Uma investigação sobre uma proposta de proibição à venda de carne cultivada na Romênia revelou que os principais proponentes da lei possuem fortes conexões com a indústria nacional de carne. Segundo a análise realizada pelo Snoop, uma empresa de mídia romena independente especializada em jornalismo investigativo, os “iniciadores da lei” têm laços estreitos com fazendas de gado industrial e são grandes participantes do mercado de carne do país, controlando vastas extensões de terra.
O projeto de lei, que proíbe a venda de carne cultivada a partir de células animais, foi aprovado por unanimidade no Senado romeno e segue agora para votação na Câmara dos Deputados. Se aprovado, o texto pode impedir o avanço de proteínas alternativas que, segundo especialistas, têm o potencial de reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa (GEEs), superando até o impacto dos veículos elétricos.
Introduzido pelo Partido Social Democrata (PSD) em 2023, o projeto de lei inicialmente buscava garantir a visibilidade da carne produzida nacionalmente, exigindo que fosse disposta separadamente dos cortes importados. No entanto, o documento sofreu alterações, incluindo o Artigo 5, que propõe a proibição completa da comercialização de carne cultivada no país. A justificativa para essa medida inclui alegações controversas sobre o impacto positivo do consumo de carne na fertilidade masculina e na saúde geral, além de defender a proteção das tradições culinárias nacionais.
Enquanto a carne cultivada ainda não é regulamentada na União Europeia (UE), outros países, como a Itália, já proibiram sua comercialização. A Comissão Europeia, sob pressão de agricultores, retirou uma proposta que promovia proteínas alternativas em seu plano de ação climática. Um relatório do Greenpeace UK destaca que essa resistência crescente à carne cultivada é impulsionada por uma forte campanha de lobby, liderada por um ex-executivo da indústria da carne bovina e financiada por interesses pecuários.
Apesar da pressão da indústria da carne, pesquisas indicam que os consumidores europeus estão gradualmente reduzindo o consumo de produtos de origem animal, movidos por preocupações com a saúde, o meio ambiente e o bem-estar animal. Uma sondagem de 2023 revelou que mais de 50% da população do continente está diminuindo a ingestão de carne, o que sugere uma mudança no comportamento alimentar, mesmo diante dos desafios impostos pela legislação e pelo lobby da indústria.