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'É uma luta todo dia', diz homem que acolhe mais de 150 animais no RS

24 de maio de 2015
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Ex-corretor de imóveis acolheu animais em sua casa em Taquara, RS (Foto: Arquivo pessoal)
Ex-corretor de imóveis acolheu animais em sua casa em Taquara, RS (Foto: Arquivo pessoal)

A necessidade de ajudar animais abandonados mudou a vida do ex-corretor de imóveis Luiz Ricardo Marques, de 51 anos. Marques cuida de mais de 150 animais, entre cães e gatos, na casa onde vive em Taquara, no Vale do Paranhana, Rio Grande do Sul. Trabalha 18 horas por dia, luta para sobreviver com parcos recursos que recebe por meio de doações e tenta viabilizar a construção de uma nova sede para a ONG que fundou. Tudo para não ver cães e gatos sofrerem.
“São muitos animais abandonados. É uma luta todo dia”, diz.
Marques acredita gastar mais de R$ 4 mil por mês para cuidar dos animais. Compra dois sacos de ração por dia, além de outros alimentos como fígado de galinha e ovos e medicamentos. Usa o próprio carro para buscar cães e gatos abandonados em vários pontos da cidade.
“Se você parar o seu carro e vir o olhar de um animal te pedindo socorro, vai ver porque eu faço. Aí você vai ver entender, vai sentir. Se você ajudar o animal, não vai mais querer parar, e isso vai criar um problema para a tua vida. Tem que analisar as consequências, para mudar teu planejamento de vida. Eu não queria nada disso para mim”, afirma.
Além de apoio financeiro, ele conta com a ajuda de duas voluntárias, uma delas veterinária da prefeitura. “São pessoas muito idôneas”, elogia.
A saga do ex-corretor teve início há cerca de três anos e meio, quando ele se separou da mulher. Ele tinha apenas dois cães e duas gatas, mas outros animais começaram a aparecer. “Queria ir para a beira de uma praia e ficar tranquilo, mas tudo mudou. Começaram a aparecer animais e mais animais”, conta.
Havia 39 “hóspedes” vivendo com ele quando decidiu registrar a ONG “VidAnimal”, há pouco menos de um ano. Como as doações de 25% dos associados que pagavam R$ 10 por mês não cobria nem um quarto dos gastos, decidiu divulgar sua iniciativa para ver se recebia mais doações. O resultado não foi o esperado.
“Quando coloquei propagandas na rua, para me ajudarem, apareceram mais animais e menos pessoas para ajudar”, lastimou.
Recentemente, por meio de um site, o ex-corretor recebeu cerca de R$ 1,9 mil em doações. No início deste mês, ele e outros voluntários organizaram um brechó beneficente. Além de auxiliar na lida com os animais, o dinheiro será destinado à construção de uma nova sede, com mais espaço para abrigar a bicharada. Quem quiser apoiar a iniciativa pode entrar em contato com Marques pelos telefones (51) 9696 9677 ou 8558 9444.
A ideia é que as pessoas interessadas em adotar animais se dirijam ao local para escolher um dos cães e gatos acolhidos por Marques. Mas, para ficar com um deles, é preciso se comprometer em tomar conta. “Quero entregar animal para uma pessoa que o ame, que trate melhor do que eu trato aqui”, justifica.
Marques critica o município, que segundo ele não fornece o apoio necessário. Procurada pelo G1, a prefeitura respondeu que ele não tem registro e CNPJ (apesar de ele informar o número em sua página no Facebook), e que apoia financeiramente uma ONG denominada “Apata”.
Porém, o idealizador da VidAnimal acusa a outra entidade de abandonar animais na rua após tratá-los. “É um absurdo soltar na rua, para o bicho se acidentar e novamente ir à clínica para ser tratado. O custo é dobrado”, desabafa.
O G1 tentou contato por telefone com a Apata, mas não obteve resposta. Após a publicação da reportagem, a entidade se manifestou por e-mail negando que recebe verbas da prefeitura e que abandona animais nas ruas.
“O que fazemos é incentivar a adoção de cães comunitários – animais que são atendidos e esterilizados pela Apata e depois retornam ao seu ambiente, sendo que as pessoas que pediram o atendimento ficam responsáveis por cuidar desses animais – eles são recebidos e não abandonados”, diz texto assinado pela presidente da ONG, Fernanda Branchine.
Outra bronca de Marques é com os vizinhos, que segundo ele usam fogos de artifício para espantar os animais. “Querem fazer abaixo assinado para eu sair. Nunca vieram até aqui para ver como é e ficam soltando foguetes para os animais ficarem quietos. Pouco tempo atrás, vi um soltar foguete. Os animais se alvoroçam ainda mais”, protesta.
Doutor em psiquiatria não vê sinais de transtorno
Ainda segundo o ex-corretor, vizinhos afirmam que ele sofre do transtorno da acumulação. No entanto, não é o que pensa o psiquiatra Aristides Volpato Cordioli, doutor em transtorno obsessivo compulsivo e estudioso de casos de acumulação, que até pouco tempo eram considerados como TOC na literatura médica.
Segundo ele, se comprometer com o tratamento e a saúde dos animais, buscar meios de obter um lugar mais adequado e aceitar ajuda de veterinários, como Marques afirma fazer, são características de alguém que está sendo solidário, e não de um paciente. “Eu não trataria de antemão como um caso de acumulação”, afirmou o médico.
Cordioli destaca que Marques precisa regular o espaço que tem e o número de animais e evitar reproduções. Fora isso, diz não ver sinais do transtorno e elogia a iniciativa. “Talvez ele prejudique a si próprio, sua vida pessoal e familiar, mas pelas informações que temos, ele faz um trabalho meritório”, afirmou.
Fonte: G1

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