Até agora, sabia-se que apenas mamíferos de pequeno a médio porte auxiliavam na polinização, promovendo a produção e a diversidade floral e estabilizando as cadeias alimentares locais em todo o mundo. No entanto, um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Oxford revelou que os lobos-etíopes — também conhecidos como chacais-vermelhos — podem ser o primeiro mamífero de grande porte a contribuir para a polinização predadora.
De acordo com pesquisadores da Universidade de Oxford, até 87% das espécies de plantas com flores dependem de espécies animais para sua polinização. Elas contam principalmente com a ajuda de insetos como abelhas e borboletas, mas uma surpreendente variedade de mamíferos também atua como polinizadores — incluindo morcegos, roedores, petauros-do-açúcar e mangustos.
Sandra Lai, uma cientista sênior da Universidade de Oxford vinculada ao Programa de Conservação do Lobo-Etíope (EWCP), e seus colegas detalharam suas descobertas em um estudo publicado na revista The Scientific Naturalist. “Os lobos foram observados forrageando por néctar nas flores de Kniphofia foliosa, que depositavam uma quantidade relativamente grande de pólen em seus focinhos, sugerindo que eles poderiam contribuir para a polinização”, escreveu Lai.
Em diversas fotografias tiradas por Carine Lavril e Adrien Lesaffre, é possível ver um lobo-etíope lambendo o pólen em várias flores.
Lai espera que essas novas descobertas inspirem fascínio e aumentem a conscientização sobre esses lobos semelhantes a raposas, cuja população está em declínio.
Devido à fragmentação do habitat e ao aumento da exposição à raiva e à cinomose canina, o lobo-etíope está listado como ameaçado de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Hoje, estima-se que existam menos de 500 indivíduos na natureza.
“Essas descobertas destacam o quanto ainda temos que aprender sobre um dos carnívoros mais ameaçados do mundo. Também demonstram a complexidade das interações entre diferentes espécies que vivem no belo ‘Teto da África'”, disse Lai em um comunicado após a divulgação da pesquisa. “Este ecossistema extremamente único e biodiverso continua ameaçado pela perda e fragmentação de habitat.”
No estudo, os pesquisadores também observaram sinais de aprendizado social, já que lobos jovens foram vistos seguindo seus pais para os campos de flores e experimentando o néctar.
Por enquanto, não está claro como a coleta de néctar impacta diretamente o habitat em uma escala maior, mas os pesquisadores estão otimistas quanto às formas desconhecidas pelas quais os lobos podem beneficiar seu ambiente.
“Estou muito satisfeito por termos relatado agora esse comportamento como sendo comum entre os lobos-etíopes e por termos explorado seu significado ecológico”, declarou Claudio Sillero, fundador do EWCP.