirma o guia ambiental Ailton Lara, um dos mais experientes do Pantanal e que participou do combate da grande queimada de 2020, a maior da história do bioma.

Dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostram que este mês 20% do parque foram consumidos pelas chamas, num total de 21.825 hectares.

“É um dos eventos mais extremos da história do parque”, afirma a coordenadora do Lasa, Renata Libonati, uma das cientistas que alerta desde o início do ano para o risco de grandes incêndios no Pantanal.

Os incêndios afetam uma região do Pantanal Norte (no MT) que foi duramente atingida e que queimou pela primeira vez em 2020, quando 86.950 hectares foram destruídos de janeiro a outubro. Em 2021, o fogo atingiu 10.600 hectares; em 2022, não houve incêndios lá.

Em 2020, morte de 17 milhões de animais

Foi no Encontro das Águas que o mundo testemunhou os mais dramáticos momentos dos incêndios históricos de 2020. Ao todo, naquele ano, 30% do bioma foram calcinados e muitas áreas ainda se recuperam, caso do Encontro das Águas. Um estudo da Embrapa Pantanal estimou que 17 milhões de animais morreram no bioma em 2020.

Proporcionalmente, o Pantanal é o bioma brasileiro mais afetado pelo fogo. Nas últimas três décadas, 57% de seu território pegaram fogo pelo menos uma vez no período, de acordo com o MapBiomas.

“Este ano queimou um quarto de 2020, mas está muito acima dos extremos. E a previsão não é boa para os próximos dias”, acrescenta Libonati.

El Niño e ação humana

Desde o início deste ano, cientistas alertam para o grande risco de incêndios no Pantanal no segundo semestre devido ao agravamento da seca e do calor associados ao El Niño. E é exatamente o que acontece.

O coordenador-geral de Operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi, explica que o calor extremo, com dias seguidos de temperaturas acima dos 40 graus Celsius, favorece os incêndios que, provavelmente, estão associados à ação humana, ainda que acidental.

Seluchi diz que podem ocorrer chuvas isoladas nos próximos dias, mas que o calor deve continuar, o que mantém o risco elevado.

“As chuvas estão atrasadas este ano e o calor muito intenso, uma condição típica do El Niño, que nem chegou ao pico de atividade. Por isso, a preocupação é grande”, observa Seluchi.

Especialistas e ambientalistas também destacam a falta de programas de prevenção estruturados. O caso do Parque Estadual Encontro das Águas é emblemático. Trata-se de uma área remota, com imensos trechos alagados, muitos corixos (córregos e riachos) e cobertura de batume, a vegetação flutuante facilmente inflamável.

“Há apenas ação emergencial. Mas ela já não resolve porque muitas dessas áreas são inacessíveis e, quando o fogo começa se espalhar, sai de controle depressa. Só grandes chuvas o apagam. O importante é evitar os incêndios comecem e se espalhem”, enfatiza Fernando Tortato, especialista em grandes felinos da ONG Panthera, que administra uma área de pesquisa da vida selvagem vizinha ao parque estadual.

Foto: Victor L. M. De Paula

Segundo Tortato, o fogo começou numa fazenda contígua ao parque e o vento forte o espalhou e o calor intenso facilitou sua perpetuação. Ainda não se sabe se foi criminoso ou não.

Fonte: O Globo

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